Narrativas Engajadoras: do que falamos?

Cultura de Doação
Compartilhar
Imagem: Joana Ribeiro Mortari

Por Joana Ribeiro Mortari

As diretrizes para promoção da Cultura de Doação foram cocriadas por mais de 70 pessoas e organizações e lançadas em 2020. A segunda diretriz diz que “a promoção de uma cultura de doação precisa de uma narrativa mais engajadora, positiva, qualificada, inclusiva e que chegue a uma diversidade maior de públicos. Que conecte com a realidade das pessoas, crie empatia com causas e promova a confiança no poder transformador de uma doação, mudando paradigmas. Nesta nova narrativa, a doação será compreendida como ato de cidadania e fortalecimento da democracia”.

Lindo, né? Eu acho. Uma das coisas que mais faço é observar atentamente as relações de doação e as narrativas que a sociedade carrega consigo, e setor social também. Hoje trago três das minhas narrativas engajadoras preferidas:

Doar como um poder individual

Eu já escrevi um texto sobre o assunto, mas a versão curta é: para mim doar não é nem só ajuda e nem só obrigação moral, mas exercitar o poder individual de cada um de fazer parte de uma mudança positiva na sociedade. Como todo o poder, ter muito não é bom. É por isso que, quando a conversa é com grandes doadores (familiares ou empresariais) falamos sobre abrir mão de poder. Mas também não é bom quando individualmente deixamos de reconhecer o poder que temos porque acabamos deixando de exercê-lo. Pergunte para qualquer organização social e ouvirá que a doação individual e recorrente carrega não apenas uma importância financeira, por ser um recurso que permite decidirem livremente como usá-lo, mas vem acompanhada de uma sensação de apoio, sustentação, de não estarem sozinhas. Um grupo parrudo de doadores individuais dá notícia da importância do serviço prestado ou causa defendida pela organização social.

Toda doação importa, nenhuma doação é pequena.

Esta é para ser repetida todos dias antes de escovar os dentes, como um mantra! E junto prometa que, a partir de hoje, você nunca mais se referirá à doação individual como “pequena doação”. Primeiro porque não é verdade. A mediana de doação brasileira, segunda a pesquisa Doação Brasil 2022, é de R$ 300,00 por ano. Se você doar R$25 reais por mês, você é um doador brasileiro médio. Segundo, quem vai querer ser pequeno na vida de outra pessoa ou de uma organização social? Eu quero ser importante, quero que minha doação importe para a organização.

Doar é ser parte da mudança social que queremos e merecemos

Veja bem, dinheiro de doação, sozinho, não faz nada. Nada. Exceto doações diretas que existem em outros países, e são muito interessantes. O que diferencia o doar de um recurso financeiro qualquer é o fato de que ele está conectado a algo maior, uma intenção de mudança positva na sociedade (pode chamar de propósito, causa…). A materialização da intenção, qualquer que seja, só se dá quando quem doa encontra quem faz, o fazedor. Doador e fazedor, unidos por uma intenção comum, desencadeiam o processo de mudança social.  Sem fazedor não tem doador. Sem doador não tem fazedor. Sendo assim, doar é ser parte na construção do país que queremos – e merecemos.

E você, qual a narrativa sobre doação que você acha que precisa mudar?

*

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Sobre a autora: Joana Ribeiro Mortari é Co-Criadora e membro do Comitê Coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação. Co-criadora da Philó | Práticas Filantrópicas e Membro do Comitê editorial da Proximate Press.

– Este texto foi publicado originalmente na Newsletter [re] pensando o doar.