Economia do Cuidado e o trabalho invisível das mulheres

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O trabalho invisível de cuidado realizado por mulheres representa US$10,8 trilhões anuais para a economia global, perpetua estereótipos de gênero e contribui para desigualdades econômicas. Dados da plataforma da organização Think Olga discutem as implicações desse problema social

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Foto: Adobe Stock

Por Redação 

A economia do cuidado, tema central do Enem deste ano, ganha destaque com dados alarmantes sobre o trabalho não remunerado realizado por mulheres ao redor do mundo. O relatório “Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade“, liderado pela Oxfam, revela que mulheres dedicam diariamente 12,5 bilhões de horas ao trabalho de cuidado sem receberem compensação. Esse esforço, se convertido em termos monetários, representa pelo menos US$10,8 trilhões anuais para a economia global, evidenciando a magnitude e o impacto econômico do cuidado não remunerado.

Outro dado  fornecido pela plataforma “Vale do cuidado“, liderada pelo Think Olga, destaca que as mulheres gastam, em média, mais de 61 horas semanais em trabalhos não remunerados, muitas vezes invisíveis ou desvalorizados pela sociedade. Essas tarefas, relacionadas às expectativas tradicionalmente atribuídas às mulheres, contribuem para perpetuar as desigualdades de gênero e aprofundar o abismo de oportunidades entre homens e mulheres.

A economia do cuidado, exemplificada pelo trabalho empreendido por mulheres em suas casas e no cuidado de familiares, representa um esforço equivalente a 11% do PIB, superando qualquer indústria, inclusive o setor agropecuário.

Problema social

Em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor, Maíra Liguori, diretora das organizações Think Olga e Think Eva, reiterou que existe um mecanismo cultural em que as meninas, ao nascerem, já recebem o rótulo de cuidadoras, algo que é dado como um processo natural e inerente ao feminino. 

“E isso é algo que está muito enraizado na maneira com que criamos nossos meninos e meninas, e isso lá na frente, cobra um preço. Um preço dessa dedicação totalmente automatizada, naturalizada e às vezes até invisível por quem realiza essas tarefas (a mulher sente as consequências sem saber muitas vezes das causas); mas são tempos, um espaço mental, uma disposição e envolvimento emocional que acaba ocupando grande parte das horas do dia e da capacidade de realização dessas mulheres”, relata Liguori. 

Na América Latina e no Caribe, 93% das trabalhadoras domésticas são mulheres, conforme relata a Organização Internacional do Trabalho. Essa estatística destaca a expressiva presença feminina nesse setor, ressaltando a desigualdade de gênero e a concentração das mulheres em empregos domésticos na região.

Maíra aponta que o o e o tempo disponível são desafios para as mulheres. “Para que elas possam sair de casa para estudar, trabalhar ou alguma atividade que estaria dentro da economia formal (aquela que gera renda, que é visível),  elas precisam trabalhar muitas horas dentro de casa para conseguir sair; garantir que haverão pessoas cuidado dos seus dependentes, jantar pronto, roupa lavada, todas as tarefas que estão subentendidas como tarefas exclusivamente delas”.

A fala de Maíra evidencia a persistência de normas de gênero tradicionais que atribuem automaticamente às mulheres a responsabilidade pelo cuidado doméstico, dificultando sua participação plena na economia formal e na busca de oportunidades educacionais.

“Estudos e pesquisas como este empreendido pela Think Olga atuam em nível de fomento ao debate público, algo que incide na cultura; gerar dados e conhecer esses problemas e suas implicações ajudam a trazer consciência e reivindicar esses assuntos em planos não só culturais, mas públicos e privados”, disse a diretora. 

As demandas desse problema social estão diretamente relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, destacando a necessidade de abordar a igualdade de gênero (ODS 5), trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8) e redução das desigualdades (ODS 10) para promover uma sociedade mais equitativa e sustentável.