Um caminho para o Brasil

Milton Flavio
Na última segunda feira, 19 de junho, tivemos a oportunidade de sonhar por quase duas horas com um Brasil que queremos e que durante anos trabalhamos, sem sucesso para ajudar a construir.
O professor Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, foi sabatinado no Roda Viva da TV Cultura, um dos mais instigantes programas da TV brasileira, sobre a situação da ciência em nosso país e a capacidade que temos de nos tornarmos competitivos em nível mundial.
Zago talvez seja hoje um dos nossos mais competentes cientistas. Com uma experiência múltipla que vai desde a direção do HC da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, presidência do CNPQ, Reitoria da USP, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, é agora, há quase 4 anos, presidente da Fapesp; sem muitas dúvidas ou questionamentos, um exemplo de agência financiadora de projetos de pesquisa e inovação tecnológica para o Brasil. 60 anos de bons serviços prestados à São Paulo e ao país graças à sua condição especialíssima, e talvez única, de contar com recursos garantidos constitucionalmente, com liberações em duodécimos mensais e apoio ir da comunidade acadêmica e científica das nossas Universidades, públicas e privadas, e mais recentemente em parcerias com a iniciativa privada, representada tanto por empresas de larga tradição e grande capital como também por empresas inovadoras em fase de desenvolvimento.
A Fapesp cumpriu um papel relevante nos primórdios de sua criação pelo governador Carvalho Pinto para a formação de mão de obra competente e qualificada para as nossas universidades e institutos, financiando laboratórios e equipamentos que garantem hoje uma capacidade e competitividade científica ao nosso estado que, como vimos na recente pandemia da Covid, tem sido capaz de responder com agilidade e eficiência aos desafios que nos foram colocados e aos que seguramente estão por vir.
O professor Zago destacou a evolução e mudanças produzidas na instituição para responder as novas demandas e incluir, como disse antes, novos parceiros que podem e devem contribuir com sua capacidade e inteligência para o aprimoramento e avanço tecnológico do país. Da bancada e pesquisa autoral para as parcerias como as pequenas indústrias de algumas dezenas de funcionários até a instalação de Centros de Pesquisa em parcerias com a iniciativa privada , universidades , institutos de pesquisa e instituições afins.
Embora privilegiando nosso Estado, por dever estatutário, amplia seu escopo e abrangência ao compartilhar projetos de pesquisa na nossa Amazônia com instituições de perto de 20 estados brasileiros e projetos internacionais como a da construção de telescópio no deserto do Atacama numa parceria inovadora entre universidades paulistas e chilenas.
Mostrou os avanços, apesar das dificuldades reconhecidas, em incluir jovens pesquisadores – que por questões sociais e étnicas- enfrentavam dificuldades para participarem em condições adequadas de projetos e certames.
Alertou para um desinteresse crescente, verificado por pesquisas recentes, dos jovens por carreiras fundamentais para o desenvolvimento do país e também pelo envolvimento em projetos científicos de longa maturação e sua preferência por carreiras cujos resultados são mais imediatos e recompensadores no curto prazo. Este fato, aliado à busca incessante e cada vez mais intensa de cérebros e pesquisadores qualificados por países mais desenvolvidos economicamente, trazem preocupações e precisam ser enfrentados com determinação pelos nossos dirigentes e governantes.
Por fim, destacou a necessidade de olharmos com mais atenção para o novo, o impensado, o inesperado.
Embora sejam fundamentais a continuidade e a consolidação do que está feito, pacificado e pode ser aprimorado, não podemos temer e deixar de olhar para projetos que desafiam nosso status quo e que por serem disruptivos, muitas vezes, não merecem ou recebem a atenção devida. São estes os que abrirão novas fronteiras para o conhecimento e a ciência.
Temas que merecem nossa atenção e incentivo.
Quem não assistiu não perdeu a oportunidade, porque temos condições de revisitar o programa que está gravado e disponível para todos.
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* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Sobre o autor: Milton Flavio é professor aposentado da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, ex-subsecretário de Energias Renováveis do Estado de São Paulo, e hoje é Assessor da Presidência da FAPESP.