Brasília: cresce número de pessoas que adoecem por causa da fome

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Profissionais de saúde do SUS veem cada vez mais pacientes chegarem em busca de atendimento por sintomas gerados pela fome. 58 milhões de brasileiros correm o risco de deixar de comer por não terem dinheiro

Imagem ilustrativa/ Foto: Adobe Stock

Os últimos dados divulgados mostram que 19 milhões de pessoas am fome no Brasil. Médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde de Brasília, relatam que, nos últimos meses, têm percebido um aumento no número de pessoas que dão entrada em centros de saúde pública com sintomas que acreditam ser de alguma doença, mas, na verdade, indicam que essas pessoas estão famintas. Isso em plena capital do país, a terceira cidade com o maior produto interno bruto (PIB) do Brasil.

“Todas as semanas, atendo mais ou menos cinco pacientes dizendo que estão doentes, mas quando examinamos notamos que, na verdade, não é doença, é fome”, disse a médica Natália, que trabalha em uma unidade de saúde de Sobradinho, cidade-satélite do Distrito Federal.

“Em 15 anos de profissão, nunca imaginei que ouviria relatos como os que tenho ouvido ultimamente. Ainda mais em uma cidade tão rica”, completa a profissional.

Foram ouvidos doze médicos, enfermeiros, gestores e terapeutas que trabalham no Sistema Único de Saúde (SUS). Como não tinham autorização do poder público para dar entrevista, seus nomes verdadeiros foram preservados para evitar que sofram punições.

Em São Sebastião, outra cidade-satélite, os relatos são parecidos. “Já atendi paciente que chegou aqui com tontura. Quase desmaiando. Dei o meu lanche da tarde para ele e notei que seu problema era fome, não doença”, conta Marcelo, médico há 22 anos.

O mesmo ocorreu em Ceilândia. “Já atendíamos pessoas com alto índice de vulnerabilidade social. Mas, antes, elas diziam que tinham comido duas ou três vezes ao dia. Agora, dizem que, quando comem uma, já se dão por satisfeitas”, afirmou a terapeuta Mariana.

Sem maneira de botar comida em casa, é comum também aparecerem pessoas com crise de ansiedade e pânico. “Imagina você ter crianças em casa e não saber como vai levar comida pra casa? É de deixar qualquer um doente, mesmo. Temos visto muitos casos assim”, diz o agente de saúde Kleidson Oliveira, que há cinco anos trabalha em ONGs que dão assistência às pessoas que vivem nas ruas ou em comunidades pobres da capital brasileira. “Nunca vi tanta gente nas ruas e em condições tão desesperadoras”, afirma.

A situação é resultado do empobrecimento da população brasileira. No ano ado, o Brasil viu disparar o número de pessoas com insegurança alimentar grave ou moderada: 27,7% da população está neste grupo. Significa dizer que cerca de 58 milhões de brasileiros correm o risco de deixar de comer por não terem dinheiro. Os dados são de uma pesquisa feita por cientistas do grupo ‘Alimentos para a Justiça’, da Universidade de Berlim em parceria com as universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e de Brasília (UnB). O levantamento contou com o financiamento do Governo alemão e foi divulgado em abril.

Fonte: El País

 


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