Ron Stallworth: o policial negro que se infiltrou na Ku Klux Klan
Primeiro policial negro da cidade de Colorado Springs e o mais jovem de sua equipe, Stallworth conseguiu se infiltrar no maior grupo de supremacistas brancos dos Estados Unidos para investigá-lo

Por: Isabela Alves
Ron Stallworth nasceu em 18 de junho de 1953. Ele foi o primeiro policial negro na cidade norte-americana de Colorado Springs e também foi responsável por uma das investigações mais curiosas de todos os tempos: ele conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan, o maior grupo de supremacistas brancos dos Estados Unidos, grupo este que realizou diversas atrocidades contra negros, judeus, imigrantes e homossexuais.
Apesar da discriminação da polícia com os negros, Stallworth sempre teve o sonho de se tornar policial. Ele ou um ano trabalhando no Departamento de Polícia e logo ou a ser parte da unidade de inteligência da polícia, mesmo sendo o mais jovem de todos os seus colegas.
Seu primeiro caso foi monitorar uma palestra de Stokely Carmichael, ativista negro do Movimento dos Direitos Civis que era associado ao Partido dos Panteras Negras – organização nacionalista negra que denunciava os abusos da polícia. Na ocasião, o detetive ficou reflexivo por ser um homem negro e por também fazer parte da polícia.
Em novembro de 1978, aos 25 anos, ele leu um anúncio da Ku Klux Klan no jornal. Ele então enviou uma carta para a KKK dizendo que era um homem branco que “odiava o que estava acontecendo no país” e que acreditava na raça branca e pura. Ele acabou assinando a carta com o seu nome verdadeiro.
Na semana seguinte, ele recebeu um telefonema de um dos organizadores locais da Ku Klux Klan pedindo que houvesse um encontro presencial. O detetive contou com a ajuda de Chuck (nome fictício usado para proteger a identidade do colega policial), que foi ao encontro do grupo com um microfone preso em sua camisa para capturar todas as conversas dos membros. Enquanto isso, Stallworth escutava os seus planos dentro de um carro estacionado próximo ao local.
Na investigação, que durou nove meses, Stallworth e Chuck descobriram que a organização estava preparando uma “guerra racial” com armas automáticas e também planejava colocar bombas em dois bares LGBT. Os policiais informaram a movimentação do grupo ao FBI e à polícia federal americana.
Mesmo dando o seu nome verdadeiro para a KKK, a organização não descobriu que o detetive era negro e ainda o presenteou com uma carteira de filiação.
Stallworth chegou a conversar por telefone com David Duke, o líder nacional da organização na época, que afirmou que era capaz de reconhecer um negro apenas pelo telefone, porque eles falavam diferente. Duke não desconfiou que Stallworth era negro.
Em 1979, eles se encontraram pessoalmente, porque os chefes de Stallworth o designaram para ser guarda-costas de Duke em uma visita que ele faria a Colorado Springs. Duke continuou sem descobrir a verdade sobre o policial.
Após a investigação sobre a KKK ser fechada, Stallworth manteve tudo em segredo e não contou a ninguém sobre seu disfarce. Ele foi transferido para o departamento de segurança pública de Utah, onde trabalhou como investigador por 20 anos, até se aposentar em 2005.
Em 2014, ele publicou o livro ‘Black Klansman’, que relatava sua experiência como investigador. Em 2018, o diretor Spike Lee lançou o filme ‘Infiltrados na Klan’, com John David Washington e Adam Driver no elenco, e que acrescenta alguns elementos ficcionais à história. O filme foi indicado a oito Oscars, vencendo o de Melhor Roteiro Original.
Fontes: BBC Brasil, Veja e Vanity Fair.