Por mais mulheres líderes no terceiro setor: como podemos acelerar?
Impacto das ONGs
Por Fernanda Vieira
As desigualdades de gênero persistem em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Temos observado avanços, porém, ainda lentos. No mercado de trabalho como um todo, por exemplo, além de ganharem menos que os homens ocupando os mesmos cargos, mulheres ainda têm baixa representatividade em cargos de diretoria e gerência. Segundo a pesquisadora Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), menos mulheres líderes significa, também, que apenas 36,6% delas estão no topo da distribuição de rendimentos por hora trabalhada.
No terceiro setor, apesar de mulheres ocuparem 65% dos postos de trabalho em organizações sociais, de acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e, apesar de várias dessas organizações terem sido fundadas por mulheres e serem presididas por elas, os homens ainda são maioria em conselhos de entidades de investimento social privado (66%), segundo o Censo 2022-23 do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas). Números são essenciais. Só podemos melhorar o que conhecemos.
Mas o que fazer, então, a partir dessa realidade já comprovada? Estar presente em todos os fóruns possíveis por mais conscientização da sociedade, divulgando o trabalho e os resultados de nossas instituições e mostrando a força do feminino, é essencial. Firmar parcerias com outras organizações lideradas por mulheres, para mais visibilidade e impacto social, é importantíssimo. Unir esforços para provocar políticas públicas, que nos ajudem a alcançar a meta da Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ODS 5 – Igualdade de Gênero, é fundamental.
Internamente, podemos e devemos agir orientadas pela mesma meta. Se líderes (homens e mulheres) precisam de profissionais mais capacitados para cargos mais altos, que tal apostar no desejo de ascensão das mulheres que já compõem a equipe? Essa é uma atitude que valoriza a “prata da casa” e a uma mensagem de perspectiva profissional para toda a organização. Mulheres realmente comprometidas com a sua carreira podem não ter tido a oportunidade de se qualificar mais, até então, por diversos motivos como a maternidade, a falta de um companheiro para dividir responsabilidades, poder aquisitivo baixo, por serem negras e periféricas e estarem sempre em prejuízo, inclusive em relação às mulheres brancas… Elas podem ser talentos que precisam apenas de um encorajamento da chefia.
Parece desnecessário tocar nesse ponto, mas o terceiro setor não está livre de práticas de recursos humanos, digamos, pouco justas com suas equipes, como é comum vermos em empresas privadas. Também podemos usar nossa maior visibilidade como líderes para mostrar às outras mulheres que nosso dia a dia é tão desafiador como o de qualquer outra mulher que vive em sociedades com um patriarcado ainda tão presente, como a nossa, e que todas podem ambicionar chegar a posições de destaque, se houver empenho.
Temos que superar medos e inseguranças, além de equilibrar muitos pratinhos, ainda mais num mundo em constante transformação que demanda aperfeiçoamento permanente. Assumir vulnerabilidades, aliás, é uma das marcas de bons líderes e, sem dúvida, mais presente entre as mulheres, que, em geral, não encaram o que é próprio do humano como fraqueza e perda de autoridade.
Outras habilidades bastante femininas são valiosas nas diretorias e gerências e certamente influenciam na trajetória bem-sucedida das organizações, como empatia e sensibilidade, capacidade de construir e manter relacionamentos mais sólidos, resiliência e maior capacidade de escuta – o que potencializa ações criativas e inovadoras com participação mais democrática.
No INCAvoluntário, área social do Instituto Nacional de Câncer, a força de trabalho é predominantemente feminina. Elas correspondem a 71% da equipe e ocupam 46% das posições de coordenação e supervisão -, além de serem maioria no voluntariado, com 82%. Como regente dessa orquestra, posso atestar como a combinação de conhecimento técnico, firmeza e flexibilidade é um motor potente para avançar com consistência e bons resultados. Vamos crescer juntas?
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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Sobre a autora: Fernanda Vieira é gerente-geral do INCAvoluntário, área social do Instituto Nacional de Câncer. É jornalista por formação, especialista em Comunicação e Marketing e membro da Rede Conexão Captadoras (rede feminina de ação colaborativa entre mulheres captadoras de recursos) e da ABCR, Associação Brasileira de Captadores de Recursos.