O que é Venture Philanthropy?
Cultura de Doação
Por Luiza Serpa
Quando ouvi o termo “Venture Philanthropy” pela primeira vez, fui logo fazer a tradução para o português e achei interessante. “Filantropia de risco”: tá aí, gostei. Mas, me envolvendo mais com o termo, fui entendendo que se tratava na verdade de um grande guarda-chuva para tudo que se relaciona com impacto.
Com o tempo, foi começando a ficar mais fácil entender. Embaixo deste guarda-chuva, existe uma grande régua de possibilidades – desde a filantropia tradicional, ando pela blended finance, que une filantropia e investimento, chegando ao investimento em negócios – destacando-se que, em primeiro lugar, está sempre o impacto sócio ambiental.
O conceito é um convite à colaboração e à inclusão para causar impacto. E foi assim, dizendo que “o dinheiro por si só não gerará mudanças sociais”, que a CEO da Latimpacto Carolina Suárez abriu a 3ª edição Impact Minds 2024, a conferência da rede vinculada a um movimento global de Venture Philanthropy para filantropos de risco na América Latina e no Caribe. O evento reuniu mais de 650 participantes de 36 países, representando 210 organizações, em Oaxaca, México, de 9 a 12 de setembro.
Tive a oportunidade de conduzir, no evento, a palestra “Êxitos na Filantropia: histórias de sucesso na Venture Philanthropy”, contando como pouco dinheiro pode impactar organizações menores, que am a triplicar seus resultados. Um destaque do conceito é que ele traz modelos de financiamento personalizado e com medição do impacto de ações socioambientais, além de valorizar o apoio estratégico, tão importante para a consolidação de organizações e negócios de impacto.
Podemos notar que um diferencial na abordagem são o comprometimento a longo prazo e a proximidade entre os financiadores e as organizações, garantindo que sejam mais resilientes, consolidadas e sustentáveis, com o objetivo de gerar mudanças sistêmicas. Outra característica é uma maior tolerância a assumir riscos, ajudando a fortalecer as entidades e negócios sociais e incentivando soluções disruptivas para problemas socioambientais complexos.
Marcada por grandes contrastes, a América Latina tem imensas questões sociais, econômicas e ambientais, mas também uma economia pujante e uma rede consolidada de organizações da sociedade civil e empreendedores sociais, com soluções inovadoras e criativas para enfrentar estes desafios.
O interessante do conceito é que ele atrai todo tipo de perfil de investidores para impacto, desde os mais conservadores até os mais progressistas. A Latimpacto foi fundada há quatro anos, justamente com o compromisso de dar e na promoção de uma maior diversidade para aplicação deste capital. A percepção é de um ecossistema com muitas oportunidades de articulação e desenvolvimento.
Com baixa colocação na última edição do World Giving Index – o ranking mundial de solidariedade – o Brasil precisa inspirar novos atores e incentivar novas conexões intersetoriais. Em 2024, o ficamos na posição 86, com doações para ONGs praticada por apenas 29% da população. Fica, então, o convite para que investidores sociais, de um lado, e todo o ecossistema social brasileiro, de outro, possamos nos unir para reduzir as desigualdades na nossa região.
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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.