Oficial nazista salvou a vida de centenas de judeus que seriam executados

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Em julho de 1942, o oficial nazista Albert Battel enfrentou seus colegas e arriscou a própria vida para evitar que cerca de 100 trabalhadores judeus e suas famílias fossem executados. Décadas após sua morte, ele foi reconhecido como um “Justo entre as Nações”

Albert Battel/ Foto: Domínio Público

Nascido em 1891, Albert Battel tornou-se advogado, foi veterano da Primeira Guerra Mundial e filiou-se ao Partido Nazista em 1933, mesmo ano em que Adolf Hitler foi nomeado chanceler alemão.

Ao longo da carreira, Battel já tinha dado algumas pequenas demonstrações de simpatia pelos homens que eram tratados como “ratos” por seu partido.

Contrariando ordens superiores, emprestara dinheiro a um conhecido judeu em certa oportunidade. Em outra, tratou de maneira amistosa, até gentil, quando, já com perseguições em andamento, encontrou um amigo de faculdade que logo viria a carregar a estrela de Davi amarela em sua vestimenta.

Em 26 de julho de 1942, quando a guerra ainda tinha três anos pela frente e a caça nazista aos judeus atingia seu auge, o primeiro-tenente Battel, então um oficial de reserva do Exército alemão e membro das forças defensivas Wehrmacht, estava em Przemysl, cidade polonesa próxima à Ucrânia.

O comandante das ações no gueto da região, que cuidava dos judeus que trabalhavam para os militares em uma indústria de armamentos, era o major Max Liedtke, que tinha Battel como seu braço direito. Quando tropas da SS aproximaram-se da cidade para levar judeus para a execução, tiveram uma grande surpresa: foram traídos pelos dois.

Para chegar a Przemysl era preciso cruzar o Rio San. Percebendo que os outros nazistas levariam os judeus aos campos de extermínio, Battel e Liedtke ordenaram que suas próprias tropas bloqueassem a ponte utilizada para a travessia do curso d’água.

Os membros da SS, claro, não deram meia-volta de mãos vazias. Enquanto avançavam sobre a ponte, encaravam os soldados. Battel ordenou que os seus abrissem fogo contra a SS se a marcha prosseguisse. Tudo para não alcançarem os judeus e levá-los para a morte.

Percebendo que não conseguiria manter aquilo durante muito tempo, Battel teve outra ideia. Enquanto a SS tentava resolver o imbróglio na ponte, arrumou caminhões do Exército e saiu pelo gueto recolhendo os judeus que encontrava pelo caminho.

Ao todo levou cerca de 100 trabalhadores e suas famílias para a base militar local, onde a Wehrmacht poderia garantir a segurança de todos. Quando a SS conseguiu enfim chegar a Przemysl, outros seriam levados para Belzec, campo de concentração na Polônia onde cerca de 450 mil foram mortos.

Heinrich Himmler, o principal arquiteto da Solução Final, recebeu as notícias. E ficou furioso. Preparou um dossiê e enviou ao Partido Nazista pedindo que, após a guerra, o rebelde fosse para a cadeia.

Mas, na prática, pouco aconteceu. Com a guerra se acirrando, o caso acabou ficando em segundo plano. Battel chegou a ser promovido e enviado para uma unidade de linha de frente antes de ser dispensado do Exército, em 1944, por questões médicas.

Capturado pelos soviéticos, tornou-se prisioneiro de guerra. Após sua libertação, morou na Alemanha Ocidental, mas foi impedido de retornar à advocacia por um tribunal por ter servido o exército nazista. Battel morreu em 1952 , aos 61 anos, em Hattersheim am Main, perto de Frankfurt.

Sua história foi deixada de lado até 1981, quando o advogado israelense Zeev Goshen a resgatou pedindo que o rebelde fosse honrado com o seu nome na galeria dos Justos Entre as Nações. A honraria foi criada por Israel em 1953 para reconhecer e cultivar a memória de homens e mulheres que ajudaram judeus a escaparem dos massacres nazistas. Os brasileiros Aracy Guimarães Rosa e Luiz Martins de Souza Dantas também chegaram a receber o título.

Fontes: Aventuras na História e Wikipédia