O jornalista que foi torturado e morto pela ditadura militar e deixou um legado

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A morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, escancarou as violações de direitos humanos cometidas pelo regime militar no Brasil. Ato por sua morte foi primeira grande manifestação no país contra práticas da ditadura

Vladimir Herzog em sua mesa de trabalho na TV Cultura (Foto: Wilson Ribeiro/Acervo Vladimir Herzog)

Vladimir Herzog foi um jornalista, professor e dramaturgo brasileiro, e sua morte escancarou as violações de direitos humanos cometidas pelo regime militar no Brasil.

Vlado Herzog nasceu na Iugoslávia, em 1937. Pouco tempo depois, em 1941, o país foi ocupado por tropas nazistas, fazendo com que sua infância fosse marcada pelos rastros da Segunda Guerra Mundial e sua família se refugiasse na Itália. Aos nove anos, eles foram enviados para Santa Maria al Bagno, cidade no sul italiano, onde os refugiados de guerra e apátridas puderam escolher um país para se fixar. Os Herzog escolheram o Brasil, onde Vlado se naturalizou e ou a como Vladimir, por acreditar que seu nome era muito exótico para os brasileiros.

Sua carreira no jornalismo começou em 1958, como estagiário do jornal O Estado de S. Paulo, onde foi itido na redação no ano seguinte. Em 1964, a menos de dois meses do golpe contra o governo de João Goulart, o repórter se casou com a estudante de ciências sociais Clarice Chaves. Juntos, mudaram-se para Londres, onde Herzog ou a trabalhar no Serviço Brasileiro da BBC. Lá nasceram seus dois filhos, Ivo e André.

Em 1968, a família retornou ao Brasil e o jornalista começou a trabalhar na revista Visão, onde atuou por cinco anos. Além disso, nessa mesma época ele ou a dar aulas na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

No ano de 1975, Herzog foi escolhido pelo secretário de Cultura de São Paulo, José Mindlin, para dirigir a TV Cultura. Nesse período, segundo o Instituto Vladimir Herzog, “sua postura política e seu compromisso com uma prática jornalística voltada para a divulgação das notícias do Brasil real produziram reações e denúncias por parte de acólitos [apoiadores] da ditadura”.

Em outubro do mesmo ano, Herzog foi chamado para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), e se apresentou voluntariamente. Esse foi mais um movimento entre as dezenas de detenções determinadas pela Operação Jacarta, conduzida pelo Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado ao Exército, para eliminar as bases do partido na imprensa, nos sindicatos e em outras entidades.

Logo que entrou no quartel do exército, foi encapuzado, amarrado a uma cadeira, sufocado com amoníaco e submetido a espancamento e choques elétricos, seguindo a rotina aplicada a centenas de outros presos políticos. Após as torturas, o jornalista foi morto no dia 25 de outubro de 1975. A versão oficial da época, apresentada pelos militares, foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto. Segundo o livro ‘Os Anos de Chumbo’, de Luiz Octavio de Lima, a nota afirmava que “o cadáver de Vladimir Herzog foi encontrado, junto à janela, em suspensão incompleta e sustido pelo pescoço, através de uma cinta de tecido verde” e que “o traje que vestia o cadáver compunha-se de um macacão verde de tecido igual ao da referida cinta”.

Porém, a imagem divulgada mostra que o corpo do jornalista pendia da grade de uma janela fechada por tijolos de vidro, e que ele estava quase ajoelhado, o que tornava a versão do suicídio por enforcamento muito improvável. Além disso, testemunhos de outros presos no local, principalmente do jornalista Rodolfo Konder, confirmaram o assassinato.

Após sua morte, oito mil pessoas se reuniram na Catedral da Sé, no centro de São Paulo. O ato foi considerado como a primeira grande manifestação de protesto da sociedade civil contra as práticas da ditadura militar.

Por iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e de outras entidades, foi instituído em 1978 o Prêmio Vladimir Herzog, que destaca anualmente reportagens que promovam a democracia, a cidadania e os direitos humanos.

Em março de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo atendeu a um pedido da Comissão Nacional da Verdade e emitiu novo atestado de óbito a Herzog, em que sua morte é atribuída a “lesões e maus-tratos durante o interrogatório”. Já em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pela falta de investigação, de julgamento e de punição pela sua morte.

Vladimir Herzog deixou um legado de luta contra as violações de direitos humanos no Brasil e mostrou para o mundo os horrores da Ditadura Militar brasileira.

Fonte: Revista Galileu


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