O clima de fim de festa

Compartilhar

ilustrativo
Adobe Stock | Licenciado

Por Milton Flavio

O momento, guardadas as devidas proporções, lembra-me o clima de um fim de festa. Os convidados participaram ativamente cumprindo o seu papel, degustaram os salgadinhos e os doces da ocasião, ajudaram a soprar as velas, cantaram os parabéns, aplaudiram e deram vivas.  

Só faltou o “com quem será que ele vai casar"> 

Nestes momentos, o que não falta são os engenheiros de obras feitas e médicos do dia seguinte, todos tiveram um papel relevante.

“Se não fosse eu”, seguramente, é  a frase mais ouvida nos dias atuais. Frase dita não como comemoração de um resultado obtido, mas na expectativa da retribuição esperada. 

O Brasil será pequeno demais para atender a volúpia e apetite de tantos colaboradores e de partidos aliados. 

A transição mal começou e já ouvimos as primeiras reclamações e insatisfações dos que sentem-se desde já distantes ou menos próximos da posição almejada. 

Ao invés da sensação do dever cumprido, e bem cumprido de apoiar Bolsonaro no poder, prevalece a expectativa do desejo, da retribuição, do reconhecimento e importância que todos julgam-se merecedores. 

O que precisa acontecer para cair a ficha dos muitos que não conseguiram ainda perceber que vivemos no dia 30 talvez a eleição mais dividida dos últimos 50 anos? 

Para ser mais claro, o resultado e a diferença de pouco mais de 2 milhões de votos expressaram o que os desapaixonados já sabiam. O presidente eleito deve sua vitória não aos seus méritos ou ao seu programa, que nenhum deles apresentou, mas por ter uma rejeição um pouco menor do que a do seu adversário.  

Não carregam a confiança, mas sim a desconfiança da maioria do povo brasileiro. Para vencer, o vitorioso somou aos votos dos esperançados no seu futuro governo aqueles de outros milhões de brasileiros que, mesmo não confiando nele, rejeitaram de forma mais contundente o seu oponente. 

Destarte, é hora de somar esforços, reconhecer que é necessário criar as condições necessárias para consolidar a fé nesses desconfiados, mas decisivos eleitores e fazer um governo para todos. 

Um governo para todos exige humildade para reconhecer os erros cometidos e nunca itidos, coragem para abrir mão de dogmas que mesmo agradando os mais ideologizados desagradam o grosso da população brasileira, ouvir até ficar rouco os que – além dos partidos- sonham e estão dispostos a contribuir para construir um novo Brasil. 

E é bom reforçar. Não basta não roubar. É preciso não deixar roubar, abdicar de acordos espúrios e lesivos à nação – e o mais importante -, trabalhar com competência, afinco e seriedade. 

O brasileiro é um povo afetuoso, bondoso e de boa fé, mas está cansado. 

Não precisa de vento forte ou empurrões para voltar a protestar na Paulista. 

*

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Sobre o autor: Milton Flavio é professor aposentado da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, ex-subsecretário de Energias Renováveis do Estado de São Paulo, e hoje é Assessor da Presidência da FAPESP.


Compartilhar