Lista: 10 canções sobre a luta e resistência do movimento negro

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Confira a lista que preparamos com 10 canções, de diferentes décadas e artistas, que falam sobre o movimento negro e sua luta

(Da esquerda para a direita) Nina Simone, Beyoncé, Majur, Pabllo Vittar e Emicida

Por: Isabela Alves

A música tem diversas funções importantes, que variam de acordo com seu estilo, contexto histórico e a pessoa que a está ouvindo. 

Uma dessas funções é contar histórias capazes de inspirar mudanças positivas no mundo, dando visibilidade a temas importantes para a construção de uma sociedade melhor.

Nesta lista, reunimos 10 canções, de diferentes momentos históricos e artistas, sobre o movimento negro e sua luta. 

1. Billie Holiday – Strange Fruit (1939)

Billie Holiday foi uma cantora e compositora estadunidense que se tornou uma lenda do jazz. Nascida em 7 de abril de 1915 na Pensilvânia (EUA), era filha do músico Clarence Holiday e de Saddy Fagan, que tinham, respectivamente, 15 e 13 anos quando Billie nasceu.

Ela foi criada por uma tia em Baltimore, mas aos 10 anos foi vítima de um estupro por um vizinho e foi encaminhada para uma instituição que cuidava de meninas vítimas de abuso. 

Aos 14 anos voltou a morar com a mãe, mas teve que começar a se prostituir para ter dinheiro. Ela foi detida e ou quatro meses na prisão. Aos 15 anos, conseguiu um emprego como cantora em um bar e em 1932 conseguiu gravar o seu primeiro disco nos estúdios da CBS.

Seu maior sucesso, ‘Strange Fruit’, conta os horrores dos linchamentos nos Estados Unidos, em especial após a repercussão do caso de Emmett Louis Till, que foi assassinado em 1955, aos 14 anos de idade, em Mississipi, após ter supostamente assobiado para uma mulher branca. 

A história de luta de Billie para cantar a canção em seus shows foi retratada no filme Estados Unidos vs. Billie Holiday (2021)

2. Nina Simone – Mississippi Goddam (1964)

Nina Simone foi uma das maiores pianistas, compositoras e cantoras de jazz, blues, soul e gospel. Nascida em 21 de fevereiro de 1933, na Carolina do Norte (EUA), começou a cantar aos 4 anos de idade através do seu contato com o piano da igreja que frequentava.

Por conta do incentivo da sua comunidade, ela se tornou uma das primeiras artistas negras a estudar na aclamada Escola Juilliard, em Nova York. 

Seu sonho era se tornar pianista clássica, mas seu pedido para uma bolsa de estudos no Curtis Institute foi negado.

Assim, ela começa a tocar piano em bares de Atlantic City. Seu talento chamou a atenção da gravadora Bethlehem Records, onde em 1957 ela assinou o seu primeiro contrato.

A música de Nina se tornou um símbolo da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Exemplos disso são as músicas Feeling Good, Don’t Let Me Misunderstood, Aint Got No – I Got Life, I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free e To Be Young, Gifted and Black.

A música Mississipi Goddamn, em especial, foi feita para retratar um atentado racista que bombardeou uma Igreja Batista no Alabama, matando quatro crianças negras, no dia 15 de setembro de 1963.

A vida da cantora foi retratada no documentário What Happened, Miss Simone? (2015).

3. Sam Cooke – A Change Gonna Come (1964)

Sam Cooke nasceu em 22 de janeiro de 1931, em Mississippi (EUA). Filho de um ministro da Igreja de Cristo, ele se mudou para Chicago em 1933 e aos seis anos começou a sua carreira de cantor, ao lado dos irmãos.

Por conta da sua originalidade, Cooke é considerado o pioneiro e um dos mais influentes artistas do Soul de todos os tempos. Uma das canções mais marcantes de Sam Cooke foi lançada dias depois da sua morte prematura aos 33 anos, em 11 de dezembro de 1964. 

Na música ‘A Change Is Gonna Come’, ele clama por mudanças em relação à violência policial que ocorria no país. Ele também relata as dificuldades da segregação e como era difícil sobreviver em um mundo tão hostil e violento. 

O documentário ReMastered: As Duas Mortes de Sam Cooke (2019) explica as circunstâncias e controvérsias em torno de seu assassinato.

4. Bob Marley – Redemption Song (1980)

Bob Marley é o mais conhecido músico de reggae e o responsável por levar o gênero musical ao mundo. Nascido em 6 de fevereiro de 1945 em Saint Ann, na Jamaica, ele acreditava que a música era uma importante ferramenta de transformação social.

O cantor acreditava que apenas através da emancipação intelectual o seu povo seria liberto. Suas músicas também falavam sobre esperança e descontentamento com as injustiças sociais. Exemplos disso são as canções Get Up, Stand Up, One Love e Buffalo Soldier

Apesar de ser conhecido como ‘O Xerife da Paz’, o cantor sofreu uma tentativa de assassinado por não ter se posicionado em relação à política jamaicana. O atentado ocorreu no dia 5 de dezembro durante um show gratuito na capital Kingston, em um evento chamado Smile Jamaica.

Bob Marley morreu em 11 de maio de 1981, aos 36 anos, vítima de um câncer de pele.

O documentário ReMastered: Who Shot the Sheriff? (2018) retrata o episódio do atentado contra o cantor. 

5. John Legend e Common – Glory (2014)

A canção ‘Glory’, escrita por John Legend, Common e Che Smith, retrata as manifestações que ocorreram nas Marchas de Selma a Montgomery, em 1965. A música foi tema do filme ‘Selma’ (2014), dirigido por Ava DuVernay.

O longa retrata a vida de Martin Luther King Jr. após ter recebido o prêmio Nobel da Paz, em 1964. Ele ou a exigir que os negros estadunidenses tivessem direito ao voto. Ao mesmo tempo, o ativista ou a ser alvo das investigações de J. Edgar Hoover, policial do FBI.

Após o episódio da morte de um jovem negro, as tensões aumentaram e eles decidiram enfrentar a violência das forças policiais locais em prol dos seus direitos. A canção recebeu o prêmio de Melhor Canção Original no Oscar e no Globo de Ouro de 2015. 

6. Beyoncé – Formation (2016)

‘Lemonade’, o sexto álbum de estúdio de Beyoncé, é considerado o melhor álbum lançado pela artista. Ele retrata a sua jornada através do autoconhecimento e cura. 

Após ter prestado uma homenagem ao movimento dos Panteras Negras durante a sua performance no SuperBowl de 2016, pessoas ao redor do mundo aram a questionar se a cantora era negra por ter a pele clara, e esse fato abriu um debate sobre identidade negra. 

Composto por 12 peças audiovisuais, o álbum visual compõe um filme com duração de 1 hora. Durante a obra, Beyoncé discute as vivências amorosas e a afetividade em relação às mulheres negras, representatividade e empoderamento.  

Com o álbum, ela era favorita para ganhar o prêmio de ‘Álbum do Ano’ no Grammy, mas a vencedora naquele ano foi a cantora Adele. Muitos acreditam que Beyoncé só perdeu por conta do racismo da premiação.

Em 2021, Beyoncé se tornou a artista mais premiada da história do Grammy Awards.

7. Childish Gambino – This Is America (2018)


Quando o clipe de ‘This Is America’ do rapper Donald Glover foi lançado, o mundo parou para assistir e procurar o significado da obra. Nas imagens, assistimos ao cantor sorrindo e dançando enquanto dispara armas de fogo contra pessoas negras. 

O clipe está repleto de simbologias, denunciando como a violência contra os corpos negros é enxergada de maneira naturalizada e isso se torna uma espécie de entretenimento. Também faz referência ao caso de um massacre em uma igreja de Charleston, em que um supremacista branco matou seis mulheres e três homens negros na Carolina do Sul, em 2015.

A música se tornou o primeiro rap a ganhar duas das principais categorias do Grammy nas categorias de Melhor Gravação e Canção.

8. Cynthia Erivo – Stand Up (2020)

‘Stand Up’ é a música tema do filme ‘Harriet’, que conta a história de Harriet Tubman, uma abolicionista que fugiu da escravidão e libertou ao longo da vida mais de 300 pessoas. 

Submetida ao trabalho escravo a partir dos 5 anos de idade, ela conseguiu fugir aos 30. Depois, ela dedicou o resto de sua vida ao resgate de escravizados nos Estados Unidos.

Na canção, é possível ver diversas referências a falas da ativista como “Vou levar meu povo comigo. Juntos vamos para um novo lar do outro lado do rio. Você pode ouvir a liberdade chamando?”.

A música foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original em 2020. 

9. H.E.R – I Can’t Breathe (2021)

A canção ‘I Can’t Breathe’ presta homenagem a George Floyd, Breonna Taylor e inúmeras outras vidas negras que foram perdidas por conta da brutalidade policial nos Estados Unidos. 

Na letra, H.E.R. fala sobre o genocídio da população negra, busca por justiça e também dá detalhes da operação policial que tirou a vida de Floyd.

As gravações do dia do seu assassinato mostram o homem dizendo repetidamente “I Can’t Breathe!” (“Não consigo respirar”) enquanto um policial colocou um joelho em seu pescoço durante oito minutos. 

Sua morte foi o motivo de uma onda de protestos globais do ‘Black Lives Matter’ (Vidas Negras Importam), que luta contra o racismo de instituições como a polícia.

A canção ganhou a categoria de Música do Ano no Grammy deste ano.

10. Emicida feat Majur e Pabllo Vittar – AmarElo (2019)

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro. Ano ado eu morri, mas esse ano eu não morro”. Com esses versos do cantor Belchior e com a participação das cantoras Majur e Pabllo Vittar, Emicida criou um hino de resistência. 

A música não apenas fala sobre dor, mas conta histórias de resistência, empoderamento e sonho. 

O título da música também dá nome ao documentário ‘AmarElo – É Tudo Para Ontem’, no qual Emicida mostra seu show realizado no Theatro Municipal de São Paulo.

De pano de fundo, é possível acompanhar a história de personagens negros importantes que fizeram história, mas foram invisibilizados, e a importãncia de ocupar espaços para mudar o futuro. 

Por conta da obra, Emicida se tornou o primeiro e único artista brasileiro a ser indicado ao Bet Awards nos Estados Unidos

 

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