Avanço da agropecuária reduz biodiversidade no Cerrado e na Amazônia
Segundo estudo realizado pelo WWF-Brasil, o avanço da agropecuária está reduzindo a biodiversidade no Cerrado e na Amazônia. Organização defende responsabilização do setor para a proteção dos biomas

Por Juliana Lima
O avanço da agropecuária, principalmente para a produção de soja e gado, está reduzindo a biodiversidade no Cerrado e na Amazônia. A conclusão é de um estudo realizado pelo WWF-Brasil e organizações parceiras que avaliou 486 espécies dos biomas, sendo 183 aves, 101 anfíbios, 118 mamíferos e 84 lagartos e serpentes. Algumas das espécies perderam mais da metade de sua área original de distribuição.
Do total das espécies analisadas, 136 são endêmicas, ou seja, pertencentes apenas àquela região. Mais de 95% da área de distribuição desses animais está restrita a esses biomas. Nesse caso, as perdas médias foram de 17% para a Amazônia e 35% para o Cerrado, o que é preocupante já que essas espécies não ocorrem em nenhum outro local.
Alguns exemplos de espécies ameaçadas são o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que teve mais da metade de seu habitat perdido, e o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), escolhido pela Fifa como mascote oficial da Copa do Mundo de 2014. Em um período de cinco anos, o tatu-bola viu aumentar em 9% a cultura de soja dentro dos limites da sua distribuição, na região do Matopiba (estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), no Cerrado.
O estudo foi realizado pela consultoria Gondwana, sob coordenação do pesquisador Cristiano de Campos Nogueira. Para calcular o impacto da perda de habitat sobre a biodiversidade, os pesquisadores cruzaram mapas da distribuição de cada uma das espécies (disponíveis no site da IUCN) e os dados de uso do solo para o Cerrado e para a Amazônia do MapBiomas.
Segundo o WWF-Brasil, a redução da diversidade de espécies está associada ao desaparecimento de ecossistemas causado pelo desmatamento. As maiores perdas de biodiversidade estão acontecendo no Cerrado. Até 2021, a agropecuária já ocupava mais de 40% do Cerrado (23,7% pastagem; 8,9% soja; 7,3% mosaico agricultura e pastagem), e 14% na Amazônia (13,5% pastagem e 1,2% soja).
“É essencial a mudança de mentalidade das empresas e do governo: a destruição do ecossistema é desnecessária, pois já existem áreas suficientes para a expansão do agronegócio – que inclusive já está sendo prejudicado com quebras de safras constantes por conta da degradação ambiental”, diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.
Além da perda da biodiversidade, o estudo mostra ainda que “o impacto sobre espécies associadas a áreas úmidas e matas de galeria como anfíbios, por exemplo, indica que estamos impactando também os recursos hídricos”. Para o WWF-Brasil, é preciso cobrar o setor agropecuário por comprometimento na proteção do Cerrado e da Amazônia.
13/03/2022 @ 01:12
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