ONGs educacionais têm papel fundamental para reabertura segura das escolas

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Neste artigo, Edmond Sakai, da ONG Aldeias Infantis SOS Brasil, fala sobre o dilema da volta às aulas antes do fim da pandemia e como organizações do Terceiro Setor podem ajudar escolas

Imagem: Unsplash

Por Edmond Sakai

A pandemia se aproxima de seu primeiro aniversário e, embora haja a esperança de vencer o coronavírus com o avanço da vacinação, a situação ainda é muito grave. No Brasil, estamos em meio a uma segunda onda com índices de contaminação, internações hospitalares e mortes extremamente altos. Ao que parece, variantes mais transmissíveis e perigosas do vírus já circulam por diversos estados, como o Amazonas, que vive situação dramática.

Os impactos econômicos e as consequências sociais da pandemia são igualmente imensos. Vemos, por exemplo, uma grande ameaça à segurança alimentar dos brasileiros mais pobres, e aumento das desigualdades exacerbadas pela COVID. A desigualdade também é um componente central de um dos aspectos da pandemia que está gerando debates acalorados nos últimos dias: a volta das aulas presenciais nas escolas.

A retomada das atividades escolares para as crianças e adolescentes que aram praticamente todo o ano letivo afastados das salas de aula em 2020 é um debate complexo e que está ocorrendo em todo o mundo. Os prejuízos de um ano ou mais longe das escolas para os estudantes é de fato enorme, e não há soluções fáceis para este dilema. A educação à distância sem dúvida veio para ficar no ensino superior, na pós-graduação e em cursos técnicos, mas fica muito mais difícil no ensino básico, em que os alunos estão em fase de desenvolvimento, inclusive das habilidades sociais e de convivência. No ensino infantil, além de desenvolver habilidades e inteligências fundamentais das crianças num período crucial da vida, a escola também age como ator social, aliviando a carga, principalmente das mães que trabalham, no cuidado dos filhos.

Nesse momento, em que se discute não apenas sobre reabrir ou não as escolas, mas principalmente como fazer a reabertura – que é inevitável – de forma o mais segura possível, as ONGs que atuam com educação e cuidado com as crianças vulneráveis também possuem um importante papel de apoio aos educadores, gestores escolares e o poder público. Muito já foi feito pelas organizações no ano que ou, para, por exemplo, garantir o o de todos os alunos aos conteúdos oferecidos digitalmente. A Gerando Falcões, uma entidade fantástica cujo trabalho tenho acompanhado, organizou o projeto “Corona do Paredão: Doe um Futuro”, que arrecadou doações para oferecer “bolsas digitais” e garantir o o de estudantes de baixa renda à internet durante a pandemia.

Apoio a alunos e professores será fundamental na retomada

Agora, os desafios incluem, entre outros, a evasão escolar e a busca ativa pelos alunos que abandonaram os estudos em 2020, e um acompanhamento para que eles recuperem o tempo perdido e alcancem os colegas que não interromperam o aprendizado. Reforço escolar, acompanhamento psicopedagógico e, nos casos dos alunos mais vulneráveis, um trabalho junto às famílias, inclusive com doação de recursos, é muito importante. O acolhimento humanizado aos alunos na volta, entendendo os prejuízos psicológicos e emocionais do ano atípico que ou, também é fundamental e as ONGs podem ajudar muito.

As grandes desigualdades sociais que temos no Brasil são muito bem exemplificadas pelo contraste entre as escolas particulares e a rede pública. As primeiras têm buscado experiências internacionais e parcerias para a retomada segura das atividades. Para as escolas públicas, há um grande dilema entre a necessidade urgente de acolher as crianças, que muitas vezes têm na merenda escolar a única refeição do dia, e as dificuldades de manter os protocolos de segurança com instalações físicas defasadas e falta de recursos. ONGs como a Todos Pela Educação estão atuando para qualificar o debate e propor as melhores práticas para a retomada das aulas presenciais na dura realidade da rede pública brasileira.

O apoio aos professores, profissionais que, ao contrário do acreditam alguns, trabalharam muito mais no ano que ou, se desdobrando para garantir aulas à distância em meio à pandemia, também é urgente. Para começar, creio que seria no mínimo razoável que estes profissionais sejam incluídos nos grupos prioritários de vacinação para que o retorno às aulas presenciais seja seguro. A Associação Nova Escola é referência no apoio aos professores com cursos, conteúdos e planos de aula, e possui muito material de apoio para os docentes tanto para organizar as aulas online quanto para a retomada das atividades presenciais.

Em suma, 2021 ainda será um ano desafiador e de muito trabalho para o terceiro setor. A educação é um dos fronts mais estratégicos para superarmos a pandemia e, principalmente, proporcionarmos um futuro melhor a essa geração de crianças e adolescentes impactados pela COVID-19.

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Sobre o autor:

Edmond Sakai é diretor de RI, Marketing & Comunicação da ONG humanitária internacional Aldeias Infantis SOS Brasil. É advogado, foi professor de Direito Internacional na UNESP, professor de Gestão do Terceiro Setor na FGV-SP e Representante da Junior Chamber International na ONU. Recebeu Voto de Júbilo da Câmara Municipal de SP.


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