Solidariedade cresce em meio à pandemia do novo coronavírus
Diante da crise causada pelo novo coronavírus, empresas, organizações da sociedade civil e cidadãos procuram formas de ajudar grupos mais vulneráveis

Por: Júlia Pereira
O mundo vive hoje uma pandemia, causada por um novo tipo de vírus que se espalha muito rapidamente, obrigando bilhões de pessoas em todo o mundo a abrirem mão de suas rotinas e se isolarem em casa. O novo coronavírus, causador da Covid-19, exige atenção redobrada não só com a nossa própria saúde, mas também com a saúde dos outros.
Para muitos, a sensação é de que nunca se falou tanto sobre a necessidade do cuidado com as outras pessoas, com os idosos, com os grupos que já possuem algum problema de saúde. Há também a sensação de que essa crise pode trazer uma série de aprendizados envolvendo a necessidade de olharmos mais para o coletivo.
Diante deste contexto, empresas, organizações da sociedade civil e cidadãos têm buscado formas de ajudar os grupos mais vulneráveis.
Empresas também podem ser solidárias
O coronavírus tem afetado nossas vidas de várias maneiras. A preocupação com a higiene, por exemplo, cresceu muito nas últimas semanas. E a demanda por produtos como álcool em gel também, causando até certa dificuldade para encontrar o produto em muitas farmácias e supermercados.
Em razão disso, a Cervejaria Ambev decidiu fabricar álcool em gel e destiná-lo a hospitais públicos das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Segundo a empresa de bebidas, o etanol será produzido na fábrica de Piraí (RJ) com o álcool retirado do processo produtivo das cervejas. Depois disso, será enviado a um parceiro da companhia em São Paulo, que transformará a substância em gel. Cada hospital público beneficiado deve receber 5 mil unidades.
A Ypê, marca brasileira de produtos de limpeza e higiene, anunciou nas suas redes sociais que também vai produzir álcool em gel e distribuí-lo gratuitamente. A sede da empresa em Amparo (SP) foi adaptada para essa produção.
A Natura e a Avon, empresas voltadas ao comércio de cosméticos, anunciaram a doação de 2,8 milhões de sabonetes em barra e líquido para comunidades carentes da América Latina. No Brasil, parte da doação será destinada a populações mais sensíveis dos estados de São Paulo, Pará e Bahia.
Já a General Motors do Brasil se colocou à disposição de autoridades locais para contribuir para a manutenção de respiradores inoperantes.
Organizações da sociedade civil criam fundo emergencial para a saúde
Organizações da sociedade civil (OSCs) também já estão promovendo iniciativas para reduzir o impacto do novo coronavírus na vida dos brasileiros. Uma dessas iniciativas é o Fundo Emergencial para a Saúde – Coronavírus Brasil (FUNDO), criado a partir de uma parceria entre o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), o Movimento Bem Maior e a BSocial.
“Nós resolvemos nos unir para fazer o FUNDO com o objetivo de fortalecer o sistema público de saúde, que é um ator muito importante no combate à Covid-19, já que existe uma previsão e estatísticas de que o sistema público não vai conseguir atender a quantidade necessária de pessoas quando o coronavírus se espalhar mais”, explica Maria Eugênia Duva Gullo, cofundadora da BSocial.
O FUNDO receberá doações de qualquer quantia e será gerido pela SITAWI, uma organização especializada em prestar serviços financeiros a causas sociais. A captação da iniciativa é feita através da BSocial. O ree será feito às instituições atendidas em lotes acumulados de R$ 50 mil.
As organizações que receberão os recursos do FUNDO são: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Fundação Faculdade de Medicina e a Comunitas. Cada uma delas possui listas de prioridades, como investimento em pesquisas para criação de novos testes para diagnosticar o coronavírus e a compra de insumos e equipamentos hospitalares.
“Eu vejo, realmente, que estão aparecendo inúmeros movimentos, é muito bonito de ver. Eu acho que é um momento da gente olhar para o próximo, é o momento da gente mostrar que sozinho a gente não chega a lugar nenhum, que a gente consegue viver isolado, mas que precisamos da ajuda dos outros, e que todo mundo pode ajudar a fazer a gente ar por esse momento mais suavemente, se é que é possível”, diz Maria Eugênia. Para saber mais sobre o FUNDO e realizar doações, clique aqui.
Há soluções surgindo nas favelas
Moradores de favelas e bairros mais vulneráveis também têm criado iniciativas para conter a propagação do vírus e ajudar uns aos outros. A União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), por exemplo, criou uma campanha de financiamento coletivo para ajudar famílias da comunidade durante a pandemia do novo coronavírus.
A UNAS é uma organização da sociedade civil que atende diariamente 3 mil crianças de 0 a 4 anos em seus Centros de Educação Infantil e 1,4 mil crianças e adolescentes de 6 a 14 anos em seus projetos sociais. Todas essas crianças e jovens recebem, além de cuidados, alimentação básica todos os dias.
Com o decreto da quarentena no estado de São Paulo, as crianças não poderiam continuar frequentando os espaços da UNAS, e veio a preocupação de que essas crianças poderiam ficar sem o básico no período.
Com isso, a entidade começou a pensar em soluções e a entrar em contato com parceiros institucionais para viabilizar, principalmente, a alimentação e materiais de higiene e limpeza destinados aos moradores de Heliópolis.
“As pessoas não são atingidas pelo poder público. A gente tem ouvido sobre algumas medidas, mas concretamente não chegou nada na ponta. Então, como a gente pode fortalecer isso no território?”, destaca Douglas Cavalcante, da equipe de Comunicação da UNAS. Hoje, a campanha de arrecadação para a entidade já está disponível para receber doações online. Clique aqui e saiba mais.
Outra percepção da equipe da UNAS foi em relação às práticas de prevenção do novo coronavírus. “A gente pensou: ‘Vamos precisar falar das medidas de prevenção, porque a mídia está divulgado e não está chegando aqui. Ou chega pela televisão e as pessoas são sabem o que fazer’”, explica Douglas.
Por isso, a entidade entrou em contato com gráficas para a produção de faixas com as medidas de combate à Covid-19, que foram espalhadas em vários pontos da comunidade, e começou a usar um carro de som com uma vinheta que reforça os riscos do coronavírus.

Douglas ressalta que as medidas que estão sendo tomadas pelas OSCs não excluem a necessidade de ações promovidas pelos governos. “Acho que é o nosso papel como sociedade civil cobrar do poder público ações para esse território também”.
A ajuda tem partido tanto das organizações parceiras, como também dos próprios moradores, que organizam cestas básicas com produtos que têm em casa pensando em ajudar outras pessoas de Heliópolis que estão em uma situação financeira pior.
“A gente está num momento em que a humanidade está falando mais do que qualquer coisa. Acho que a frase que a gente colocou na faixa pode resumir um pouco disso também: ‘Cuide de você e de quem você ama’. E nesse caso de solidariedade você está cuidando da pessoa que às vezes você nem sabe quem é, mas é um ser humano”, diz Douglas.
Todo mundo pode fazer a diferença
A ação de cada um é muito importante neste momento. Um exemplo de iniciativa individual que muitas pessoas têm praticado é se disponibilizar para ajudar os idosos em atividades como fazer compras no supermercado, evitando que eles precisem se colocar em risco. É o que Anna Carvalho, de 20 anos, tem feito.
A estudante conta que alguns moradores do prédio onde ela mora colocaram um recado nos elevadores se propondo a ajudar os vizinhos de mais idade que precisam de produtos vendidos em farmácias, mercados e padarias e não podem sair de casa. Ela decidiu incluir o nome dela na lista de voluntários.

“Eu acho que a solidariedade das pessoas muda muito com o momento que o mundo está vivendo. Se as pessoas notassem que essa solidariedade é necessária não só em tempos de pandemia, talvez o mundo fosse um pouco mais habitável”, reflete Anna.
Segundo os últimos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 400 mil pessoas ao redor do mundo já foram infectadas pelo novo coronavírus e mais de 18 mil pessoas morreram. E os números só vêm aumentando.
Mesmo em meio às notícias tristes relacionadas à Covid-19, é possível enxergarmos a humanidade que ainda existe em cada um que pensa e desenvolve iniciativas em prol do bem-estar do outro.
“Neste momento, a gente precisa ter muita solidariedade, principalmente com alguns grupos. Ter muita solidariedade com os profissionais da saúde, com os jornalistas, os porteiros, os professores que estão se desdobrando para dar aula à distância. Não é só bater palma na varanda para esses profissionais, é valorizá-los, é agradecer a eles pela dedicação”, finaliza Anna.