Lista: conheça 10 africanos que ganharam o Prêmio Nobel

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Ativistas, pesquisadores, médicos e políticos africanos já receberam o Prêmio Nobel por sua contribuição à sociedade. Ajuda a mulheres vítimas de abuso sexual, luta pela conservação ambiental e combate à Aids estão entre iniciativas que já renderam prêmios para o continente

Crédito: Denis Mukwege (Wikimedia Commons) | Wangari (Wikimedia Commons) | Kofi Annan (Domínio Público)

Por: Mariana Lima

Os países do continente africano são, com frequência, lembrados por sua pobreza e seus conflitos. Mas há também muitas coisas das quais os africanos podem se orgulhar. Nos últimos 20 anos, diversos profissionais foram premiados com o Prêmio Nobel por seus trabalhos em prol de seus países ou devido a pesquisas que beneficiaram diversas áreas do conhecimento. Conheça alguns deles:

Abiy Ahmed, Etiópia (Paz) 

O vencedor do 100º Nobel da Paz, em 2019, recebeu o prêmio por sua iniciativa decisiva para resolver o conflito na fronteira entre Etiópia e Eritreia, no leste da África. Abiy Ahmed é o primeiro-ministro da Etiópia e conseguiu realizar o feito devido à estreita cooperação com o presidente da Eritreia, Isaias Fwerki. Ahmed elaborou os princípios de um acordo para acabarem com o longo ime entre os dois países. O acordo colocou um fim formal a 20 anos de uma guerra que deixou mais de 80 mil mortos, somente entre 1998 e 2000. O conflito entre os dois países começou após a independência de Eritreia, agravada por questões fronteiriças.

Denis Mukwege, República Democrática do Congo (Paz) 

Em 2018, o médico ginecologista congolês Denis Mukengere foi um dos ganhadores do Nobel da Paz por seu trabalho com vítimas de abuso sexual. No total, Mukwege já atendeu mais de 30 mil vítimas com ferimentos graves na República Democrática do Congo. Muitas das violências que acompanhou foram por consequência da guerra civil no país, que já registra mais 6 milhões de mortos e ocorrências de estupros contra milhares de mulheres.

Mukwege é conhecido pela máxima de que a “Justiça é responsabilidade de todos”. Assim, montou um hospital com 350 leitos financiados pelo UNICEF e outros doadores, além de uma unidade voltada para o atendimento móvel e um sistema para oferecer microcrédito para as vítimas reconstruírem suas vidas.

Leymah Gbowee e Ellen Johnson Sirleaf, Libéria (Paz) 

Em 2011, três mulheres dividiram o Nobel da Paz, sendo duas delas da Libéria, país da África Ocidental. Elas foram escolhidas por suas lutas não violentas pela segurança e pelos direitos das mulheres em participar do trabalho de construção da paz.

Entre elas estava a economista e ex-ministra das finanças e ex-presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, conhecida por ter sido a primeira mulher a se tornar chefe de Estado de um país africano, em 2006. Durante seu governo, Johnson-Sirleaf colocou em marcha programas de educação para mulheres e criou um tribunal para casos de estupros, rompendo um tabu político do país.

A outra ganhadora foi Leymah Gbowee, que esteve no centro de um movimento que levou ao fim da segunda guerra civil na Libéria, em 2003. Apesar do conflito não ter causas religiosas, Gbowee notou que havia tensão entre cristãos e muçulmanos, e ou a atuar junto com mulheres das duas religiões para buscar entendimentos.

Gbowee incentivou as mulheres a realizarem as chamadas “greves de sexo”, rejeitando os parceiros em busca de um objetivo. A mobilização foi importante para forçar o governo a negociar a paz com rebeldes, nos esforços subsequentes de desmilitarização no país. Depois, Gbowee se tornou a cabeça da Comissão da Verdade e Reconciliação da Libéria.

Mohamed ElBaradei, Egito (Paz)

O egípcio Mohamed ElBaradei recebeu o Nobel da Paz, em 2005, por seu trabalho como diretor-geral na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em prol da não-proliferação das armas nucleares no mundo. A escolha se baseou na atuação de ElBaradei para evitar que a energia nuclear fosse usada com propósitos militares e para assegurar que a energia nuclear com fins pacíficos fosse usada de uma forma mais segura.

Wangari Maathai, Quênia (Paz) 

Wangari Muta Maathai (1940-2011) foi uma ambientalista queniana e a primeira mulher africana a receber um Nobel da Paz, em 2004. Maathai se tornou um dos maiores nomes da conservação ambiental no mundo.

Maathai percebeu a relação entre o desflorestamento e a pobreza durante suas viagens de trabalho. A solução encontrada por ela foi plantar árvores. Através da organização não governamental Green Belt Movement (Movimento do Cinturão verde) fundada por ela em Nairobi, Quênia, Maathai pagava a mulheres trabalhadoras rurais um pequeno salário para que plantassem as árvores. O ato pequeno tinha caráter revolucionário no país, uma vez que as árvores preservavam a água da chuva e forneciam comida e combustível.

Quase 1 milhão de pessoas participaram do movimento e, até o momento, mais de 50 milhões de árvores foram plantadas. Maathai foi perseguida politicamente pelo governo do Quênia, chegando a apanhar de policiais. No final, construiu uma carreira na política, chegando a ocupar o cargo de Ministra do Meio Ambiente.

Quando recebeu o Nobel da Paz por sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, democracia e paz, lembrou-se de sua infância no Quênia, quando buscava água em córrego próximo e observava sapos e girinos escapando no balde. Ela apontou que ao crescer seu desafio era restaurar o habitat dos girinos e devolver às crianças a beleza do mundo.

J. M. Coetzee, África do Sul (Literatura)

Em 2003, J.M. Coetzee se tornou o quarto africano a ganhar um Nobel de Literatura e o 2º da África do Sul. Coetzee foi premiado por ter uma obra marcada pela crítica sem escrúpulos ao cruel racionalismo e à moralidade cosmética da civilização ocidental. Coetzee iniciou sua carreira como escritor em 1969, mas seu primeiro livro, ‘Dusklands’, só foi publicado em 1974 na África do Sul.

Sydney Brenner, África do Sul (Medicina) 

O sul-africano Sydney Brenner (1927-2019) se tornou um dos principais biólogos do século XX. Em 2002, foi um dos ganhadores do Nobel de Fisiologia ou Medicina por seu trabalho para decifrar a genética da morte celular programada e do desenvolvimento animal, incluindo a forma como o sistema nervoso se constitui. Os laboratórios de Brenner promovem o desenvolvimento de novas gerações de destacados prodígios, incluindo cinco ganhadores do Nobel.

Kofi Annan, Gana (Paz) 

O ganês Kofi Annan (1938-2018) foi o primeiro negro e representante da África subsaariana a ocupar a Secretaria das Nações Unidas. Ele foi o primeiro secretário-geral egresso dos próprios quadros da ONU, ocupado o cargo por dois mandados, de 1997 a 2006.

Sua agem pela instituição multilateral foi marcada por um embate com os Estados Unidos por causa da invasão do Iraque, em 2003; pelo fortalecimento dos mecanismos globais de combate à Aids; e pela criação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que depois foram atualizados para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Em 2001, recebeu o Nobel da Paz devido a sua atuação na ONU e por ter promovido um mundo mais organizado e pacífico com a criação do Fundo Global da Luta pela Aids, Tuberculose e Malária para auxiliar países em desenvolvimento.

Ahmed Zewail, Egito (Química) 

O egípcio Ahmed  Zewail (1946-2016) recebeu o Nobel de Química com o seu trabalho em que demostrava o movimento dos átomos de uma molécula durante uma reação química, por meio de uma técnica ultrarrápida de raio laser, em 1999.