O papel transformador dos eventos esportivos: lições para o Brasil
Impacto das ONGs
Por Wenceslau Madeira
No artigo anterior, destaquei o potencial do esporte como ferramenta transformadora em um país como o Brasil, marcado por profundas desigualdades sociais. Os grandes eventos esportivos, que muitas vezes atraem holofotes e celebridades, também suscitam debates fundamentais sobre seu impacto real na vida da população. A questão central vai além do espetáculo: como essas iniciativas podem contribuir efetivamente para a qualidade de vida das pessoas?
Com mais de 18 anos de experiência à frente da De Peito Aberto (DPA), tive o privilégio de testemunhar o desenvolvimento de milhares de crianças e adolescentes por meio do esporte. Desde nossos primeiros os, enfrentamos o desafio de atuar em um cenário onde a gestão pública nem sempre dialoga com as necessidades sociais. O amadurecimento veio com o tempo e, em 2007, a promulgação da Lei de Incentivo ao Esporte nos abriu um horizonte de possibilidades. Fomos pioneiros no uso desse recurso para promover atividades esportivas que hoje alcançam comunidades de norte a sul do Brasil.
Atualmente, parte dos recursos captados é investido em materiais esportivos de alta qualidade, garantindo que as crianças tenham o a equipamentos completos e adequados. Em 2024, por exemplo, alunos de 29 cidades dos Estados da Bahia, Minas, Pará e Rio de Janeiro receberam uniformes para participar de atividades como futebol, futsal, judô, skate, boxe e futebol feminino. Presenciar a alegria no olhar de uma criança ao receber seu uniforme ou pisar no tatame pela primeira vez é um momento que, mesmo após tantos anos, continua emocionante.
Nosso impacto também se estende ao Pará, especialmente em cidades como Terra Santa, onde o projeto está presente desde 2010. Mais de 5 mil crianças e adolescentes já foram beneficiados na região. Além disso, comunidades em Porto Trombetas, Canaã dos Carajás e Curionópolis participam de nossas iniciativas, que atendem mais de 500 crianças por ano. Nossa missão é simples, mas ambiciosa: oferecer aulas gratuitas no mesmo nível de qualidade das melhores escolas de esporte do país. Se estamos ensinando vôlei, buscamos referências nos grandes clubes para garantir excelência técnica e pedagógica.
Para pensar o esporte como política pública, o Brasil também pode seguir o exemplo do legado das Olimpíadas de Londres de 2012. Com parte financiada pelo Ministério da Saúde do Reino Unido, o evento teve como meta principal tornar a sociedade britânica mais ativa e saudável. O impacto foi expressivo: segundo o relatório Inspired by 2012, 1,4 milhão de pessoas a mais aram a praticar esportes semanalmente em relação a 2005, ano em que Londres foi escolhida como sede.
A experiência britânica destaca a integração de políticas de esporte, saúde e educação, um modelo que ainda falta ao Brasil. Grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo Feminina de 2027, representam uma oportunidade para ir além da promoção da modalidade. A Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, realizada na França, deixou um impacto transformador. O torneio inspirou um aumento de 15% no número de meninas inscritas em clubes de futebol, segundo dados da Federação sa de Futebol (FFF),
Esses eventos precisam deixar um legado tangível, influenciando positivamente na qualidade de vida da população. No entanto, isso exige um planejamento estratégico que nossos governantes ainda não souberam implementar de forma eficaz.
O esporte tem o poder de transformar, mas é necessário investimento, visão de longo prazo e, principalmente, a compreensão de que ele é mais do que uma ferramenta de entretenimento: é uma alavanca para o desenvolvimento social e humano.
Sobre a De Peito Aberto
A De Peito Aberto (DPA) é uma organização social criada com o objetivo de contribuir para o esporte, educação, saúde e cultura para pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica ao redor de todo o país. A instituição se destaca pela experiência em planejar e executar projetos em parceria com gestores públicos e privados, tendo como principal diferencial a excelência pedagógica e metodológica oferecida às pessoas impactadas pelas iniciativas.
Com mais de 18 anos de história, a instituição idealizada por atletas e entusiastas do esporte já beneficiou mais de 60 mil crianças e adolescentes. Esporte na Cidade, Oportunidade Através do Esporte, Educar com Cultura, Educa Skate, Educa Fut e Esporte na Cidade Norte Nordeste são alguns dos projetos realizados pela instituição via Lei Federal de Incentivo ao Esporte e com o apoio de parceiros privados, entre eles Vallourec, Ferbasa, Elo, Bayer, Iveco, Grupo CNH, White Martins, Livelo, D´Granel, Mercado Livre, MRN e Vale entre outros.
A DPA possui também conhecimento em projetos com verba direta. É o caso do Trilhando Caminhos, que beneficia crianças, jovens e adultos no município de Barcarena, no Pará. A iniciativa conta com aporte da Hydro.
Em 2021, o projeto Esporte na Cidade – Núcleo Salvador foi um dos vencedores do Prêmio de Serviço Público das Nações Unidas 2021, na categoria “Promoção de serviços públicos com perspectivas de gênero para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
A instituição possui mais de 100 colaboradores distribuídos entre os escritórios de Minas Gerais (Belo Horizonte), Bahia (Lauro de Freitas) e Pará (Barcarena).
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor
Sobre o autor: Wenceslau Madeira é fundador e atual Diretor Presidente da Peito Aberto (DPA), organização social criada com o objetivo de contribuir para o esporte, a educação, a saúde e a cultura. Como treinador e professor de natação, tem agens por diferentes clubes, entre eles o Swimming Nature Swimming School, de Londres (Inglaterra). É formado em Gestão Pública pela UNIBH, especialista em natação pelo Institute of Swimming Teaching and Coaching e possui MBA em ESG (IBMEC).