Voluntários e crianças plantam árvores frutíferas doadas em aldeias guarani

Voluntariado
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As árvores foram plantadas nas aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Itakupe, localizadas em São Paulo; indígenas, voluntários e crianças participaram da ação

Crianças plantando árvores na aldeia Guarani Tekoa Pyau | Foto: Felipe Martins/ Go Martins

Quando espanhóis e portugueses chegaram à América, por volta de 1500, os indígenas Guarani já formavam um conjunto de povos com um idioma em comum, um modo de ser que mantinha viva a memória de antigas tradições e que praticava uma agricultura produtiva.

A palavra “guarani”, na língua guarani, significa “guerreiro”. O significado mostra plenamente o que são esses indígenas, que sofrem há 523 anos um massacre com perda de suas terras, escravidão e interferências na sua cultura.

É essa tranquilidade que os povos Guarani sonham em ter de volta um dia. Localizadas no distrito do Jaraguá, na zona noroeste da capital paulista, as aldeias Tekoa Pyau, Tekoa Ytu e Tekoa Itakupe são algumas das aldeias Guarani que resistem às interferências do homem contemporâneo e lutam pelo pequeno espaço de terra que sobrou.

No último dia 27/01 foi realizado um mutirão para a plantação de árvores frutíferas doadas pela Regen Ecossistemas, uma Climatech focada em acelerar a construção de florestas e produção de água, gerando impacto positivo às pessoas.

A Regen tem uma Metodologia exclusiva, com objetivo de acelerar o processo de crescimento das árvores que normalmente leva de 15 a 20 anos para atingir a fase adulta em apenas 3 anos; a intenção é que as florestas possam cumprir rapidamente a sua função de sequestrar carbono sem a necessidade de intervenção humana.

O mutirão foi organizado pela historiadora Claudine Melo, historiadora e fundadora da Etnicoeduc – Educação para as relações étnico-raciais; Felipe Martins, ativista, modelo e um dos fundadores da empresa de produção de conteúdo GoMartins e o Observatório do 3º Setor.

As árvores foram plantadas nas aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Itakupe e contou com a ajuda de indígenas e voluntários, inclusive crianças. Zizo Klöppel, arquiteto urbanista e sócio fundador da Regen, fez questão de ajudar no plantio e contou sua experiência:

“Foi um aprendizado para a vida inteira. Conhecer as necessidades, aprender na casa de oração, ouvir e sentir esse dia todo foi uma pequena chama que se acendeu para iniciar novos projetos. A floresta é o meio de sobrevivência para muitas pessoas, precisamos entender e ajudar a construir novas florestas nesse sentido. Soluções que beneficiam as pessoas naquilo que elas precisam”.

Voluntários em mutirão na aldeia Takoa Itakupe/ Foto: Toka da Onça oka

Claudine comemorou o sucesso do mutirão e relatou a importância dos Guaranis, nosso povo originário.

“Retornar na TI Pyau e Itakupé, após mais se 2 anos de pandemia, e encontrar o povo Guarani Mbya organizado, produzindo mel, colhendo variedades de  milhos, que fazem parte da culinária Guarani desde tempos memoráveis;  mantendo forte o Centro de Educação e Cultura Indígena – CECI, assim como o Centro Comunitário ampliado, para exatamente receber os juruás (não indígenas) e ensiná-los o que é viver da forma tradicional indígena; adentrar a Opy (casa de reza) e ouvir tanta sabedoria, tudo isso só para citar alguns pontos, foi um ótimo começo para esse 2023!”, comemora a historiadora.

“Por isso, a alegria ainda maior ao confirmar, junto ao povo Guarani, essa  parceria com o  Observatório do Terceiro Setor (jornalista Maria Fernanda Scala), o GoMartins, na pessoa do ativista Felipe Martins, e o pessoal do Regen Ecossistemas e A.S. Plantas (nas pessoas do Zizo Klöppel e Alexandre Sathler) numa doação de dezenas de árvores frutíferas, nativas da Mata Atlântica, apoiando e reforçando o objetivo primordial dos originários dessa terra, recuperar o território Jaraguá, zona noroeste de São Paulo, com o mais rico que essa cidade pode ter, suas nascentes, a diversidade presente de plantas e animais nesse bioma, e que compõe a beleza do que chamamos Brasil. Urge que voltemos para o que mais importa, o nosso Futuro Ancestral!”

Valentina Aludy, 11 anos, voluntária no mutirão, plantando uma árvore./ Foto: Observatório 3º Setor

Crianças também participaram do mutirão, uma delas Valentina Aludy Garcia de Oliveira, 11 anos, relatou sua experiência e pretende voltar.

“Gostei muito, me senti útil em ajudar os guaranis e a natureza, plantando árvores. Adorei as crianças e os animais, quero voltar e ajudar mais”, finaliza Valentina.

Sua irmã, a adolescente Norma Katherine, 14 anos, ajudou no plantio, mas o que mais gostou foi do carinho das crianças guaranis.

“Eu gostei do carinho das crianças guaranis, elas eram muito fofas! Eu amei o contato com a terra e saber que estou ajudando a natureza. Quero voltar e ser voluntária sempre!”, diz a adolescente.

Norma Katherine voluntária/ Foto: Felipe Martins/ Go Martins

A Aldeia Tekoa Itakupe prefere viver isolada e não revelar o local exato em que se encontra, por medo de represálias e ameaças. Lá, vivem 13 famílias em um lugar com uma vista linda e uma energia inexplicável. Um lago com peixes que os próprios indígenas alimentam e pescam. Mas viver no meio de uma das maiores metrópoles do mundo tem seu preço.

Os recursos que a natureza oferecia no ado agora são bem limitados. Os indígenas precisam de alimentação, mantas e agasalhos, principalmente para as crianças. Sofrem também com as doenças trazidas pelo homem branco. Mesmo com tantas dificuldades, são felizes e cantam com a certeza de que Nhanderu (Deus) irá protegê-los e devolver a terra que eles precisam para sobreviver.


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