Um novo “cuidador” – somar, não substituir

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A sociedade civil está diante de mais uma forma de promover soluções para questões sociais e ambientais presentes, tanto em termos das atividades realizadas como da mobilização de recursos para a sua realização.

Até um determinado momento na história da sociedade, o “cuidador” das demandas sociais era o governo, com programas derivados do conceito de wellfare state (estado do bem estar social), a partir dos anos 1930, entre outros. Com a crise do Estado a partir da década de 1980, e o consequente declínio desses programas, o “cuidador” da sociedade civil ou a ser a própria sociedade civil, organizada numa estrutura mais tarde conhecida como terceiro setor.

No Brasil, as primeiras iniciativas da sociedade civil vieram das Santas Casas de Misericórdia, em Santos, que, em linhas muitos gerais foram seguidas por movimentos comunitários e de militância, por cooperativas, pelas primeiras ONGs – organizações não governamentais e sem fins lucrativos –, pela profissionalização dessas ONGs, pelas OSCIPs, por movimentos de responsabilidade social corporativos e pelo empreendedorismo social. Mais recentemente começam a aparecer novos modelos de negócios e novos modelos de investimento.

Parece que estamos ando de “organizações” puramente filantrópicas e assistenciais para “negócios” sociais e de impacto; de organizações apoiadas por doadores e filantropos, para negócios com investidores e acionistas; de trabalhos realizados muitas vezes por voluntários, para trabalhos estruturados de modo formal com equipe contratada. Temas outrora s a organizações da sociedade civil organizada am a atrair recursos e profissionais de multissetores.

Os próprios “negócios” parecem estar ampliando seu papel na sociedade. Dos antigos negócios focados exclusivamente na produção de bens de consumo e geração de emprego e lucro, amos a ver negócios comprometidos a tratar as “feridas” socioambientais, por meio de seus institutos e fundações – fala-se de responsabilidade social corporativa; e mais recentemente começamos a ver negócios que surgem, desde o início, com a intenção clara de evitar novas feridas e promover soluções de grande impacto para as questões socioambientais existentes.

Se as soluções para as atuais demandas sociais e ambientais começam a vir desses novos modelos de negócios, será que podemos dizer que estamos diante de uma nova economia?

Eu arriscaria dizer que sim. Originalmente, pensava-se que a economia em si daria conta das questões sociais, uma vez que dizia respeito à produção e alocação de bens e serviços, e seu consequente impacto no bem-estar material dos povos. Entretanto, esse modelo de economia que tem orientado nossas ações sofreu uma “financerização” ao priorizar, nos negócios, a saúde financeira em detrimento da saúde social e ambiental; mostrou-se assim incapaz de garantir por si só nosso “bem estar”.

Arriscaria ainda dizer – pelo menos – que estamos diante de uma “resignificação” da economia. Diante de novos modelos econômicos – economia sustentável, economia verde, economia circular –, de novos modelos de negócios – negócios sociais, negócios híbridos, negócios de impacto, empresas B (beneficial corporation) – e de novas formas de mobilização de capital – investimento social, investimento de impacto.

Importante destacar que esse novo modelo de negócio, que pode ser visto como um novo “cuidador” das feridas sociais, não substituirá o terceiro setor. Não se trata aqui de afirmar que esses novos negócios sejam uma opção melhor do que as outras, mas que elas se somam na busca por soluções de maior impacto para a sociedade. Como já foi dito, trata-se aqui mais de somar do que de substituir.

Valdir Cimino

É publicitário e trabalhou em agências de renome, como McCann Erickson e ALMAP.  Pós-graduado em Tecnologia de Ensino e Mestre em Ciências da Saúde, preside a Associação Viva e Deixe Viver. É sócio-diretor da Cimino Eventos e Treinamentos e professor da Faculdade de Comunicação e Marketing da Fundação Armando Álvares Penteado (SP). Produz e apresenta os programas Humanização em Saúde e Tekobé (medicina da adolescência), veiculados pela Conexão Médica Educação Social à Distância. Participou da equipe responsável pelo lançamento da primeira tv segmentada no Brasil, a MTV.

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