Seletividade alimentar: Um sinal de autismo em crianças

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Uma em cada 36 crianças são autistas, sendo o diagnóstico precoce a melhor forma de garantir qualidade de vida; na primeira infância, um dos principais sinais do autismo está relacionado aos comportamentos alimentares atípicos. Cartilha do Instituto PENSI apresenta informações completas sobre o tema.

Imagem: Autismo e Realidade/ Divulgação

Falar sobre seletividade alimentar é falar sobre um comportamento comum a muitas crianças, principalmente, entre 2 e 5 anos de idade. Cerca de 45% das crianças apresentam algum grau de dificuldade alimentar, incluindo a seletividade. Este número pode quase dobrar (80%) quando há alguma doença que comprometa a alimentação, como nos casos de um transtorno do neurodesenvolvimento, como o TEA.

Segundo estudos do CDC, agência de saúde dos EUA que é referência na produção de pesquisas e monitoramento nesse grupo populacional, 1 em cada 36 crianças é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas como a alimentação pode ser um fator relevante para o diagnóstico precoce e quais estratégia para lidar com as dificuldades alimentares e o Transtorno no Processamento Sensorial (TPS) que variam de criança para criança?

Esses dados são apresentados na cartilha “A Alimentação da Criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, material desenvolvido pela equipe do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto PENSI para guiar pais e responsáveis que possuem crianças com dificuldades alimentares na primeira infância, desde o nascimento até a adolescência. Alguns podem apresentar desconforto ao tocar certos alimentos, preferência por cores específicas, reações intensas de recusa e até mesmo comportamentos indesejados durante as refeições. 

Segundo o Tismoo, o fato que pode ser comprovado em uma pesquisa onde pais de crianças com TEA relataram que  67% tinham seletividade alimentar, sendo a textura dos alimentos (69%) o fator de maior relevância nessa seletividade.

Em uma pesquisa feita pelo Autismo e Realidade, as crianças do grupo com autismo foram introduzidas aos alimentos com textura granulosa e sólida significativamente mais tarde do que as típicas. E também houve diferença nas respostas às questões relacionadas à textura preferida do alimento e a intolerância à textura particular de um alimento pela criança com mais de seis meses.

Sensorialidade

Segundo Mauro Fisberg, fundador e coordenador do CENDA, a seletividade alimentar de uma criança com TEA em relação à textura dos alimentos está ligada a sensorialidade.

“Primeiro com barulho e com a crocância, tem a ver com a forma de apresentação. Por ser um produto que normalmente é mais duro, temos uma possibilidade maior de aceitação do que um alimento que tem a forma mais de papa. Normalmente a criança não gosta da consistência muito pastosa, porque está relacionado a se sentir em uma condição de ‘estar suja’ e o toque traz a sensação de algo muito mole, é desconfortável”, explica. “Já a crocância chama atenção para a criança, há uma melhor aceitabilidade porque tem a ver com a sensorialidade, ela pode estar diminuída,  assim precisa de alimentos mais fortes e ter texturas mais duras, para que tenha mais tempo de permanência na boca e com isso ela consegue sentir o alimento, por essa falta do paladar”.

Entre os hábitos sinalizados em uma criança com TEA estão: dificuldade para largar a mamadeira, hipersensibilidade à textura ou temperatura dos alimentos, recusa em aceitar mudanças na dieta, guardar alimentos no bolso em vez de comer e preferências alimentares limitadas. Caso a criança apresente esses comportamentos, é importante uma visão de especialista sobre alimentação para descobrir a causa.

Isso pode estar associado a dificuldades no processamento sensorial, onde o Sistema Nervoso Central recebe e interpreta informações dos sentidos como audição, tato, paladar, olfato e visão durante as refeições. Para muitas crianças autistas, essa sobrecarga sensorial pode tornar o momento da alimentação desafiador, diz um estudo apresentado na nova cartilha do PENSI.

Cartilha

O diagnóstico precoce do autismo permite que a criança inicie o tratamento com um analista de comportamento. O acompanhamento especializado ajuda a melhor hábitos e comportamentos do autista, incluindo aceitar algumas mudanças na alimentação para manter uma dieta saudável. Estudos anteriores indicam que essas intervenções costumam ser mais eficazes quando implementadas durante os anos pré-escolares (antes dos 5 anos de idade).

A criação da cartilha A Alimentação da Criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA)” foi feita por profissionais especializados em pediatria, que trabalham com uma abordagem e visão multidisciplinar. Os autores, na prática, fazem a assistência às crianças com dificuldades alimentares, além de produzirem conteúdo e capacitarem profissionais para lidarem com as amplas questões da alimentação infantil.

“Precisávamos entender os diferentes tipos de crianças com problemas do autismo e como trabalhar com elas de forma integrada e multiprofissional, desenvolvendo assim a cartilha com a participação de toda nossa equipe. Nós temos, além do médico pediatra, gastroenterologista, psiquiatra, fonoaudiólogo, nutricionista e psicóloga, para trabalhar nas diferentes situações e orientações necessárias, não só para criança com espectro, mas trabalhar primeiro em entender a fisiologia e a condição do grau de desenvolvimento e crescimento da alimentação da criança”, explica Mauro Fisberg.

Há dicas de como estimular o bebê recém-nascido no processo de introdução alimentar, além de sugestões com variedades de alimentos para construção de uma rotina para as refeições, tabela com lista de alimentos dos diferentes grupos, como vegetal e animal como sugestões para as refeições diárias da criança. Para melhor conhecimento, acesse o material aqui.

O Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) é um centro de atendimento multidisciplinar, especializado no atendimento e tratamento de problemas alimentares e suas consequências. O CENDA é pioneiro e referência no Brasil, desde o atendimento em saúde até a produção de pesquisa e ensino, com o apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

O Autismo e Realidade ou a fazer parte da estrutura do Instituto PENSI (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil) em 2015, quando foi incorporado à Fundação José Luiz Edygio Setúbal (FJLES). Em conjunto ao PENSI, a instituição realiza pesquisas científicas sobre o autismo e promove cursos para a capacitação de profissionais, cuidadores e familiares de pessoas diagnosticadas com TEA.


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