Mulheres no pós-pandemia: cenário de violência desafiará novo governo
Dados do Mapa da Desigualdade 2022 e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam aumento nos casos de violência, feminicídio e estupro de mulheres durante a pandemia: no primeiro semestre deste ano, quatro mulheres foram assassinadas por dia. Segundo especialista, reverter o cenário depende de investimento em políticas públicas

Por Iara de Andrade
O Mapa da Desigualdade 2022, documento publicado anualmente que tem por objetivo revelar a cidade de São Paulo a partir de suas diferenças regionais, baseado em dados sobre os 96 distritos da capital, foi lançado em 23 de novembro.
Entre os temas abordados na pesquisa está o de Direitos Humanos, que, nesta edição, trata, especificamente, sobre violência racial, LGBTQIAP+ e de gênero. E os números sobre o último assunto indicam um aumento na violência contra a mulher durante a pandemia.
De acordo com o documento, todos os tipos de violência contra a mulher aumentaram, em média, 67,9%, em 2021. No mesmo ano, o número total de vitimadas pela violência de gênero foi de 85.325, um acréscimo de 68,7% em comparação às 82.873 de 2020. O melhor valor ficou registrado em Alto de Pinheiros (116,5) e o pior foi na Barra Funda (636,2).
Fazendo coro à problemática, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública atualizou os dados sobre a violência contra meninas e mulheres durante o 1º semestre de 2022.
Lançada em 07 de dezembro, a atualização aponta que feminicídios aumentaram 10,8% nos últimos quatro anos; um montante de 2.761 mortes nos primeiros semestres de 2019 a 2022. Somente entre janeiro e julho deste ano, foram 699 casos, uma média de quatro mulheres mortas por dia.
Quando se fala em estupro, foram 29.285 casos desde o início deste ano. Um acréscimo de 12,5%, sendo 74,7% registrados como estupro de vulnerável, nos quais a vítima é incapaz de consentir com o ato sexual. Considerando somente os primeiros semestres dos quatro anos citados, 122 mil mulheres foram estupradas no total.
“Os dados mostram que a violência contra a mulher aumentou nos últimos quatro anos, ao mesmo tempo em que o investimento em políticas públicas foi deliberadamente reduzido, sobretudo em nível federal. É importante observar que o aumento de 10,8% nos feminicídios contrasta com uma série de outros crimes, como os homicídios em geral, que caem ano a ano desde 2018”, explica Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
De acordo com o relatório, a região Norte do país apresenta o maior crescimento do número de casos no período citado: 75%, com elevações maiores nos estados de Rondônia (225%), Tocantins (233,3%) e Amapá (200%).
O Centro-Oeste ficou em segundo lugar, com 29,9% dos registros; seguido do Sudeste, com 8,6%; e por último, o Nordeste, com 1%. A região Sul foi a única que apresentou redução no número de feminicídios (1,7%).
O cenário continua colocando em xeque o Objetivo de Desenvolvimento número 5, da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre igualdade de gênero e especificamente suas metas de eliminar qualquer tipo de violência contra mulheres e fortalecer políticas para a igualdade de gênero.
“O Governo Federal historicamente teve um papel importante no enfrentamento à violência contra a mulher. O desafio é restabelecer o entendimento da desigualdade de gênero e poder como elementos centrais para compreensão das violências sofridas por meninas e mulheres, cis, trans e travestis. É um tema que precisa ser endereçado por diferentes pastas”, conclui a diretora executiva do Fórum.