O abraço ainda é o melhor refúgio

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É necessário transpor as fronteiras formais para habilitar um exercício pleno de seus agentes: os cidadãos (Reinventar a Educação. Edgar Morin e Carlos Delgado. Tradução de Irene Reis dos Santos. Ed. Palas Athena. p. 112)

Antes de ser brasileira, antes de estar emocional e ancestralmente vinculada a algum outro país, antes mesmo de ser cidadã, sou Humana. A educação precisa fazer este exercício de desenvolver a nossa humanidade. Como? Ensinando a abrir ouvidos para a escuta atenta. Abrir os braços para o acolhimento.

Se o outro chega a contar a sua história de vida, quanto de escuta atenta temos? Quantas vezes somos capazes de, realmente, ouvir e acolher o dito e o maldito dentro de um abraço?

Tenho um amigo venezuelano. Refugiado no Brasil, teme perseguições, teme ser reconhecido ou encontrado no mundo virtual. Teme!

O refugiado não é um imigrante comum. Convive com sentimentos conflitantes de saudade e, ainda assim falta de vontade de voltar ao seu país. Desejo de se adequar a uma cultura nova e dificuldades de ser aceito.

Assusta pensar que mais de 25 milhões de pessoas em todo o mundo vive, hoje, esta realidade.

As cicatrizes presentes na alma destas pessoas podem ser vistas também em seus corpos, em suas rugas, em suas transparentes, mas carregadas lágrimas.

Daí, finalmente, a pessoa encontra um trabalho fixo, um salário fixo, mas o perde porque se perde em meio a tantas perguntas dos colegas.

Em vez de escuta atenta, as pessoas fazem interrogatórios. Sem perceber o desespero no olhar de narrador, o outro continua a metralhar de perguntas, insensível ao fato de que ao narrar, revivemos dores, lembranças, cenas, fatos, medos.

Transtorno de estresse pós-traumático é um tipo de distúrbio de ansiedade que ocorre quando revivemos um fato doloroso, violento, agressivo. É como reviver a agressão.

Quão sensíveis estão as empresas para lidar com o assunto?

Quão dispostas estão a preparar sua equipe para lidar com diversidades?

Todos ganharíamos e muito se nos abríssemos a novos aprendizados, sobretudo os relacionados com a nossa Humanidade.

Se você perguntar a um refugiado o que ele espera de você quando você toma conhecimento de sua origem, ouça com atenção que o que ele quer é só que você se abra a um abraço.

Não ajuda você contar sobre seu avô que era imigrante italiano, português, japonês.

Não ajuda você contar sobre seu intercâmbio.

Não ajuda você falar sobre o que viu na televisão a respeito da Venezuela.

Não contribui em nada você comparar a política de lá com a de cá e insultar, violentamente, a esquerda.

Ouça.

Abrace.

Ofereça os seus braços e os seus ouvidos como bom refúgio.

Aprenda.

Seja.

Referências e sugestões para avançar na temática:

MORIN, Edgar; DELGADO, Carlos Jesus. Reinventar a educação: abrir caminhos para a metamorfose da humanidade. Tradução de Irene Reis dos Santos. São Paulo: Editora Palas Athena, 2016.

Sobre estresse pós-traumático. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/>. o em: 18/04/2019.

Agência da ONU para Refugiados. Disponível em: <https://observatorio3setor-br.diariodomt.com/>. o em: 18/04/2019.

Instituto Adus – Dignidade e oportunidade para um novo começo. Disponível em: <http://www.adus.org.br/>. o em: 18/04/2019.

Ministério das Relações Exteriores – Portal Consultar. Disponível em: <http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/>. o em: 18/04/2019.

Retrato Social – Ser livre é sentir-se realizado em outro lugar. Episódio 1. Disponível em: <https://www.youtube.com>. o em: 18/04/2019.

Retrato Social – Onde está a igualdade. Episódio 2. Disponível em: < https://www.youtube.com/>. o em: 18/04/2019.

Retrato Social – Fraternidade. Episódio 3. Disponível em: < https://www.youtube.com/>. o em: 18/04/2019.

Irene Reis dos Santos

É bacharel e licenciada em letras - Português e Espanhol pela FFLCH - USP, especialista em tradução, pesquisando, no mestrado em Ciências da Educação, sobre participação de estudantes na comunidade por meios de Grêmios. Atualmente, leciona espanhol no Instituto Cervantes, contribui com editoras e é diretora da CORE - Comunidade Reinventando a Educação (coreduc.org), entidade do terceiro setor que fomenta parcerias em prol da educação pública. Irene acredita que as vivências interculturais e a aprendizagem baseada em projetos de vida em comunidade são a chave para o complexo desenvolvimento da sociedade planetária.