Taxa de homicídio de crianças e jovens é maior entre negros, diz pesquisa

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Pesquisa realizada pela ONG Visão Mundial e outros movimentos demonstra desigualdade racial e regional entre as vítima de homicídio de crianças e jovens no Brasil

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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Por: Juliana Lima

O Brasil possui uma taxa relevante de homicídio de crianças e jovens. Só em 2019, foram 6.930 mortes entre os jovens. Mas o mais preocupante é que a maioria das vítimas são meninos negros, segundo pesquisa da ONG Visão Mundial. Em mais de dez anos, entre 2009 e 2019, foram assassinadas no Brasil 107.670 crianças e adolescentes, sendo que 76% delas eram negras e 93% eram meninos.

A pesquisa “Homicídios na Infância e Adolescência no Brasil (2009 a 2019)” foi realizada em parceria com o Movimento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP), o Comitê Cearense Pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, o Movimento Independente Mães de Maio e o Movimento Mães da Periferia de Vítima Por Violência Policial do Estado do Ceará.

Para tanto, foram analisados dados extraídos do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e dados de projeção da população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa realizou recortes de raça, gênero e localização geográfica para analisar as mortes de crianças e adolescente de 10 a 19 anos.

Desigualdade racial

Os resultados mostram uma grande desigualdade entre brancos e negros. Enquanto a taxa de homicídio para crianças e adolescentes brancos vem decaindo ao decorrer dos anos, sendo 23% em 2009 e 17% em 2019, o mesmo não acontece para os negros. Em 2009, 71% das vítimas de homicídio entre essa população entram negras, taxa que chegou a 81% em 2019. Para os pesquisadores, o dado demonstra o racismo estrutural da sociedade brasileira, onde negros são vítimas inclusive da violência de Estado e da violência policial.

Desigualdade regional

Outro dado apontado pela pesquisa é a desigualdade regional existente no Brasil. Enquanto em quase todas as regiões, a taxa de homicídios de crianças e adolescentes vem decaindo ao ar dos anos, a região Norte teve um movimento contrário, registrando um aumento superior a 29%, ando de 23,8 mortes por 100 mil habitantes em 2009, para 30,8 mortes por 100 mil habitantes em 2019.

A região Sul, por outro lado, foi a que registrou a maior queda no período, ando de 23,5 homicídios por 100 mil habitantes em 2009 para 13,2 mortes por 100 mil habitantes em 2019, uma redução de 43,71%.

Em 2019, os estados que registraram as maiores taxas de homicídios de crianças e adolescentes foram o Amapá (67,4), a Bahia (40,3), o Rio Grande do Norte (40,1) e o Acre (35,4), todos nas regiões Norte e Nordeste. Já no ranking dos municípios com mais de 100 mil habitantes que são os mais violentos para crianças e adolescentes, as regiões Norte e Nordeste têm o maior número de representantes, somando 11 no total.

De acordo com a pesquisa, a cidade com a maior taxa de homicídio de crianças e adolescentes em 2019 foi Salvador, com o total de 260 mortes naquele ano, uma taxa correspondente a 66,3 por 100 mil habitantes. Além da capital da Bahia, as capitais de Rio Grande do Norte, Alagoas, Amazonas, Pará, Pernambuco e Ceará também se encontram nas primeiras colocações do ranking de taxas de homicídios de crianças e adolescentes.

O relatório completo pode ser visto aqui.


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