Ódio gratuito: vereadoras negras e trans são ameaçadas de morte no Brasil

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Ameaças de neonazistas e grupos de ódio a vereadoras negras e trans expõem avanço do extremismo no Brasil

A vereadora Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte, ameaçada de morte/ Foto: Reprodução Redes Sociais.

As últimas eleições brasileiras mostraram como o extremismo e o ódio tomaram conta do país. Ameaças de neonazistas e de grupos de ódio a vereadoras negras e trans expõem o avanço do extremismo no Brasil.

Ana Carolina Dartora, de 37 anos, foi a primeira vereadora negra eleita nos 327 anos da Câmara Municipal de Curitiba, e a terceira mais votada na capital paranaense nas eleições de 2020. Mas sua campanha foi permeada por ataques, sobretudo nas redes sociais.

No início de dezembro, logo após uma entrevista do prefeito Rafael Greca (DEM) na qual o mandatário disse discordar da existência de racismo estrutural na cidade, a vereadora eleita recebeu por e-mail uma mensagem a ameaçando de morte, inclusive com menção ao seu endereço residencial.

No texto, o remetente chama a vereadora de “aberração”, “cabelo ninho de mafagafos”, e diz estar desempregado e com a esposa com câncer. “Eu juro que vou comprar uma pistola 9mm no Morro do Engenho e uma agem só de ida para Curitiba e vou te matar.” A mensagem dizia ainda que não adiantava ela procurar a polícia, ou andar com seguranças.

O e-mail, com texto igual, também foi enviado para Ana Lúcia Martins (PT), também a primeira mulher negra eleita para vereadora em ville (SC). As vereadoras trans Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte, e Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ), também foram ameaçadas pelo mesmo remetente.

O provedor do qual a mensagem foi enviada tem registro na Suécia, o que dificulta o rastreamento por parte das polícias civis e, no caso do Paraná, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes.

Ana Lúcia Martins, 54, foi a primeira mulher eleita pelo PT em ville (SC) e, assim como Carol Dartora, a primeira negra na Câmara Municipal. Após sua vitória nas eleições de 2020, as primeiras intimidações já surgiram pelo Twitter, quando ela ainda comemorava a vitória. “Uma conta fake veio e comentou: ‘agora a gente precisa matar ela para o suplente, que é um homem branco, assumir’.

Foi oferecido à vereadora integrar o Programa Federal de Assistência a Testemunhas. “Para nós isso não serve, porque aí não poderia exercer meu mandato, e queremos essa garantia”, salienta Ana Lúcia. A Polícia Militar catarinense ofereceu rondas e viatura em eventos públicos, desde que a vereadora solicite com antecedência, via ofício.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirma que “após haver solicitação de audiência para que o secretário atendesse a vereadora eleita, ele designou um delegado especializado, integrante da Segurança Pública, para recebê-la (tendo em vista que ele estava com outras agendas prévias e externas). Sendo assim, a vereadora teve o devido atendimento”, argumenta a pasta. Ainda de acordo com a entidade, o caso requer uma “investigação complexa”.

Fonte: El País