Paulo Freire: o papel da educação para uma cultura democrática

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Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, completaria 101 anos neste dia 19 de setembro.  Sua metodologia resiste ao tempo e evidencia como a educação é importante para a prática da liberdade e para uma cultura democrática no país

Foto: Clipping Path

Por Iara de Andrade

Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, completaria 101 anos neste dia 19 de setembro. Tido como Patrono da Educação Brasileira, elaborou uma forma de ver e ler o mundo, refletindo, a partir da própria realidade, sobre como a educação é importante para a prática da liberdade e para uma cultura democrática no país.

A atualidade do seu pensamento se traduz em várias de suas publicações, como a ‘Educação como prática da liberdade’ (1967) e ‘Pedagogia do Oprimido’ (1968), obras que fundamentam a pedagogia crítica e são amplamente utilizadas por professores do mundo todo até hoje.

Para falar sobre o assunto, o Observatório do Terceiro Setor entrevistou Joana Salém, doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo (SP) e especialista em América Latina, que defendeu que o legado de Paulo Freire na construção de uma cultura democrática brasileira se baseia em três dimensões.

A primeira delas é a alfabetização de adultos, que ofereceu um método de educação próprio para o adulto analfabeto trabalhador ar a cultura letrada, respeitando-o enquanto sujeito de saber e político.

A segunda dimensão trata sobre a interação entre educação e política, mostrando que a partir do diálogo e da confirmação de interesses sociais, educacionais, críticas e olhares sobre a realidade foi possível ampliar a autocompreensão dos mais vulneráveis de se entenderem enquanto sujeitos políticos.

O terceiro pilar está relacionado ao fato de que a Pedagogia Freiriana é uma filosofia educacional inacabada, que se alimenta de práticas existentes e, por isso, é capaz de impulsionar uma grande variedade de práticas e invenções, criações e transformações internas.

Sua metodologia foi aplicada durante os anos 50 e 60, uma época em que o adulto analfabeto não podia votar; direito que ou a ser garantido apenas em 1988, com a criação da Constituição Federal. E apesar das taxas de analfabetismo do país terem diminuído desde então, o Brasil ainda tem 11 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever.

“Para se falar em cultura democrática, é preciso falar em uma população completamente alfabetizada, uma vez que a democracia a pelo mundo letrado. E o controle do poder também a pelo mundo letrado. Por isso, saber ler e escrever e conhecer esses códigos básicos da nossa língua escrita é fundamental para qualquer democracia”, explica Joana.

A educação libertadora, defendida por Paulo Freire, é parte importante para transformar essa realidade. Maurício Costa de Carvalho, professor, geógrafo, fundador e coordenador nacional da Rede Emancipa, movimento social de educação popular, participou do programa de rádio Olhar da Cidadania, do Observatório, e falou sobre essa importância para que tenhamos relações livres e justas e consigamos desenvolver ao máximo a potência de cada ser humano.

“A Educação libertadora está longe de ser uma relação hierárquica entre educador e educando do ponto de vista do conhecimento. É uma educação entre sujeitos, e só pode ser libertadora se partir desse diálogo entre sujeitos diferentes. A educação precisa ser libertadora para não se confundir com as ideias de que todos podem ser dominantes numa sociedade, que seria uma sociedade de barbárie, guerra de todos contra todos”, pontua.


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