Organizações unificadas para criar uma educação antirracista
No mês em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, o Observatório do Terceiro Setor entrevistou organizações que formam o Projeto SETA, iniciativa que tem como missão desenvolver um sistema de educação antirracista no país

Por Iara de Andrade
“A educação é um vetor de transformação e de mobilidade social. Os dados sobre desempenho escolar da população negra, indígena e quilombola evidenciam que o estado brasileiro não oferece uma educação de qualidade para essas populações”.
É assim que Dandara Oliveira, especialista em Juventude e Raça na ActionAid, organização internacional que trabalha por justiça social, equidade de gênero e étnico-racial e pelo fim da pobreza, desenha o cenário educacional brasileiro no qual o Projeto Sistema Educacional Transformador e Antirracista (Projeto SETA) foi criado.
Em conjunto com outras organizações e movimento sociais, a entidade faz parte do projeto que têm a missão de desenvolver um sistema de educação antirracista no país, a partir de um modelo que possa ser aplicado e replicado em todo o território brasileiro, “transformando profundamente o ecossistema da nossa educação pública, que é ainda muito marcada pelo eurocentrismo e pelo racismo como um sistema de dominação social”, explica Dandara.
A Ação Educativa, associação civil sem fins lucrativos atuante nos campos da educação, cultura e juventude, na perspectiva dos direitos humanos, também compõe a iniciativa agregando sua experiência no desenvolvimento de metodologias participativas, pesquisas e processos formativos historicamente comprometidos com o aprimoramento de uma política pública educacional antirracista.
“Entendemos que a ampliação da qualidade educacional no Brasil está condicionada à apropriação do aprendizado da resistência negra protagonizada e sistematizada pelo movimento negro brasileiro; desde nossa fundação buscamos articular esse reconhecimento a todas ações desenvolvidas nos diferentes âmbitos de nossa atuação”, conta Ednéia Gonçalves, coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa.
Outra organização educacional que integra o Projeto SETA é a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação (CNDE). Impulsionada por um conjunto de organizações da sociedade civil, nasceu com o objetivo de somar políticas distintas, priorizando ações de mobilização, pressão política e comunicação social, em favor da defesa e promoção dos direitos educacionais.
Considerada atualmente como a articulação mais ampla e plural no campo da educação brasileira, a Campanha contribui com o SETA a partir do Projeto Euetu – Grêmios Coletivos Estudantis, buscando diagnosticar a existência de grêmios e coletivos estudantis nas escolas do país, além de entender se essas mesmas escolas têm desenvolvido atividades e ações antirracistas.
“É através do Grêmio que os estudantes se tornam participantes de fato, o que contribui para sua formação, por meio do estímulo à socialização, da geração de novas responsabilidades, da participação política, da formação cidadã, do cuidado com o espaço, do fortalecimento de vínculos na escola e junto à comunidade escolar e, ainda, da integração à luta por direitos. Estes espaços são responsáveis por promover debates sobre inclusão e antidiscriminação”, explica Geusilene Costa, assessora istrativo-financeiro da CNDE.
A comunicação como ferramenta antirracista
“A comunicação midiática tem um papel fundamental no projeto SETA. Não apenas para comunicar o que estamos a fazer, mas para ampliar a nossa voz e a dos nossos parceiros e ajudar a consolidar a agenda antirracista para a população”, explica Dandara.
Em parceria com o Canal Futura, o projeto exibiu a série audiovisual ‘Seta: caminhos possíveis por uma educação antirracista no Brasil‘, uma produção gravada na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, no Quilombo Rio dos Macacos, na Bahia e no Parque das Tribos, em Manaus. A proposta propõe reflexões, compartilha histórias e fomenta a relevância da pauta para o desenvolvimento do país.
“Ao longo dos anos, esperamos construir na sociedade o reconhecimento de que o conhecimento e protagonismo dos povos negros, indígenas e quilombolas são essenciais para o Brasil”, conclui Dandara Oliveira.
O Projeto SETA é composto pela ActionAid, pela Ação Educativa, pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, pela Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas e pela UNEafro Brasil.
Acompanhe o Projeto e saiba mais sobre seus princípios e ações.