Pressão internacional contra desmatamento ameaça carne e soja no Brasil

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Pelas novas regras em discussão na União Europeia, qualquer produto oriundo de áreas desmatadas a partir de 2021 seria barrado, ainda que esse desmate seja considerado legal pelo país de origem. No Brasil, soja e carne bovina estão frequentemente associadas ao desmatamento

Imagem: Adobe Stock

A última conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima, a COP 26, deu combustível para uma série de mudanças em regras comerciais que estão sendo discutidas por grandes países e podem ter impacto significativo no Brasil.

As propostas de mudanças buscam combater a compra de produtos associados ao desmatamento e têm sido debatidas por legisladores ou grupos de importadores na China, União Europeia e Estados Unidos.

O combate ao desmatamento é uma das principais estratégias globais para frear as mudanças climáticas, já que a destruição das florestas lança na atmosfera uma grande quantidade de gases causadores do efeito estufa.

As iniciativas em discussão podem atingir os dois principais pilares do agronegócio nacional: a soja e a carne bovina.

Isso porque os dois produtos, que hoje têm grande penetração no mercado global, são frequentemente associados ao desmatamento ocorrido no Brasil.

Pelas novas regras em discussão na União Europeia, no entanto, qualquer produto oriundo de áreas desmatadas a partir de 2021 seria barrado, ainda que esse desmate seja considerado legal pelo país de origem.

A medida impactaria principalmente a soja produzida na região de Cerrado conhecida como Matopiba, que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia.

Essa é a principal região brasileira por onde a soja tem se expandido e ainda poderia se expandir nos próximos anos.

Já na Amazônia, um acordo entre as principais empresas compradoras de soja já impede a comercialização de grãos cultivados em áreas desmatadas após 2008, o que tem freado a expansão deste cultivo nas áreas recentemente derrubadas no bioma.

As restrições europeias em discussão também se aplicariam a outros produtos, como carne bovina, café, cacau, madeira e óleo de palma.

Para que os itens consigam entrar no mercado europeu, os fornecedores teriam que comprovar que os produtos não têm qualquer relação com o desmatamento – trabalho que tende a elevar os custos.

A proposta gerou duras reações entre produtores de soja brasileiros. A Aprosoja, principal associação do setor, classificou a iniciativa de “protecionismo comercial disfarçado de preocupação ambiental”.

Em nota, a associação afirmou que a iniciativa “trará impacto direto não somente para os brasileiros, mas também aos países que são abastecidos pelo Brasil, entre eles grandes mercados na Ásia, na África e, até mesmo, na própria Europa”.

A União Europeia é a segunda maior importadora de soja em grãos brasileira, responsável por 8% das compras do produto nos últimos cinco anos. E é a maior compradora de farelo de soja nacional, com 52% das compras.

Fonte: BBC Brasil


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