Lista: 8 canções que foram censuradas pela ditadura militar no Brasil

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Durante a ditadura militar no Brasil, muitos compositores usaram suas canções para criticarem o regime autoritário. Relembre nesta lista algumas das obras censuradas

Imagem: Domínio Público

Por: Isabela Alves

A ditadura militar no Brasil durou 21 anos (1 de abril de 1964 – 15 de março de 1985) e foi um dos períodos mais sombrios da história do país, com prisões arbitrárias, tortura e outros diversos tipos de violações dos direitos humanos.

A ditadura teve 5 mandatos militares e instituiu 16 atos institucionais – mecanismos legais que se sobrepunham à Constituição. Isso significa que nesta época houve diversas restrições à liberdade, bem como a repressão aos opositores do regime e a censura. 

Nesta lista, relembre canções de artistas brasileiros que tentaram burlar a censura da época e contaram como era viver naquele cenário. 

1. Apesar de Você — Chico Buarque 

Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, foi um dos artistas que se exilaram do país, após ser acusado de que suas produções eram subversivas. 

Na época, ele relatou que a canção retrata um casal brigando, mas a justificativa não foi aceita e ela acabou sendo censurada. 

“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, diz a canção.

2. Que As Crianças Cantem Livres — Taiguara 

O cantor Taiguara foi o artista que mais teve as suas composições barradas durante a ditadura, sendo 68 canções ao todo, entre os anos de 1972 e 1973. Mesmo assim, ele continuou se esforçando para que suas músicas chegassem ao conhecimento do grande público.

Em 1973, com o lançamento de ‘Que As Crianças Cantem Livres’, ele descreve os tempos sombrios da ditadura. Após a repercussão, ele se exilou em Londres no mesmo ano. 

“E que as crianças cantem livres sobre os muros

E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor

E que o ado abra os presentes pro futuro

Que não dormiu e preparou o amanhecer…”

3. Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores — Geraldo Vandré 

Essa canção ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, um importante concurso de músicas nacionais e estrangeiras que era transmitido na televisão. 

O concurso anual que era realizado no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e foi um importante veículo para a divulgação de músicas de protesto.

Com a visibilidade do segundo lugar, a canção ‘Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores’ foi censurada, após fazer um sucesso estrondoso. A canção clama para que o povo una as suas forças para lutar contra a violência.

“Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição: de morrer pela pátria e viver sem razão”

4. Tiro Ao Álvaro — Adoniran Barbosa, com a participação de Elis Regina 

A canção foi escrita em 1960, mas foi censurada pela ditadura no momento do seu lançamento, em 1973, pois a letra humorística continha “palavras propositadamente incorretas”. 

“De tanto levar frechada do teu olhar, meu peito até parece sabe o quê? 

Táubua de tiro ao Álvaro, não tem mais onde furar”

5. Meu Novo Sapato — Paulinho da Viola 

Esta canção contém diversas metáforas sobre a ação dos militares na época da ditadura. Na versão original, a música se chamava apenas ‘Meu Sapato’, mas teve a letra atualizada para o seu lançamento. 

Esse foi o único samba de breque que foi vetado na carreira de Paulinho. De acordo com a avaliação, a letra “dá margem a interpretações dúbias, podendo ser uma alusão ao militarismo”. 

“Um barato meu sapato, bico chato de puro aço inoxidável 

(…) Que espanta os ratos, desperta os rotos

Desgosta os retos, de bico estreito com suas meias

Botões de ouro, com suas siglas de orgulho e amargura 

Sempre voltados para o ado”.

6. Cálice — Chico Buarque, com a participação de Milton Nascimento 

O cálice é um recipiente utilizado em rituais cristãos, no qual o líder religioso bebe vinho ou água. Nessa canção, o nome ganha um duplo sentido, já que também pode ser lido como “cale-se”, em referência à censura que os artistas sofriam na época. 

A música foi composta por Gilberto Gil e de início seria gravada por ele. Mas após o artista ter tido o seu microfone desligado durante uma apresentação em 1978, ele nunca mais a regravou. Com isso, Chico Buarque registrou a canção no seu disco que foi lançado naquele mesmo ano.

“Quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser escutado

Esse silêncio todo me atordoa. Atordoado eu permaneço atento”

7. O Bêbado e a Equilibrista — Elis Regina 

Esta canção é considerada como um hino da anistia. A letra política critica o exílio de diversos artistas brasileiros e também lembra de casos de repressão, como o do operário metalúrgico Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, ambos assassinados sob tortura durante o período.

O equilibrista faz alusão ao próprio artista que, mesmo sabendo que pode se machucar, continua dando o seu show e educando as pessoas através da arte. 

“A esperança dança na corda bamba de sombrinha

E em cada o dessa linha pode se machucar”

8. É Proibido Proibir — Caetano Veloso

Esta canção de Caetano Veloso foi recebida com muitas críticas, tanto da direita quanto da esquerda do país. 

A direita conservadora apontou que a canção era ofensiva aos “bons costumes”, enquanto a esquerda não concordava que a canção tivesse influências dos Estados Unidos, por conta do uso de guitarras elétricas.

Após o lançamento, Caetano sofreu diversas agressões, como arremessos de verduras e frutas ao palco.

“É

E eu digo não

E eu digo não ao não

Eu digo

É! Proibido proibir”


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