Perseguidos pela Ditadura Militar eram enviados para hospício
Pelo menos 24 presos políticos sem histórico de problemas mentais foram parar em instituições psiquiátricas devido a decisões da justiça na época da Ditadura Militar. 22 deles foram submetidos à tortura antes disso

Um levantamento inédito descobriu 24 casos de presos políticos internados pela Ditadura Militar brasileira em instituições psiquiátricas, em nove unidades da federação. Pelo menos 22 foram antes submetidos à tortura em prisões comuns.
As internações foram determinadas pela Justiça Militar ou por autoridades que tinham os presos políticos sob custódia. Nenhum deles tinham histórico de problemas mentais.
Foi o caso da estudante Sylvia Montarroyos, que tinha apenas 17 anos quando foi presa pelo regime militar por distribuir um jornal com conteúdo “subversivo” e alfabetizar lavradores.
Desacordada, recebia soro na ala feminina do Manicômio da Tamarineira, no Recife. Os “olhos diabolicamente ingênuos”, como descreveu o delegado que a prendera, estavam fechados. Media 1,55 m e pesava menos de 30 kg. Os cabelos longos tinham sido raspados em um quartel do Exército. No braço esquerdo, uma das queimaduras de cigarro que marcavam sua pele tinha infeccionado e cheirava a carne podre.
Sylvia de Montarroyos escreveu o livro de memórias ‘Réquiem por Tatiana’. O drama vivido pela ativista é relatado nas mais de 400 páginas do livro. Segundo Sylvia, a obra relata suas memórias desde 2 de novembro de 1964, quando foi presa, até o momento em que saiu do Brasil, quase dois anos depois.
Algumas formas de tortura empregadas pela Ditadura Militar tinham como objetivo “provocar danos sensoriais, com consequências na esfera psíquica, tais como alucinações e confusão mental”, diz o relatório da Comissão Nacional da Verdade. A comissão foi criada para investigar violações de direitos humanos no regime militar.
Alucinações e confusão mental, assim como depressão profunda ou ideias suicidas, são quadros relatados na maioria dos 24 casos. Há, inclusive, laudos psiquiátricos — elaborados por peritos indicados pela própria Justiça Militar — que sugerem que esses sintomas psíquicos foram desencadeados pela experiência na prisão.
Informado sobre o levantamento, o Ministério da Defesa afirmou, por nota, que “os fatos relativos ao período compreendido entre os anos 1964 a 1973 foram abrangidos pela Lei de Anistia, que alcançou, de forma ampla, geral e irrestrita, atos de cidadãos brasileiros”. O Ministério da Defesa responde pelas Forças Armadas.
Fonte: UOL
20/10/2021 @ 11:18
[…] 1964 – 15 de março de 1985) e foi um dos períodos mais sombrios da história do país, com prisões arbitrárias, tortura e outros diversos tipos de violações dos direitos […]