Mulheres negras podem levar até 7 gerações para conquistar casa própria, diz levantamento
Direitos HumanosA ONG Habitat para a Humanidade Brasil realizou levantamento inédito para revelar como as desigualdades de gênero impactam desproporcionalmente o o à moradia adequada no país. Mulheres negras podem demorar mais de 180 anos para conseguirem casa própria

Por Lucas Neves
As mulheres negras podem levar até 184 anos para realizar o sonho da casa própria. É o que aponta levantamento “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”, realizado pela ONG Habitat para a Humanidade Brasil.
O levantamento inédito reúne dados coletados ao longo de 5 anos. O objetivo é revelar como as desigualdades de gênero impactam desproporcionalmente o o à moradia adequada, perpetuando ciclos de pobreza e violência.
“Sem moradia digna, as mulheres têm pagado um preço alto — que custa seu tempo de vida, sua saúde física e mental, a possibilidade de estudar, trabalhar, descansar e sonhar com um futuro melhor”, afirmou Raquel Ludermir, Gerente de Incidência Política da ONG Habitat para a Humanidade Brasil, em nota à imprensa. Raquel também pontuou que essas mesmas mulheres são as responsáveis por cuidar das suas comunidades, com papel fundamental na construção do país.
O estudo utilizou dados da Fundação João Pinheiro sobre desigualdades de gênero e habitação. De acordo com essas informações, em 2022, cerca de 62% dos lares em situação de déficit habitacional eram chefiados por mulheres. Ao avaliar o cenário brasileiro, o levantamento sinaliza que o agravamento da feminização da pobreza obriga as mulheres a destinarem aproximadamente 30% da sua renda ao aluguel.
Neste contexto, a desigualdade de gênero também é agravada pela disparidade salarial entre os gêneros. As mulheres recebem 19,4% a menos que os homens, segundo o 1º Relatório de Transparência Salarial. Os dados foram apresentados pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres, em março de 2024.
Mulheres negras enfrentam maiores dificuldades
Quando o levantamento recorta os dados baseados em raça, a desigualdade se aprofunda. Conforme a ONG Habitat para a Humanidade, as mulheres negras no Brasil podem levar até sete gerações para conseguir comprar uma casa própria.
Para chegar a essa conclusão, o levantamento utilizou dados de imóveis à venda nas maiores favelas do país, do Censo 2021, relacionando-os com a remuneração média de uma mulher negra no Brasil, a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais de 2023.
“Considerando que ela apenas se desloque para o trabalho, pague aluguel, se alimente e crie seu filho — ou seja, que não tenha lazer, imprevistos, doenças repentinas, cenários de gastos aumentados, bem como que conte com rede de apoio gratuita e vaga na escola para sua criança – isso significa que, com a sobra de R$31,62 por mês, para comprar uma casa em uma favela brasileira, no valor médio de R$69.828,57, ela demoraria 184 anos, cerca de 7 gerações”, destaca o levantamento.
Para Raquel, a moradia digna é um direito básico desta geração, e não somente das futuras. “Não há futuro sem dignidade no presente. E essa dignidade começa pela moradia digna”, concluiu.