Pesquisas melhoram decisões e eficácia das ações de organizações sociais
Dados atualizados ajudam na tomada de decisão e no aumento da eficiência das iniciativas
Por Fábio Tsunoda
As pesquisas podem ser importantes aliadas de institutos, fundações e empresas no aperfeiçoamento de suas ações sociais.
Produzi-las internamente, nas próprias organizações, ou com o auxílio de consultorias externas, pode atender a pelo menos dois propósitos: disseminação de conhecimento e geração de evidências empíricas úteis para as tomadas de decisão.
A difusão do conhecimento científico, a partir do uso de métodos e de parâmetros que vão além do senso comum, é algo fundamental para se conhecer melhor a sociedade e a realidade em que se vive.
Além disso, toda instituição precisa tomar decisões e priorizar o investimento financeiro que faz e, por isso, realizar pesquisas para produzir tais evidências pode levar a uma melhor eficácia das ações, à antecipação de cenários e desafios e à estimativa com mais segurança dos resultados que se pretende alcançar.
Quando o assunto são as intervenções do Terceiro Setor no nível territorial, em uma região bem específica, a necessidade de se conhecer o lugar de forma adequada, por meio de diagnósticos, é igualmente importante.
A dinâmica existente nesse nível de intervenção torna necessário analisar criticamente o quanto os indicadores tradicionais e governamentais, como os do IBGE, atendem de fato às necessidades de diagnóstico que estão colocadas e em que medida é preciso criar outros indicadores mais aderentes, que trarão mais elementos e detalhes da realidade no tempo e no espaço.
Adicionalmente, existe o desafio de manter esse diagnóstico sempre atualizado, pois a agilidade com a qual as mudanças ocorrem no nível territorial todos os dias impõe aos planejadores das organizações sociais observar o cotidiano em espaços de tempo menores.
Na Fundação Tide Setubal, que tem ações a serem realizadas em diferentes áreas temáticas e com foco no desenvolvimento do Jardim Lapena, bairro na Zona Leste da capital paulista, foi realizado um diagnóstico amplo do bairro em 2020. O objetivo foi que ele pudesse dar melhores subsídios para o planejamento das ações a serem executadas daqui para frente.
Para pôr em prática iniciativas de o a crédito, empregabilidade e geração de renda, por exemplo, era necessário à Fundação saber melhor da realidade local, ou seja, que 25% dos moradores do Lapena estão desempregados, enquanto outros 22% também não têm trabalhos remunerados, que quase metade das pessoas com alguma dívida possui 25% de sua renda familiar comprometida com parcelas, que pouco menos de 25% dos endividados compromete acima de 50% de sua renda com pagamentos e, finalmente, que 91% dos moradores nunca pediu empréstimo.
Para avançar em saneamento básico, outra questão importante, era essencial saber que, enquanto 90% dos domicílios estão conectados à rede de água, em 44% falta água todos os dias, e que 11% dos moradores mencionaram que a água possui cor ou sabor.
Já em habitação, outro grande desafio no Lapena, o diagnóstico mostrou que metade das pessoas que pagam aluguel ou prestações está pagando acima de 30% de sua renda familiar. Todos esses números trazem a realidade atual do bairro e dão um norte para as iniciativas de melhoria que podem ser desenvolvidas ali.
É sabido que estudos, pesquisas e diagnósticos exigem das entidades sociais certo investimento de recursos, mas os retornos deles podem ser muito estratégicos e fundamentais para o refinamento e o aprimoramento do trabalho executado.
Por isso, é essencial as organizações do Terceiro Setor considerarem os estudos em seus orçamentos e planejamentos anuais. Ficam aqui, portanto, a reflexão, a provocação e o convite para a realização de mais pesquisas.
*
Sobre o autor:
Fábio Tsunoda é coordenador de pesquisa e conhecimento da Fundação Tide Setubal. Sociólogo, é mestre e doutorando em sociologia pela USP e graduado em Ciências Sociais pela UNESP. Atuou como pesquisador em institutos de pesquisa privados e centros de pesquisa acadêmica.