Um terço dos adolescentes já sofreu violência sexual virtual, aponta estudo
Direitos Humanos“É importante acolher a criança ou adolescente sem julgamentos, fazer a denúncia a órgãos especializados e buscar um acompanhamento terapêutico/psicológico”, afirma a coordenadora de advocacy do ChildFund Brasil, Águeda Barreto

Por Lucas Neves
Estudo do ChildFund Brasil revelou que um terço dos adolescentes e jovens ouvidos já sofreu algum tipo de violência sexual online. Publicada em dezembro de 2024, a pesquisa foi realizada com mais de 8 mil estudantes, sendo eles majoritariamente de escolas públicas e das regiões Nordeste e Sudeste do país.
Nomeado como Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, o estudo tem como foco a violência sexual virtual, explorando duas maneiras de violência: sem a interação do agressor e com interação direta. O ChildFund Brasil destaca que os dados coletados servem para alertar os pais sobre os perigos do ambiente virtual, principalmente em períodos de maior exposição, como férias escolares.
Segundo a pesquisa, os adolescentes am, em média, 4 horas por dia interagindo em ambientes on-line, principalmente pelos smartphones. O WhatsApp e o Telegram foram os aplicativos mais utilizados durante os casos de violência sexual, com 55% das interações ocorrendo por meio deles.
Outro dado alarmante é a interação dos adolescentes com desconhecidos. O estudo revelou que 20% dos entrevistados interagiram com um estranho ou suspeito. De acordo com o ChildFund Brasil, os responsáveis possuem papel fundamental no combate a esses crimes. A organização destaca que deve haver diálogo entre os pais e filhos para evitar os casos.
e às vítimas de violência sexual virtual
Os responsáveis devem estar atentos aos sinais que indiquem possíveis agressões sofridas pelos adolescentes, como mudanças de humor, isolamento e outros sinais de sofrimento emocional. Para Águeda Barreto, coordenadora de advocacy do ChildFund Brasil, uma vez que a violência sexual virtual é identificada, é importante que o jovem seja acolhido sem julgamentos.
A coordenadora afirma que é necessário fazer a denúncia a órgãos especializados (como delegacias de crimes cibernéticos, Disque 100, entre outros) e buscar um acompanhamento terapêutico/psicológico. “Especialmente ter uma atenção redobrada com a saúde mental da criança ou do adolescente, uma vez que a violência sexual virtual pode causar impactos significativos nas emoções e na psique, e consequentemente, na qualidade de vida como um todo”, conclui.
O papel do terceiro setor e dos órgãos públicos
O terceiro setor também pode contribuir no combate à violência sexual virtual. Águeda conta que o ChildFund atua globalmente pela proteção de crianças e adolescentes em meios digitais, mediante ações de defesa de direitos, monitoramento de políticas públicas, campanhas, além de implementação de projetos sociais de educação digital. “Também desenvolvemos e oferecemos materiais didáticos como cursos online e cartilhas educativas, através de parcerias governamentais e com organizações”, completa a coordenadora de advocacy da organização.
Fora o trabalho de conscientização dos pais e a atuação de organizações da sociedade civil, como o ChildFund Brasil, Águeda Barreto comenta sobre o papel dos órgãos públicos no combate a este problema. Ela conta que é preciso investir em leis e políticas públicas que protejam as crianças e os adolescentes, além de as ensinar a navegar na internet com segurança.
Águeda destaca que a tecnologia faz parte da nossa vida e tem múltiplos benefícios, mas que também oferece perigos, assim como o mundo real. “A tecnologia evoluiu exponencialmente, mas infelizmente as políticas públicas não acompanharam essa evolução no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes”.
ChildFund Brasil
O ChildFund Brasil é uma organização que atua no desenvolvimento integral e na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, para que tenham seus direitos respeitados e alcancem o seu potencial. A organização faz parte de uma rede internacional associada ao ChildFund International, presente em 23 países.