Panorama do Voluntariado no Terceiro Setor

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“O capital social é o conjunto de práticas sociais, normas e relações de confiança que existe entre cidadãos de uma dada sociedade. Quanto maior a capacidade dos cidadãos de confiarem uns nos outros, maior o volume de capital social.” Robert Putnam

Certamente, esse é um dos valores principais da atuação do terceiro setor: promover uma sociedade civil ativa e participativa, que se mobiliza pelo interesse público e proporciona melhores serviços à comunidade. Com isso, consequentemente, temos pessoas mais engajadas e interessadas pela sua comunidade, pela sua cidade, pelo seu país e pelos cuidados e atenção com o planeta. Temos mais capital social!

Sabemos que o terceiro setor tem o desafio diário da demanda de recursos e as dificuldades contínuas da qualidade e ampliação de atendimentos, gestão, entre outros. Trazer a força e o engajamento de voluntários para a sua estrutura certamente faz a diferença. Voluntariado é mobilizar, engajar, motivar, inspirar capital social para o bem comum.

O desenvolvimento do terceiro setor é destaque em todas as sociedades, força econômica, crescimento do emprego e geração de renda com a oferta de bens e serviços.

É fundamental também destacar o terceiro setor como esse espaço e oportunidade para a prática do voluntariado. Segundo as pesquisas do IBGE, 91% de quem faz trabalho voluntariado no Brasil atua em organizações da sociedade civil.

Quando observamos a reflexão de Robert Putnam  de capital social, compreendemos a importância da palavra confiança! É ela, a confiança, que traz o incentivo positivo para o engajamento cívico de todos em ações coletivas. Cívico de cidadão! Pessoa que age consciente e responsavelmente dentro da sociedade.  Voluntariado no terceiro setor é resposta a uma atitude de confiança mútua!

Como, em um mundo de desconfiança e de desconfiados, promover esse engajamento solidário e cidadão?

Como trazer, de forma eficiente e comprometida, voluntários para o terceiro setor e para dentro das organizações da sociedade civil?

Como não só atrair esse capital social, mas manter esses talentos mobilizados e ativos?

E ainda: como promover o voluntariado se ainda dentro do terceiro setor e dentro das organizações da sociedade civil existem grandes questões para serem trabalhadas? São elas: a escassez de recursos financeiros, materiais e humanos, a resistência à profissionalização no gerenciamento de voluntários e o estabelecimento de uma cultura do voluntariado ativo, contínuo e transformador.

Nas últimas décadas, o crescimento do 3º setor brasileiro trouxe junto a ampliação dos programas de voluntariado, mas para que seja genuíno e gere bons resultados e transformações, tanto para quem recebe como para quem realiza, existe a necessidade de profissionalização da gestão do trabalho voluntário. Tarefa que exige muita disciplina, aprendizagem dos líderes das organizações da sociedade civil e um ambiente acolhedor.

Deixo aqui algumas sugestões e inspirações para mais sucesso e bons resultados nos programas de voluntariado:

  • Comprometimento de todos os envolvidos, em ambiente de confiança e transparência: todos precisam estar conscientes de seus deveres e responsabilidades; muito bem informados sobre causa, propósito, missão e valores da organização. Precisam ter conhecimento da atividade a ser realizada, tempo a ser doado e qualificações necessárias para atuar. Devem ser informados sobre resultados e ser reconhecidos pelas metas alcançadas. Com certeza, ouvidos e verdadeiramente envolvidos com a promoção do bem-estar de todos.
  • Presença de um líder inspirador: programas de voluntariado precisam de alguém que lidere, forme equipes de voluntários responsáveis e empoderados. Que tenha uma comunicação assertiva, mas que tenha afeto e respeito por todos. Que promova a confiança entre todos os envolvidos: voluntários, beneficiados, equipe técnica, organizando um programa que atende as expectativas de impacto e transformação pessoal, dos voluntários, e da organização.
  • Criatividade e clareza nas oportunidades de ações: as atividades oferecidas para quem quer ser voluntário devem ser  coerentes com as reais demandas da organização, devem ser claras e objetivas sobre o que fazer, talentos e habilidades necessários, resultados esperados. Quantificar, avaliar, compartilhar resultados alcançados.
  • Formação e aprendizagem contínuos: voluntariado implica capacitação, conhecimento, planejamento e sintonia. Orientação sobre aspectos jurídicos, contábeis, código de conduta, regimento interno, características do público, sobre a causa. Formação das equipes e treinamentos específicos da atividade a ser realizada.
  • Promoção de bem-estar e alegria: voluntariado é sobre fazer o bem e ganhar em troca bem-estar e satisfação. Tem que haver um encantamento, um brilho no olho.

O voluntário é agente de mudanças, de transformações, de promoção da solidariedade e da cidadania. O voluntariado cria a confiança e o capital social preciosos para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e sustentável.

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Silvia Naccache

Palestrante e consultora nas áreas de Voluntariado, Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável e Terceiro Setor. Conselheira voluntária da ABRAPS, Associação Vaga Lume e TJCC. Representante no Brasil da organização Impact2030, além de membra organizadora do Grupo de Estudos de Voluntariado Empresarial desde 2009. Coordenou por 14 anos o Centro de Voluntariado de São Paulo. Linkedin

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