Iniciativas sustentáveis são destaque de duas feiras em São Paulo
Por Sandra Porto
A Bienal do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, sedia, até sábado, 7 de junho, duas feiras sustentáveis internacionais: a de Produtos Orgânicos e Agroecologia (Bio Brazil Fair/ Biofach América Latina) e a de Alimentação Saudável, Produtos Naturais e Saúde (Naturaltech).
Muito mais que frutas, verduras e legumes livres de agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes sintéticos, no local estão expostos produtos industrializados, numa clara demonstração que o produtor orgânico brasileiro vem agregando valor ao produto in natura. Além disso, ele está transferindo para todo o ciclo produtivo práticas que preservam tanto a saúde do homem, com condições dignas de trabalho e respeito às suas relações sociais e culturais, como também a preservação e o uso do solo, da água e do ar de forma racional, para reduzir as formas de contaminação e desperdício destes recursos naturais.
As regras de mercado para a produção e comercialização deste tipo de produto foram definidas em 2010, com a obrigatoriedade do selo SISORG – Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, em todo produto orgânico brasileiro, exceto aqueles vendidos diretamente pelos agricultores familiares. A consequência imediata desta certificação foi o aumento do interesse de grandes empresas, especialmente multinacionais, que investem apenas em economias e atividades formalizadas.
O IPD – Instituto de Promoção do Desenvolvimento divulgou uma expectativa de faturamento na casa dos R$ 2 milhões para este ano, resultado que reflete o crescimento médio em torno de 30% ao ano. Os principais canais de distribuição dos orgânicos no país são as grandes redes de supermercados, as distribuidoras de produtos naturais, as feiras locais e regionais e o e-commerce.
O objetivo destes eventos, além de aproximar os produtores dos consumidores finais, é profissionalizar o setor e oferecer oportunidades de geração de negócios já que depois de organizados e produtivos o principal gargalo é a distribuição dos produtos para mercados mais amplos que os regionais.
No primeiro dia da feira, 4, a palestra no ‘Fórum de Alimentos Orgânicos’ sobre o sistema CSA (Communith ed Agriculture), Comunidade que Sustenta a Agricultura, criada no Japão na década de 1960, mostrou que a prática já acontece nas cidades de Botucatu, Bauru e Ourinhos, nos estados de São Paulo e Minas Gerais, desde 2010.
Esse sistema estabelece uma relação direta entre os consumidores e produtores sem a presença de distribuidores ou intermediários. A ideia é valorizar a produção e o consumo do local. Assim os produtos não precisam ser transportados por longas distâncias, o que traz redução dos custos e dos desperdícios no transporte, além de menor exposição do alimento à poluição.
Seu funcionamento é simples: o interessado se associa ao CSA por no mínimo 6 meses, paga antecipado a mensalidade (R$ 135) e semanalmente retira uma cesta de orgânicos num ponto de distribuição do Sistema. Essa relação direta assegura uma queda de 30% no preço final do produto. Hoje são comercializadas cestas com 7 itens (frutas, verduras e legumes) a R$ 90, ou com 14 itens a R$ 155.
Outra novidade apresentada na feira é o creme dental da marca Contente com 95% de ingredientes orgânicos e naturais, como os extratos de camomila, semente de uva ou chá branco. Os 5% de ingredientes sintéticos são para garantir a conservação do produto por dois anos.
A fórmula não inclui fluoreto de sódio, porque a ingestão excessiva da substância pode causar danos à saúde. O flúor é obtido naturalmente na água tratada ou mineral e no lugar dessa substância foi adicionado o xilitol, um ativo natural produzido industrialmente a partir de fontes renováveis como a casca de árvores. O xilitol mantém o pH da boca neutro, o que evita a desmineralização dos dentes, impede o acúmulo de placas e inibe o metabolismo de bactérias por ser um agente bacteriostático. O produto é livre de corantes, conservantes e de produtos de origem petroquímica. Detalhe importante: na fase de desenvolvimento não houve testes em animais e a embalagem é biodegradável. Segundo o gerente de marketing da empresa, Jonas Lima, o preço sugerido para venda é de R$ 17,50,‘isso garantirá às revendas uma margem de 50%’. Inicialmente, para posicionamento de marca, o produto poderá ser encontrado em canais verdes, lojas virtuais e em revendas veganas, porque é isento de derivados animais em sua composição.
A tradicional marca Korin lançou na feira três novos produtos: linha de cortes de carne bovina, pratos prontos, como frango assado sabores natural e churrasco, além da linguiça de frango. A empresa desde os anos 90 produz e distribui produtos naturais e orgânicos com garantia do bem-estar animal e frangos livres de antibióticos e ingredientes de origem animal na ração.
A feira tem uma área destinada à agricultura familiar e é neste espaço que se exibe de forma bem clara a máxima de que a ‘união faz a força’. A Central de Associações de Produtores Orgânicos, a ‘Orgânicos Sul de Minas’, reúne nove associações de produtores e uma cooperativa, todos da região. Álvaro guerreiro, estudante de Gestão Ambiental na Federal de Minas Gerais, produtor de hortaliças e Tesoureiro da entidade explica que ‘as associações não podiam comercializar seus produtos individualmente, então, criamos a Coafarn para a venda, além de nos credenciarmos no Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – OPAC, que atesta nossos processos produtivos tanto na qualidade, como na procedência de nossos produtos’.
Da Bahia, veio a experiência da Coopercuc – Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá. Desde 2004, os 250 cooperados, 65% mulheres, fazem a coleta e processamento do Umbú, uma fruta nativa da região, com safra entre os meses de dezembro e maio. Hoje os produtos são comercializados em cinco estados brasileiros, além das vendas chamadas Institucionais, para o governo, que distribui os produtos nas escolas da região para o reforço da merenda. Para Irene Silva, funcionária da cooperativa, o umbu na rede de ensino ‘ajuda a preservar as tradições culturais e de paladar das crianças’.
Do Norte, Rondônia, tem a experiência da Coocaram – Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua. Desde 1993, 306 agricultores familiares trabalham com o café sombreado e agroecológico na Amazônia. Esses trabalhadores cultivam 1.200 hectares, dos quais quatro mil são de floresta amazônica protegida. Além deste produto, também operam com guaraná em pó e castanha, esta última coletada pelos índios da nação Zoró. Hoje 30% das propriedades agroecológicas tem certificação da ECOCERT e todos os produtos estão em fase de certificação Fairtrade (FLO), um selo que garante a inserção no mercado internacional e que traz subjacente a ideia de comércio justo, com padrões sociais e ambientais equilibrados na cadeia produtiva.
Muitas novidades no segmento de cosmético com as marcas Bioart, que além de beleza, promove projetos sustentáveis e é a primeira maquiagem orgânica feita no Brasil, a Cativa Natureza e a marca alemã Alva. A parte de moda não ficou de fora e é possível, por exemplo, conhecer produções que têm como base o algodão.
Serviço:
Biofach e Natural Tech
Funcionamento – diariamente até sábado, das 11:00 às 19:00
Local – Parque do Ibirapuera, Pavilhão da Bienal, Portão 3, São Paulo, SP
Mais informações:
http://www.biofach-americalatina.com.br/en/index.php?pgid=home&mi=00100000000
http://www.naturaltech.com.br/2014/