Seria a responsabilidade social um desafio cultural?

Cultura de Doação
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Imagem: Adobe Stock.

Por Alain S. Levin

A responsabilidade social é um dos temas mais discutidos no âmbito do desenvolvimento humano e organizacional. No entanto, no Brasil, ela representa um problema profundamente enraizado em nossa cultura e tem na educação seu principal e mais deficiente pilar. Enquanto celebramos avanços pontuais em algumas áreas, precisamos reconhecer que nos falta algo essencial: o exercício pleno da empatia e da cidadania comunitária.

Vivemos em uma sociedade em que o individualismo e a busca por interesses próprios frequentemente se sobrepõem ao bem coletivo. A ideia de contribuir para o bem-estar da comunidade ainda é vista como uma responsabilidade externa, relegada ao setor público ou às empresas. No entanto, já ou da hora de mudarmos nossos padrões de comportamento individual. Cada um de nós pode e deve fazer a sua parte, por menor que seja.

O grande obstáculo para um maior engajamento social tem sido a forma como a responsabilidade social é percebida: um tema distante, complexo e reservado para especialistas. Essa visão elitizada e tecnocrática afasta as pessoas comuns, que acabam por rotular o assunto como “chato” ou irrelevante para suas rotinas. Contudo, é exatamente no cotidiano que as maiores transformações podem ocorrer.

Se a responsabilidade social é o nosso objetivo, a educação e a cidadania são nossos desafios. O da educação vai muito além do ensino formal – ela está no exemplo que damos em casa, no trabalho, nas redes sociais e em cada interação. Como podemos esperar empatia de uma geração que aprende a priorizar o sucesso individual sobre o impacto coletivo? Como formar cidadãos engajados se nós mesmos tratamos a responsabilidade social como uma pauta periférica?

Um ponto provocativo dessa discussão é o papel do dinheiro na filantropia. A filantropia, por definição, deveria ser um ato voluntário de amor ao próximo. No entanto, o dinheiro frequentemente sequestra esse propósito, transformando a filantropia em um instrumento de poder ou reputação. Embora seja inegável que recursos financeiros são essenciais para viabilizar projetos sociais, não podemos esquecer que o engajamento não depende apenas de grandes doações. Pequenos gestos, como o voluntariado, ou a ajuda a um vizinho, também são formas potentes de transformação social.

Outro ponto crucial é que nossa responsabilidade deve ser proporcional aos nossos próprios privilégios. Quem teve o a uma boa educação, saúde de qualidade e oportunidades de crescimento tem o dever moral de devolver algo à sociedade. Esse compromisso não é uma punição pelos nossos privilégios, mas uma maneira de redistribuir oportunidades e reduzir desigualdades.

Evoluir culturalmente é o maior desafio. Isso requer uma profunda revisão de valores, tanto individuais quanto coletivos. Começa por pararmos de terceirizar a responsabilidade e armos a enxergar o impacto que cada escolha pode ter. Da forma como consumimos às causas que apoiamos, ando pelo modo como nos posicionamos em relação aos grandes problemas sociais, tudo é um reflexo de nossa cultura cidadã.

A responsabilidade social não é apenas uma pauta institucional. É um convite a mudarmos o mundo a partir do lugar em que estamos. Empatia, educação e ação são as ferramentas para essa transformação. E ela começa agora, com cada um de nós. O mundo carece de protagonismo…

 

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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Sobre o autor: Fundador e CEO da Motivare e autor do livro “Marketing sem blá blá blá: inspirações para a transformação cultural na era do propósito”.


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