Feminicídio: 4 mulheres são mortas por dia no Brasil
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em 2022, uma mulher foi morta a cada seis horas no país. Isso significa que, por dia, 4 mulheres são mortas no Brasil.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em 2022, uma mulher foi morta a cada seis horas no país. Isso significa que, por dia, 4 mulheres são mortas no Brasil.
No total, foram 1.437 vítimas de feminicídio no ano ado, um aumento de 6,5% em relação aos 1.347 registrados em 2021.
Esse alto índice de mulheres vítimas de feminicídio está relacionado a fatores como a crença de que as mulheres são subalternas aos homens e que suas vontades são menos relevantes, dizem especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
Não trata-se apenas de opinião, considerando que tal visão faz com que mulheres sejam vistas por muitos homens como objetos de sua propriedade.
“Ainda há muitos crimes devido à cultura machista e sexista que existe no país, que coloca o sexo feminino como um ser inferior, que não tem direito a ter suas próprias vontades e que está submissa à vontade do homem, devendo sempre fazer o que ele quer”, explica Deíse Camargo Maito, professora de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) que pesquisou sobre violência contra a mulher.
O anuário, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que, sete de cada dez femincídios no país, a vítima foi morta dentro da casa em que vivia. Na maioria das vezes, o autor do crime foi seu parceiro (53,6%) ou ex-parceiro (19,4%).
Em 10,7%, a mulher foi morta por outro familiar, como filho, irmão ou pai; em 8%, por algum conhecido, e em 8,3% por uma pessoa desconhecida.
“O agressor não aceita o término da relação ou ele não aceita a autonomia da mulher dentro dessa relação. Por isso que a maioria dos feminicídios é cometido por alguém muito íntimo”, diz Maito. “Essa pessoa, tão próxima, é a que apresenta mais perigo, porque ela tem mais o a essa mulher.”
O assassino nem sempre se apresenta como uma pessoa violenta o tempo todo, explicam os especialistas, e isso pode confundir a vítima sobre o que ela está ando no relacionamento. Na maioria das vezes, ele tenta justificar a sua atitude agressiva colocando a culpa na vítima.
“O agressor é uma pessoa de comportamento normal e carinhosa. Em um momento de tensão ele comete um ato de violência e logo em seguida ele se desculpa e o relacionamento vive um momento da lua de mel”, afirma Juliana Fontana Moyses, mestre em Direito pela Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e doutoranda no Programa de Direitos Humanos.
“Com isso, a tendência é que essa violência vá ficando pior, podendo se potencializar até chegar no feminicídio.”
Entre as vítimas de feminicídio no Brasil, 71,9% tinham entre 18 e 44 anos — o maior percentual se concentra na faixa entre 18 e 24 anos (16,1%).
“Essas jovens estão no início da vida com menos conhecimento de que aquelas atitudes do parceiro é uma violência contra ela. Por não terem essa visão, elas pedem menos ajuda às suas famílias e ao seu entorno”, diz Maito.
O feminicídio é a forma de violência mais grave contra a mulher. Mas, antes de acontecer o crime, a mulher a por outros tipos de violência como agressões, violência sexual, psicológica e ameaças.
Por isso, dizem especialistas, é importante que todos que convivem com mulheres que podem estar em uma relação abusiva fiquem atentos aos sinais para ajudá-la a quebrar o ciclo de violência em que está inserida.
“Os sinais são muito claros, tudo começa com desrespeito à opinião, depois o cerceamento do convívio dessa mulher com outras pessoas, a violência psicológica, verbal e moral, e por fim, o ponto mais crítico, a violência física”, diz Lazara Carvalho, advogada especialista em resolução de conflitos e chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça.
No entanto, mudar essa realidade de comportamento e pensamento da sociedade, dizem os especialistas, exige uma mudança cultural, o que não é uma tarefa fácil e pode demorar décadas.
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgão competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento
A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.
O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser ado em outros países.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de objetivos ambiciosos no ano de 2015 por meio de um “Pacto Global”, que envolve os seus 193 países membros. Ao todo, o projeto da ONU contempla 17 ODS, ou seja, Objetivos de Desenvolvimento sustentável.
Os números apresentados são um grande retrocesso para o cumprimento do ODS 5.2 – Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos.
Fonte: BBC Brasil