Liga Solidária: ONG criada e gerida por mulheres completa 100 anos de atuação
VoluntariadoEm entrevista para o Observatório do Terceiro Setor, a presidente voluntária da Liga Solidária, Rosalu Queiroz, falou sobre como o terceiro setor evoluiu no ecossistema social brasileiro ao longo dos últimos 100 anos

Por Ana Clara Godoi
Completando 100 anos em 2023, a Liga Solidária, organização do terceiro setor que atua no combate das desigualdades sociais, sempre foi presidida por mulheres voluntárias. Hoje, 89% das pessoas que trabalham na entidade são mulheres.
A fundação da Liga se deu em um momento da história em que somente os homens trabalhavam fora de casa, portanto apenas as mulheres conseguiam participar de trabalhos voluntários. Desde então, a organização desenvolveu iniciativas de proteção à mulher, oferta de emprego e cursos profissionalizantes.
“Temos muito orgulho dessa história, principalmente por sabermos de todas as barreiras e dificuldades que elas enfrentaram numa sociedade muito mais masculinizada que a atual. Elas foram muito pioneiras, desbravadoras, empreendedoras mesmo. Compravam e vendiam imóveis, construíam casas e prédios, negociavam com prefeitos e governadores. Elas criaram um modelo que é inovador até hoje”, afirma Rosalu Queiroz, presidente voluntária da Liga Solidária.
Ao longo de um século, a Liga sobreviveu a diversos momentos históricos, como as duas guerras mundiais, a Revolução de 32, a ditadura militar e a pandemia de Covid-19. “Foram muitas as mudanças, tanto da sociedade como das organizações sociais. Todas as frentes de assistência, mas principalmente a Liga, aram por transformações desde a forma de atuação, forma e tamanho de impacto, causas atendidas, relação com o poder público, engajamento de outros atores da sociedade como empresas, o mundo acadêmico, entre outros”.
Hoje o terceiro setor emprega 6 milhões de pessoas no Brasil e contribui para 4,27 do PIB nacional. Para Rosalu, frentes como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e o Marco Legal das OSC beneficiaram a atuação da sociedade civil, facilitando a formação de parcerias e a aumentando a consciência de cidadania. E em momentos de crise sanitária, como a pandemia de Covid-19, o trabalho do setor se mostrou essencial.
“Ações emergenciais e apoio mais assistencialistas, como doação de cestas de alimentos e higiene, o à internet, roupas, fraldas, remédios, foram fundamentais para que as pessoas fossem olhadas e cuidadas. Todas as organizações se mostraram relevantes e o legado é que não temos como evoluir como sociedade, sem nossa participação”.
A Liga Solidária atende anualmente mais de 24 mil crianças, jovens, adultos e idosos em situação de alta vulnerabilidade social, de forma direta e indireta. Ao todo, são nove programas de educação, longevidade e cidadania que trabalham para resgatar a dignidade e fomentar a autonomia dessas pessoas. A organização também ou a representar a sociedade civil em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, no âmbito do território e do município, e recebeu Selo Igualdade Racial e Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade.