Estudo do Instituto Beja faz um retrato da filantropia no Brasil
O relatório tem como objetivo incentivar mais o diálogo entre os atores do setor, identificar oportunidades e promover o aumento da filantropia no país

Por Ana Clara Godoi
Há espaço para as doações crescerem no Brasil. De acordo com o estudo “O Futuro da Filantropia no Brasil: Contribuir para a Justiça Social e Ambiental”, realizado pelo Instituto Beja, o investimento é considerado relativamente baixo, com um total estimado de US$ 4 bilhões em doações anuais, cerca de R$ 20 bilhões. Com base no número de bilionários no país – 55, segundo a Forbes – o país teria potencial para chegar a US$ 28 bilhões, seis vezes mais do que o nível atual.
O relatório faz um panorama da filantropia no Brasil. Para montar esse retrato, 21 filantropos brasileiros e 21 profissionais ou especialistas atuantes no setor foram entrevistados entre setembro e dezembro de 2022. “Nosso propósito é ajudar a incentivar um tipo diferente de diálogo no país, aumentar a quantidade de doações filantrópicas e melhorar a forma como o orçamento é doado para a justiça social e ambiental”, explica a consultora independente de filantropia estratégica Silvia Bastante de Unverhau, autora do estudo e parceira da Braymont Philanthropy Advisory.
A classe média é vista como a mais consciente e empática, por conviver diretamente com os problemas sociais. Entre os mais ricos, porém, essa prática está aquém da capacidade financeira desse grupo. A percepção, revela o relatório, é de que existe receio em contribuir de forma mais significativa.
“O brasileiro é um povo solidário. Diante de desastres, a sociedade rapidamente se mobiliza para levantar recursos e insumos. Quando a doação envolve dinheiro, a relação de confiança é menos estabelecida”, avalia Cristiane Sultani, fundadora e presidente do Instituto Beja. “Para aumentar a cultura da filantropia, é preciso conquistar espaços em políticas públicas, melhorando o sistema fiscal das doações, e garantir que os ‘endowments’ (fundos patrimoniais filantrópicos) tenham mais segurança jurídica”, completa.
O estudo também apontou que a forma como as fundações operam no Brasil está mudando. Entre 20% e 30% são de iniciativas subsidiadas, ou seja, fundações apoiam projetos desenvolvidos por outras instituições. A mudança é impulsionada por fatores como o impacto da pandemia da Covid-19 e o reconhecimento do valor do fortalecimento da sociedade civil.
Em relação às causas, a filantropia se mantém focada em temas tradicionais, com destaque para a educação e saúde, mas com tendência para ações voltadas aos direitos humanos e à justiça social. Há ainda um crescente apoio financeiro internacional às questões ambientais e de mudanças climáticas. “O governo brasileiro atual parece estar mais inclinado na área de proteção ambiental. Pelo menos, há um otimismo internacional para esse setor”, ressalta Silvia Bastante de Unverhau.
O Instituto Beja é uma organização de impacto social que atua em prol da filantropia colaborativa. As ações da entidade estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, metas que promovem uma sociedade mais igualitária e sustentável.