O Cenário do Voluntariado no Brasil
Cultura de Doação
Por Daniel Santoro
O voluntariado é uma prática que tem o poder de transformar comunidades e promover o bem-estar social. Apesar do enorme impacto positivo, tanto para quem pratica, quanto para os principais beneficiários, o cenário do voluntariado no Brasil ainda enfrenta desafios. De acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apenas 4,2% da população brasileira declara que realizou trabalho voluntário em 2022.
Embora haja um aumento na participação voluntária em comparação a anos anteriores, esse número ainda é relativamente baixo se compararmos a outros países. E isso não quer dizer que o brasileiro não seja voluntário. Um dos principais desafios e justificativa para esses dados é que grande parte das pessoas que realizaram uma ação voluntária pontual não se identificam como voluntários. Isso é herança de uma crença que voluntário é apenas quem realiza atividade fixa e regular em Organizações da Sociedade Civil (OSCs), o que era o entendimento do voluntariado organizado até pouco tempo.
O que temos visto nos últimos anos por meio de pesquisas que realizamos na Parceiros Voluntários e acompanhando outros movimentos do Terceiro Setor é do quanto o voluntariado tem se transformado para se adaptar aos novos tempos de relações mais efêmeras, de atuação remota e outras características da contemporaneidade.
Nesse sentido, uma maior conscientização e engajamento da população sobre o que é ser voluntário e como praticar o voluntariado são fundamentais. A PV, juntamente com outras organizações semelhantes, desempenha um papel crucial na sensibilização da população sobre a importância do voluntariado. Por meio de campanhas educativas, eventos de conscientização e programas de voluntariado, essas organizações conseguem mobilizar pessoas de todas as idades e origens para se envolverem em atividades voluntárias. E é justamente por isso que na Parceiros Voluntários nós temos focado nossas ações no advocacy pela causa do voluntariado.
Pesquisa realizada na Escola de istração da UFRGS com nosso apoio nos mostrou que a maior parte dos voluntários iniciam a sua jornada por meio de escolas e empresas. Então aí está uma excelente oportunidade de nós aproveitarmos esses espaços para fomentar a cultura do voluntariado e a educação para a cidadania. Por isso, o voluntariado corporativo tem se destacado como uma estratégia eficaz para aumentar o engajamento dos funcionários em ações sociais.
Muitas organizações estão incentivando seus colaboradores a dedicarem parte do seu tempo a atividades voluntárias, seja por meio de programas formais ou eventos de voluntariado organizados. Essas iniciativas não só beneficiam as comunidades atendidas, mas também fortalecem o senso de propósito e satisfação dos funcionários, contribuindo para um ambiente de trabalho mais positivo e engajado.
Além disso, a recente aprovação pela Organização das Nações Unidas (ONU) da resolução que estabelece 2026 como o Ano Internacional dos Voluntários para o Desenvolvimento Sustentável é um marco importante para o voluntariado no Brasil e no mundo. Isso significa que nos próximos três anos, 2024, 2025 e 2026, o voluntariado estará no centro das atenções globais, um movimento que aumentará a conscientização sobre a importância do voluntariado e a mobilização de recursos e apoio para iniciativas voluntárias em todo o país.
Em suma, embora o cenário do voluntariado no Brasil ainda enfrente dificuldades, há também muitas oportunidades para promover uma cultura de solidariedade, através do fortalecimento das comunidades, na promoção da justiça social e na construção de um mundo mais inclusivo e sustentável. Ao enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que se apresentam, podemos trabalhar juntos para criar uma cultura voluntária presente e impactante no Brasil.
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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Sobre o autor: Daniel Santoro é presidente do Conselho de istração da Parceiros Voluntários. É Engenheiro Agrícola por formação e com pós-graduação em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. É especialista em istração de Negócios e com certificação de Diretor Corporativo pela Harvard Business School.