O Brasil e a educação dos negros: um chamado para a ação

Compartilhar

Imagem: Adobe Stock.

 

Por Guibson Trindade e André Santos

Em um país tão diverso como o Brasil, é inegável a presença marcante da população negra em sua composição demográfica. No entanto, por trás dos números estatísticos, reside uma realidade complexa e muitas vezes desoladora: as desigualdades educacionais persistem como uma ferida aberta na sociedade brasileira.

Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que os pretos e pardos constituem a maioria da população, somando aproximadamente 55,5%. Contudo, quando olhamos para o cenário educacional, nos deparamos com uma triste realidade: os jovens negros continuam enfrentando barreiras significativas em seu o à educação de qualidade.

Ao longo dos séculos, a história do Brasil foi marcada por cicatrizes de exclusão e marginalização da população negra, remanescentes de um ado escravocrata que ainda ecoa nas estruturas sociais contemporâneas. Apesar dos avanços legislativos e das políticas de inclusão, como as cotas raciais, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir uma educação verdadeiramente igualitária para todos os brasileiros.

Os números falam por si só: embora os estudantes negros representem uma parcela significativa dos matriculados no ensino médio, sua presença é desproporcionalmente menor nos níveis mais elevados de ensino, como o ensino superior. E mesmo entre aqueles que conseguem adentrar as universidades, persistem desafios adicionais, como a discriminação racial e a falta de e institucional para garantir sua permanência e sucesso acadêmico.

Segundo os dados do Censo Escolar de 2022, os estudantes negros de ensino médio representam 41,3% dos estudantes matriculados. Mas quando se olha para a população que deixou de completar o ensino básico entre 14 e 29 anos, é possível verificar que eles representam aproximadamente 70% dessa parcela, o que aponta para uma grande desigualdade racial.

De outra forma, os dados do ensino profissional e superior mostram que os estudantes negros representam 36,5% e 36,9% do total de matriculados nos cursos profissionalizantes e de ensino superior em 2022, respectivamente. Os resultados no ensino superior são resultados de políticas de inclusão implementadas, como a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) – que ampliou o ingresso da população negra nos cursos de ensino superior. Visto que, os estudantes negros representavam somente 9% em 2010 no ensino superior.

Embora exista uma diferença entre os matriculados em diferentes cursos pelos estudantes negros em relação aos brancos, o que mostra que as desigualdades são persistentes e continuam a afetar os estudantes negros de diferentes modos. Entre os cursos de maior prestígio, a população negra representa 36% em comparação com a 44% da população branca em 2022.

A maior inclusão de negros no ensino superior através das cotas raciais foi gerada um debate quanto ao desempenho acadêmico desses alunos cotistas. Segundo o que aponta o estudo “Desempenho acadêmico e frequência dos estudantes ingressantes pelo Programa de Inclusão da UNESP” que avalia os dados de 30 mil estudantes cotistas entre 2014 e 2017 da universidade, o desempenho entre alunos cotistas e não cotistas não apresentou diferenças relevantes.

Diante desse cenário, é imperativo que a sociedade brasileira se una em um esforço conjunto para enfrentar essas desigualdades e garantir oportunidades iguais para todos os seus cidadãos. Isso requer não apenas políticas públicas eficazes, mas também uma mudança cultural profunda, que reconheça e valorize a diversidade como um dos pilares fundamentais de nossa identidade nacional.

A educação é a chave para o desenvolvimento humano e social de uma nação. Portanto, não podemos mais tolerar a persistência dessas disparidades injustas que privam tantos jovens negros do o aos seus direitos mais básicos. É hora de agir, de forma decisiva e determinada, em busca de um futuro mais justo e igualitário para todos os brasileiros, independentemente de sua cor de pele. Afinal, somente quando todos tiverem as mesmas oportunidades de desenvolvimento é que poderemos verdadeiramente construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.

*

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

*André Santos lidera a coordenação de pesquisas e estatísticas no Pacto de Promoção da Equidade Racial, com foco em ESG racial e mercado de trabalho.

*Guibson Trindade é cofundador e Gerente Executivo na Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral.


Compartilhar