Projeto Descarte4Good promove sustentabilidade e inclusão digital
Iniciativa das empresas Laureate e ReUrbi – Recicladora Urbana, o projeto Descarte4Good garante o descarte correto de equipamentos eletrônicos enquanto colabora com diversos projetos sociais

Por: Mariana Lima
Uma parceria entre a Laureate Brasil, rede global de instituições de ensino superior, e a ReUrbi – Recicladora Urbana, que oferece soluções de logística reversa no descarte de equipamentos eletrônicos de TI e Telecomunicações, vem construindo uma cadeia de impacto social pelo Brasil.
Por meio da iniciativa Descarte4Good, ambas as empresas B – que têm como modelo de negócio o desenvolvimento social e ambiental – conseguem garantir o descarte correto de equipamentos enquanto fortalecem projetos de inclusão digital.
A parceria, que está sendo realizada pelo terceiro ano consecutivo, surgiu a partir da necessidade da rede Laureate em realizar o descarte de equipamentos em desuso em conformidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – um dos focos do trabalho da ReUrbi, que promove a economia circular.
Para o diretor geral da ReUrbi, Ronaldo Stabile, a atuação em rede se mostra fundamental para as Empresas B conseguirem gerar impacto social por meio da sustentabilidade.
“’Não queremos ser as maiores empresas do mundo, mas as melhores para o mundo’. Empresas que não estão só preocupadas em gerar lucro, mas com o impacto de seus negócios no meio ambiente e na sociedade. Parcerias como essa podem, de fato, fazer a diferença para um novo modelo de economia cooperativa”, afirma.
Desde 2013, a ReUrbi recondiciona os materiais dos descartes eletrônicos de empresas para a sua linha de computadores seminovos, a Remakker. Esses equipamentos são vendidos a um preço 40% menor em comparação ao mercado para organizações do Terceiro Setor e, através da política de comodato, são destinados a projetos sociais de escolha das empresas ou da própria Recicladora. No final, os projetos só precisam devolver os equipamentos quando estiverem em desuso para manter o ciclo proposto.
No caso do programa Descarte4Good, em vez de descartes pontuais, a Laureate criou uma política interna para recolhimento e encaminhamento de forma contínua dos equipamentos eletrônicos das 12 instituições de ensino superior de sua rede. Apenas em 2019, quando o projeto teve início, 178 equipamentos foram destinados a 19 projetos sociais.
Stabile argumenta que o Descarte4Good é um exemplo de como o Terceiro Setor pode crescer ao buscar a sustentabilidade econômica pela perspectiva social.
“Sem sustentabilidade econômica nenhum setor consegue se manter de pé em qualquer modelo político, econômico e social. O Terceiro Setor é o braço social da sustentabilidade em qualquer segmento de atividade. Depender de verbas do Estado, de doações ou de incentivos fiscais não permite que este modelo se sustente”.
E completa: “um projeto como esse mostra que não é só o propósito ou a certificação que fazem a diferença no desenvolvimento social do país. Ações nesta linha mostram que é sim possível fazer negócios com impacto positivo no meio ambiente e no social sem abrir mão do lucro. O tripé da sustentabilidade funcionando de fato”, pontua.
Projetos apoiados
Para a professora Clarice Spencer, de 39 anos, sócio fundadora e atual presidente do Instituto Metropolitano de Profissionalização, Arte, Cultura e Oportunidades (ONG IMPACTO), a doação de computadores da linha Remakker, por meio do Descarte4Good, foi essencial para o fortalecimento dos trabalhos.
“Possibilitou a montagem do nosso laboratório de informática, que vem sendo fundamental neste momento de pandemia. Com o o aos computadores, conseguimos manter os atendimentos e adaptamos os conteúdos das reuniões, formações e oficinas para o online, que registram uma grande participação dos atendidos”, conta.

A ONG IMPACTO atua desde 2011 na Região Metropolitana de Recife, em Pernambuco, na promoção dos direitos de crianças e adolescentes, além de prestar serviços de assistência social e atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade.
Com projetos voltados para jovens, adultos e idosos carentes, Clarice argumenta que manter a relação, mesmo que a distância, é fundamental para evitar a fragilização da ligação com a ONG.
“A vulnerabilidade, a fome e a pobreza aumentaram, mas as políticas públicas não. Estamos atuando para minimizar esses processos, com doações de cestas básicas, kits de higiene e limpeza, máscaras e álcool em gel. E só podemos garantir que chegue até as famílias se houver o acompanhamento”, destaca.
Além disso, ela aponta que a pandemia também está influenciando no desenvolvimento socioeducativo dos jovens, que com as escolas fechadas ficam sem o e do grupo identitário.
Para contornar esses efeitos e estimular a capacidade criativa e o pensamento crítico, a organização vem intensificando seus projetos online para fortalecer a progressão e a interação entre eles.
“E isso já vem nos dando resultados gratificantes. Um dos adolescentes, por exemplo, aproveitou a proposta de uma atividade online e criou um vídeo para o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes [18 de maio]. E esse material foi compartilhado nas redes da prefeitura. Olha onde eles conseguem chegar quando incentivados”, argumenta Clarice.

Atualmente, o espaço do IMPACTO continua aberto, sendo possível agendar o uso do laboratório de informática para os usuários dos projetos ou pessoas da comunidade. Ao ver os projetos serem bem-sucedidos no formato online ou semipresenciais, dependendo da necessidade dos atendidos, Clarice percebe a relevância da ONG.
“Enquanto para boa parte da sociedade foi o momento de parar [na pandemia], pra gente que é do Terceiro Setor foi o momento em que mais trabalhamos. E não tem como diminuir o ritmo porque a vulnerabilidade vai aumentando”, desabafa.
Stabile observa no trabalho de organizações como o IMPACTO a importância de se atuar sem ignorar o papel social.
“Colaborar com essas iniciativas nos fez aprender que a inclusão social através da inclusão digital pode alcançar objetivos não só na educação e empregabilidade, mas dar o a todo tipo de serviço às comunidades que o Estado e a sociedade oferecem, um modelo de empoderamento digital e exercício da cidadania”, afirma.
Outro projeto que conseguiu ampliar seu alcance através da doação dos equipamentos foi o Centro da Criança e Adolescente (CCA) Santa Teresa de Jesus da Província Carmelitana de Santo Elias, entidade com atuação no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais.
O CCA atende crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil ou que foram submetidos a outras violações de direitos na região de São Paulo. Desta forma, o Centro busca fomentar experiências aliadas ao desenvolvimento da sociabilidade dos seus atendidos e prevenir situações de risco social e pessoal conforme a Política da Assistência Social (PNAS).
Antes da chegada dos equipamentos da linha Remakker, o projeto tinha apenas três computadores quebrados. Com o apoio do Descarte4Good, foi possível estruturar um espaço de informática no local.
“Foi um grande impacto tecnológico para todos, pois muitas crianças e adolescentes inseridos no serviço não tinham o a computadores. Hoje, eles já fazem os seus próprios currículos e sabem manusear o Excel básico”, aponta a assistente social Cristiana Andrade Correia, que atua há dois anos como Gerente de Serviços no CCA.
Dados do IBGE, divulgados em 2020, revelam que, até 2018, 45,9 milhões de brasileiros ainda não tinham o à internet. Isso representa 25,3% da população com 10 anos ou mais de idade.
As atividades propostas pelo projeto, que atende crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, são focadas na construção de um espaço de convivência com base nos interesses, demandas e potencialidades do grupo. Na pandemia, o Centro vem enfrentando alguns obstáculos para conseguir alcançar os atendidos no formato online.
“Estamos atendendo 42 crianças e adolescentes, divididos em dois turnos, com rotinas de atividades periódicas. Nossa maior dificuldade são as atividades online, pois muitos não têm o à internet ou não possuem um aparelho de celular para assistirem aos conteúdos digitais. A nossa frequência acaba sendo baixa”, revela.
Buscando diminuir alguns dos impactos mais duros da pandemia, como a fome, e reforçar os cuidados com a saúde mental, o CCA vem mantendo atividades online em grupo com os atendidos.
“A pandemia trouxe muitos impactos, como a ausência da renda e o aumento do desemprego, junto com as discriminações, desigualdades sociais, pobreza e exclusão que originam a desproteção social. Tentamos amenizar isso com a doação de cestas básicas e rodas de conversas online sobre saúde mental. Ajuda no momento, mas são problemas permanentes para pessoas vulneráveis”, aponta.
*
Este conteúdo foi produzido por meio de uma parceria entre o Observatório do Terceiro Setor e a ReUrbi – Recicladora Urbana.
26/08/2021 @ 10:21
[…] meio da política de comodato, os projetos que recebem os equipamentos doados – proporcionais ao valor do descarte realizado – precisam apenas devolvê-los à ReUrbi […]
11/02/2023 @ 11:40
Muito bacana esse projeto.
Por acaso vocês conhecem algo similar no Rio de Janeiro e em especial no município de São Gonçalo?
Estava procurando uma ong que trabalhe com adolescentes através de oficina de computadores e celulares.
Obrigada