Em dois anos, quase mil agrotóxicos já foram aprovados pelo governo

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Em 2020, foram aprovados 493 agrotóxicos no Brasil, superando o recorde de 2019. Quase um terço dos mais de 3 mil produtos agrotóxicos comercializados no país recebeu registro durante os dois anos de governo Bolsonaro

Foto: Adobe Stock | Licenciado

Por: Mariana Lima

O governo do presidente Jair Bolsonaro bateu o próprio recorde e tornou 2020 o ano com o maior número de aprovações de agrotóxico na história.

De acordo com a publicação do Ministério da Agricultura no Diário Oficial da União, foram registrados 88 pesticidas e produtos técnicos aprovados até o final de dezembro de 2020.

Desta forma, o segundo ano de mandato de Bolsonaro terminou com 493 novos agrotóxicos, 19 a mais que em 2019, antigo recordista.

Quase um terço dos mais de 3 mil produtos agrotóxicos comercializados no Brasil recebeu registro durante os dois anos de governo Bolsonaro.

Após Tereza Cristina, ex-líder da bancada ruralista no Congresso Nacional, assumir o Ministério da Agricultura, 967 pesticidas foram aprovados.

Mesmo a pandemia do novo coronavírus não conseguiu diminuir o ritmo de trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Agricultura e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgãos reguladores responsáveis por avaliar os produtos antes que eles sejam liberados no mercado brasileiro.

No total, foram quase 10 produtos agrotóxicos, em média, liberados por semana em 2020. Vale pontuar que 90% das aprovações ocorreram após o início da pandemia.

A maior parte dos registros concedidos em 2020 foi de genéricos, agrotóxicos que já estavam liberados no mercado, mas que agora podem ser comercializados por mais empresas.

Cinco princípios ativos nestes produtos são inéditos: dinotefuram, piroxasulfone, tolfenpirade, tiencarbozona e a fenpirazamina. Eles serão utilizados na formulação de 13 novos agrotóxicos.

Uma empresa japonesa, a Nichino, será responsável por produzir e comercializar quatro produtos à base de tolfenpirade. O químico, que pode ser utilizado como inseticida, acaricida e fungicida, foi classificado pela Anvisa como altamente tóxico e está aprovado para culturas de tomate, trigo, algodão, repolho, maçã e alface.

O herbicida piroxasulfona será o princípio ativo de cinco novos produtos, que poderão ser utilizados nas culturas de cana-de-açúcar e eucalipto.

Os dois agrotóxicos já foram aprovados nos Estados Unidos, mas não são permitidos na União Europeia.

Além do alto número de aprovações, em 12 meses o Ministério da Agricultura recebeu 835 solicitações de avaliação para produtos agrotóxicos. Em 2019, foram 913.

Após os pedidos, o Ministério da Agricultura avalia se o produto é eficaz para a praga e cultura desejada, a Anvisa analisa os riscos à saúde humana e o Ibama, ao meio ambiente.

Os recordes anuais de aprovação do governo Bolsonaro, de acordo com a Anvisa, seriam resultado de uma “vazão de demanda reprimida”.

A agência regulatória diz ter adotado ações voltadas à organização dos processos de trabalho, das filas de análise e incorporação de recursos de tecnologia da informação para tornar o processo de avaliação mais rápido e eficiente.

Vale ressaltar que a agência afirma que as aprovações não significam um maior consumo de agrotóxico, uma vez que os produtos são de venda restrita.

O Ministério da Agricultura aponta que o aumento nas solicitações e aprovações de produtos de baixo impacto foram significativos para o recorde de registros em 2020.

Após uma mudança na classificação toxicológica, anunciada pela Anvisa em julho de 2019, a identificação da toxicidade dos produtos se tornou mais difícil.

Boa parte dos agrotóxicos aprovados em 2020 foi classificada pela Anvisa como “Improvável de causar dano agudo”.

A categoria foi criada em julho de 2019, para agrupar agrotóxicos que não provocam a morte do indivíduo ao tocar, inalar ou ingerir o produto.

Os pesticidas dessa categoria deixaram de receber o aviso de “perigo” no rótulo, mesmo podendo oferecer riscos graves de intoxicação, e até mesmo levar a cegueira e corrosão da pele.

Fonte: Repórter Brasil


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