Reinserção social por meio do trabalho é destaque no debate sobre consumo de drogas, realizado pelo Observatório do Terceiro Setor, na rádio Trianon AM

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O Observatório do Terceiro Setor, transmitido nesta terça-feira, 20, pela rádio Trianon AM, falou sobre as drogas, suas implicações e algumas iniciativas que têm como propósito reinserir usuários e ex-usuários na sociedade. O programa contou com a participação do secretário adjunto da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura de São Paulo, José Sanches, e do diretor da Fundação Porta Aberta, que atua na reinserção social de usuários e ex-usuários de drogas por meio da capacitação profissional, Álvaro Spínola.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, 370 mil pessoas são viciadas em crack, também chamado de pedra, somente nas capitais brasileiras, onde surgem os pontos de consumo da droga, apelidadas de “cracolândias”. Para o secretário, é possível acabar com as cracolândias, embora não seja uma tarefa simples. Uma das iniciativas que tem esse intuito é o programa De Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, que teve início no dia 15 de Janeiro deste ano, um período, segundo ele, relativamente curto, mas que já deu os importantes, “com diminuição grande dos usuários, reorganização do território – não há mais moradores de rua, estão alojados em 8 hotéis da cidade, em condições melhores”.

De Braços Abertos oferece ao usuário auxilio alimentação, moradia e uma ajuda de custo de 15 reais por dia. Para receber o benefício, no entanto, ele tem de participar de um de esforço de capacitação profissional e de uma frente de trabalho. Entre as principais atividades estão a varrição e a fábrica verde – curso de jardinagem. A participação no programa, de acordo com Sanches, é voluntaria e no início houve grande adesão. Os que não aderiram foram acolhidos nos hotéis, alguns voltaram para as famílias. “Sentimos que o programa esta tendo um sucesso. É uma experiência nova para nós também. Já houve uma avaliação inicial da Secretaria da Saúde que apontou uma redução expressiva do consumo de drogas que chegou a aproximadamente a 70%”, ressaltou. São Paulo tem 17 mil pessoas em situação de rua, de acordo com Sanches. O projeto atende 400 pessoas, jovens entre 20 e 30 anos, dos quais pouco mais de 60% são do sexo masculino e quase 40% integram o sexo feminino.

Diretor da Fundação Porta Aberta, Spínola, acredita que o trabalho, “um instrumento poderoso de reinserção social”, é uma das maneiras de recuperação de usuários e ex-usuários. “O trabalho a a ser terapêutico e a reinserção social pode fazer com que essa doença crônica possa ser controlada assim como a diabetes, a pressão alta”. O problema da droga, pontuou, é um problema de saúde pública, “até pela abrangência do número de pessoas que atingiu principalmente nas grandes metrópoles”

Spínola lembrou que a iniciativa da Portas Abertas é parecida com o projeto da prefeitura, já que também atua “envolvendo o usuários e ex- usuários no processo de acolhimento, e dando a eles a chance de ser capacitado em alguma profissão.”

A questão do preconceito em relação aos usuários também foi levantada e para Spínola ele tem origem na falta de informação. “O principal vilão é [a falta] de entendimento de que a dependência química é uma doença que não tem cura e que alguns indivíduos já nascem com a predisposição, e isso não é um problema social é um problema médico”. Ele destacou que dependentes de drogas lícitas como o álcool, por exemplo, não sofrem tanto preconceito quanto um dependente de drogas ilícitas. Spínola fez ainda um apelo  aos governantes para que “combatam as drogas com o traficante”.

Os convidados comentaram ainda sobre a última ação da prefeitura de São Paulo, que instalou cercas de metal para isolar usuários de crack do restante da população. A medida, segundo o secretário, “foi tomada para preservar o espaço público de um resíduo do chamado fluxo”. Esses fluxos, acrescentou, “são os remanescentes dos usuários de drogas em via publica”. As cercas foram retiradas. Spínola ponderou que a prefeitura faz “esforços incríveis” para tentar resolver as dificuldades que os usuários convivendo com pessoas que não usuárias de drogas.