SP: na periferia, população vive 23 anos a menos do que em bairro nobre

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Enquanto população do Jardim Paulista vive, em média, até os 81 anos, população do Jardim Ângela não chega aos 60 anos. Dados são da edição 2020 do Mapa da Desigualdade

Foto: Andréa Rêgo Barros | PCR | via Fotos Públicas

Por: Mariana Lima

A nova edição do Mapa da Desigualdade, lançado pela Rede Nossa São Paulo e pelo Programa Cidades Sustentáveis, revelou que moradores do Jardim Ângela, distrito da periferia da Zona Sul da capital paulista, vivem, em média, 23 anos a menos do que os moradores do Jardim Paulista, região nobre da Zona Oeste.

Enquanto a população do Jardim Ângela morre, em média, aos 58,3 anos, a população do Jardim Paulista chega aos 81,5 anos de idade.

“É um dado que resume a desigualdade na cidade de São Paulo em um único indicador. Temos uma cesta de ocorrências que constroem essa realidade. É tempo de vida que estamos perdendo. É como se, a cada quilômetro andado, um ano de vida fosse perdido. São Paulo tem um pedágio da desigualdade”, destaca Jorge Abrahão, coordenador do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

No total, o Mapa reúne indicadores dos 96 distritos da cidade, como de população; meio ambiente; direitos humanos; habitação; saúde; educação; cultura; esporte; e trabalho e renda.

A edição deste ano apresentou uma comparação entre os últimos anos de mandato na prefeitura da cidade desde 2012, ano da primeira edição do Mapa.

Nos últimos 8 anos, 9 indicadores melhoraram, enquanto 8 pioraram. Apenas 17 indicadores estão presentes em todas as edições do Mapa para a comparação.

O evento de lançamento do Mapa contou com a participação de 4 candidatos que estão concorrendo à Prefeitura de São Paulo, para que falassem sobre os dados apresentados.

Foram convidados os principais colocados nas pesquisas: Bruno Covas (PSDB); Guilherme Boulos (PSOL); Jilmar Tato (PT) e Márcio França (PSD). Celso Russomanno (Republicanos) não pôde participar.

Quais são os pedágios da desigualdade?

Entre 2016 e 2019, a violência contra a mulher na cidade de São Paulo aumentou 64%. O Mapa apontou que o número de mulheres vítimas de violência ou de 50.556, em 2016, para 83 mil no último ano. Os casos de feminicídio aumentaram 72% no mesmo período.

Em 2019, a cada 10 mil paulistanas, 228,1 sofreram algum tipo de violência. A região da Sé, bairro da região central, registrou um índice quase 4 vezes maior que a média da cidade: 865,4 mulheres, entre 20 e 59 anos, foram vítimas de alguma violência a cada 10 mil.

Outro índice que se destaca é em relação à violência contra a população LGBT+. O bairro da Liberdade registra 26 vítimas a cada 100 mil pessoas. A média da cidade é de duas vítimas a cada 100 mil.

Na mesma linha, seguem os casos de violência racial. Enquanto a média da cidade é de 2 vítimas a cada 10 mil, a região da Sé concentra 24 ocorrências a cada 10 mil.

“Existe uma relação entre onde a população negra está na cidade e a ocorrência da violência racial. Os casos ocorrem, em sua maioria, nas regiões centrais em que a população negra e parda é minoria. Quando a população negra precisa sair da margem e ir para o centro, acaba encontrando ambientes hostis”, pontua Carolina La Terza, assessora de projetos do Programa Cidades Sustentáveis.

Entre 2016 e 2019, o número total de pessoas vítimas do racismo e de injúria racial aumentou 60%, indo de 1.454 para 2.320, respectivamente.

O Mapa também destacou os dados sobre os homicídios de jovens entre 15 e 29 anos na cidade. A região do Morumbi concentra 58,9 mortes a cada 100 mil pessoas. A média da cidade é de 21 mortes a cada 100 mil.

Habitação, Transporte e trabalho

De acordo com o levantamento, apesar de a cidade ter uma média de 9,7% de favelas, só a região do distrito de Jardim São Luís, na periferia da Zona Sul, concentra 69,5% delas.

Por estar nos extremos, a população periférica enfrenta dificuldades para se deslocar pela cidade. No total, a população de 29 distritos, distribuídos pelas periferias das Zonas Leste, Oeste, Sul e Norte, não tem o ao transporte de massa (trem, metrô, monotrilho) perto de casa – no máximo 1 km de distância. A média da cidade é de 18,1%, enquanto a região da República concentra 88% deste o.

Em relação ao tempo gasto no transporte público, enquanto moradores do Brás gastam em torno de 30 minutos nos deslocamentos, a população de Marsilac, no extremo Sul, gasta, em média, duas horas e quatro minutos no transporte.

Quando se refere à renda, o Mapa mostra que a região da Sé (113,8) tem uma taxa de oferta de emprego formal 291 vezes maior do que a região do Anhanguera (0,35).

“O Brasil é um país que sabe como gerar riqueza, mas não como distribuí-la. A desigualdade tem uma relação direta com a qualidade de vida na metrópole e cobra um preço muito grande da sociedade, impactando diretamente na população e nas relações”, argumenta Jorge Abrahão, coordenador do Instituto Cidades Sustentáveis.

Para conferir o Mapa da Desigualdade completo, clique aqui.

Para assistir ao evento de lançamento, clique aqui.