Eles foram perseguidos e mortos por defender a floresta e seus povos

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Assim como Bruno Pereira e Dom Phillips, muitos foram perseguidos e mortos por defender a floresta e seus povos. A triste lista inclui nomes como Chico Mendes e Irmã Dorothy

Eles foram perseguidos e mortos por defender a floresta e seus povos
O ativista Chico Mendes, a ativista Irmã Dorothy e o indigenista Bruno Pereira , todos mortos por defender a floresta e seu povo/ Imagem: montagem Observatório 3º Setor/ Arquivo internet

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips entraram para a infeliz lista que o Brasil amarga de pessoas que foram mortas por defender a floreta e seus povos. Ambos foram perseguidos e mortos por lutar em defesa da Amazônia e dos povos que vivem na floresta.

Bruno Araújo Pereira foi exonerado pela Funai após coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros ilegais da terra indígena Yanomami, em Roraima. O jornalista inglês Dom Phillips pretendia fazer entrevistas com lideranças indígenas e ribeirinhos para um novo livro, chamado “Como salvar a Amazônia?”. Bruno estava ajudando Dom com as entrevistas, e foi durante uma viagem que os dois foram mortos em uma emboscada.

Como Bruno e Dom, muitos foram perseguidos e mortos por defender a Amazônia e seus povos. Chico Mendes foi o principal nome da luta contra o desmatamento no Brasil. Mas, infelizmente, é mais reconhecido internacionalmente do que no próprio país. Ele foi assassinado por lutar pelos direitos dos povos da floresta e ser contra o desmatamento no Brasil. Após a sua morte, o ativista foi homenageado pelo o ex-beatle Paul McCartney.

A partir de 1976, Chico Mendes participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento. A tática utilizada pelos manifestantes era o “empate”: manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos.

O ativista organizou também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos, chamados de ‘posseiros’. Em 1977, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, sendo eleito vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) local.

Recebeu, então, as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros, o que lhe rendeu problemas com seu próprio partido, descompromissado com as causas pelas quais Chico Mendes lutava.

Denunciou projetos financiados por bancos estrangeiros que estavam levando à devastação da floresta e à expulsão dos seringueiros. Dois meses depois, levou as denúncias ao Senado dos Estados Unidos e à reunião de um dos bancos financiadores do projeto, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os financiamentos a tais projetos acabaram sendo suspensos e Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de “prejudicar o progresso”, acusações que não convenceram a opinião pública internacional. Alguns meses depois, ele recebeu vários prêmios internacionais.

Ameaçado e perseguido pelos membros da então recém-criada União Democrática Ruralista, percorreu o Brasil participando de seminários, palestras e congressos onde denunciava as intimidações que os seringueiros estavam sofrendo.

Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, agravaram-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que, por várias vezes, veio a público denunciar seus intimidadores. Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa. Após o assassinato do líder extrativista, mais de trinta entidades — sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas — se reuniram para formar o Comitê Chico Mendes. Todos exigiam que os autores do crime fossem punidos.

Em dezembro de 1990, a justiça condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e seu filho, Darcy Alves Ferreira, a 19 anos de prisão pela morte de Chico Mendes.

Em 1989, o ex-beatle Paul McCartney lançou a faixa “How Many People” em homenagem ao seringueiro, no álbum Flowers in the Dirt. O compositor Clare Fischer, que havia fornecido os arranjos orquestrais para o álbum de McCartney, dedicou a faixa “Xapuri”, de seu álbum Lembranças (Remembrances), lançado no mesmo ano, à memória de Chico Mendes. O ambientalista é até hoje reconhecido como um dos maiores brasileiros de todos os tempos.

Outra triste perda foi de Dorothy Mae Stang, conhecida como Irmã Dorothy. Ela esteve presente na Amazônia desde a década de 1970 junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas junto aos trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica. Seu trabalho focava também na minimização dos conflitos fundiários na região.

Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu, a Escola Brasil Grande.

Em 2004, recebeu premiação da Ordem dos Advogados do Brasil (seção Pará) pela sua luta em defesa dos direitos humanos. Em 2005, foi homenageada pelo documentário livro-DVD ‘Amazônia Revelada’.

Por seu trabalho, era constantemente ameaçada, mas nunca se deixou intimidar. Pouco antes de ser assassinada, declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.

Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, em uma estrada de terra de difícil o, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu (PA). O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do crime, foi condenado a 30 anos de prisão.

Assim como Bruno, Dom, Chico Mendes e Irmã Dorothy, muitos outros foram perseguidos e mortos por defender a floresta e seus povos. E quantos ainda vão morrer para o Brasil tomar uma atitude?


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