A Nobel de Física que explicou números mágicos sem ser remunerada

Compartilhar

Foram 30 anos liderando pesquisas científicas, mas Maria Goeppert Mayer, ganhadora do Nobel de Física, era reconhecida como voluntária, bolsista ou pesquisadora associada

Foto: Divulgação/Nobel Prize

Por: Mariana Lima

A física alemã Maria Goeppert Mayer trabalhou a maior parte de sua carreira em diferentes universidades americanas sem receber salário. Sua biografia publicada pelo Prêmio Nobel diz que ela pesquisava “apenas pelo prazer de fazer física”.

Embora houvesse regras antinepotismo, ou seja, que vetavam o favorecimento de parentes no lugar de pessoas qualificadas, nos Estados Unidos naquele período, nenhuma universidade teria contratado a esposa de um professor.

Enquanto Maria Mayer era a pesquisadora associada, a bolsista ou pesquisadora voluntária, seu marido, o químico americano Joseph Mayer, recebia os cargos de professor e pesquisador em tempo integral.

Na Universidade Johns Hopkins, ela chegou a pedir para utilizar um escritório vazio que havia encontrado. O pedido foi negado, e Maria ganhou uma sala no sótão ao invés disso. Ela se tornaria professora titular aos 54 anos.

Nascida em junho de 1906 em Katowice, cidade que fazia parte da Alemanha na época, mas hoje pertence à Polônia, Goeppert Mayer vinha de uma família de acadêmicos que incentiva sua carreira na área.

Inicialmente, sua intenção era se formar em matemática, mas ela decidiu estudar física após participar de um seminário de mecânica quântica ministrado por Max Born, um dos pais do então incipiente ramo da ciência e que acabaria se tornando seu mentor na Universidade de Göttingen, na Alemanha.

Mas, após completar o doutorado, a jovem se casou e mudou para os Estados Unidos, em parte em busca de melhores oportunidades acadêmicas e também para ficar longe do movimento político que culminaria na ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Goeppert Mayer, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou no Projeto Manhattan, o programa secreto do governo americano que desenvolveu a bomba atômica.

Na época, ela chegou a afirmar que, graças ao Projeto Manhattan, ela conseguiu pela primeira vez na carreira “se firmar” por conta própria como cientista, sem “se sustentar” no marido.

Seus biógrafos concordam que, embora ela apreciasse o respeito que recebeu dos colegas e as responsabilidades adquiridas durante aqueles três anos de trabalho, ela tinha esperança de que o projeto fracassasse.

De acordo com o Nobel, Goeppert Mayer era “veementemente anti-Hitler, mas ciente de que a arma que estava ajudando a criar poderia ser usada contra amigos e familiares que viviam na Alemanha”.

E embora a bomba tenha sido usada nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando dezenas de milhares de pessoas, as pesquisas lideradas por ela não foram efetivamente bem-sucedidas.

Somente após o fim da Segunda Guerra que Goeppert Mayer começou a trabalhar com a física nuclear, linha de pesquisa que a levaria a definir a estrutura do núcleo atômico e ganhar o Prêmio Nobel.

Ela conseguiu demonstrar repetidamente que os núcleos mais estáveis sempre tinham uma certa quantidade de nêutrons ou prótons. Os “números mágicos” eram 2, 8, 20, 28, 50, 82 e 126.

Mas ela não se deu por satisfeita: agora que sabia que eram números especiais, queria saber por quê. E foi assim que ela começou a desenvolver o que hoje é conhecido como modelo nuclear de camadas.

Contudo, outra equipe liderada por Hans Jensen havia chegado à mesma conclusão na Alemanha. Ela chegou a pedir que adiassem seu artigo para sair na mesma revista que o colega pesquisador, mas foi negado. O artigo de Mayer saiu um número depois, em 1949.

Mais tarde, ambos se conheceram, tornaram-se amigos e colaboradores. Juntos, publicaram um livro sobre o modelo nuclear de camadas e, em 1963, compartilharam o Prêmio Nobel.

Com a sua pesquisa, Goeppert Mayer entrou para um grupo seleto no que se refere ao Prêmio Nobel: apenas quatro mulheres ganharam o Nobel de Física até hoje, sendo Mayer a segunda.

Em 1960, pouco depois de chegar a San Diego para começar seu primeiro trabalho como professora titular na Universidade da Califórnia, Goeppert Mayer sofreu um ataque cardíaco.

Daí em diante, teria uma saúde frágil até sua morte em 1972, mas ainda assim não parou de pesquisar e dar aulas.

Fonte: BBC News Brasil


Compartilhar