Há 30 anos, resistência à vacinação levou à criação do ‘Zé Gotinha’

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Personagem surgiu na década de 1980 para inspirar segurança, mas hoje tem papel reduzido enquanto políticos questionam a vacinação

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil (esq.) | Tomaz Silva/Arquivo Agência Brasil (dir.)

Por: Mariana Lima

O personagem Zé Gotinha foi criado pelo artista plástico Darlan Rosa, de 73 anos, a pedido do Ministério da Saúde no final da década de 1980. A iniciativa contava com o apoio do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para reduzir a resistência da população as imunizações.

E funcionou. O personagem representava o símbolo do compromisso assumido pelo Brasil de erradicar a poliomielite até 1990 e ajudava a diminuir o medo das crianças, o que também inspirava a confiança dos pais e colaborava para elevar as taxas de vacinação.

Contudo, 36 anos depois, o personagem se tornou uma figura rara nas redes sociais do Ministério, tendo o seu papel reduzido.

Se antes o governo pensava em diferentes formas de aumentar a adesão à imunização e presidentes da República circulavam ao lado do Zé Gotinha em campanhas nacionais, atualmente o próprio Governo Federal levanta dúvidas sobre a segurança de vacinas, principalmente às relacionadas ao coronavírus.

Nas décadas de 1980 e 1990, a junção de um simpático personagem com uma vacina que não doía – pois era istrada via oral – trazia conforto. O nome ‘Zé Gotinha’ foi escolhido em concurso popular, mais um símbolo da conexão do Mistério da Saúde com a população.

Naquela época, a vacina era formulada com o vírus da pólio atenuado e protegia contra dois tipos do patógeno selvagem das três formas conhecidas.

Atualmente, a imunização é realizada com uma dose aos dois meses de idade, da forma trivalente (com o vírus inativado), e duas doses aos 15 meses e aos quatro anos com a vacina oral, bivalente.

Em 1989, a forma selvagem da poliomielite foi erradicada no Brasil, embora alguns casos tenham surgido ao longo da década de 1990.

As ações publicitárias com o Zé Gotinha também levaram a criação dos dias “D” de campanha de vacinação contra a poliomielite existentes até hoje, com a presença do ilustre convidado.

Em 2018, o criador do personagem Darlan Rosa, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo que, quando criou o personagem, houve resistência por parte do ministérios por aliar uma coisa tão séria como a vacinação com a fantasia.

A baixa adesão às campanhas e a queda na cobertura vacinal, observada nos últimas anos, refletem uma falsa sensação de segurança, uma vez que as principais doenças foram praticamente eliminadas com as vacinas.

A queda na cobertura vacinal podem trazer de volta doenças já controladas. Em 2019, a cobertura vacinal nacional da poliomielite chegou em 95%, mas a porcentagem da cobertura que cada estado ou município alcançou com a vacina foi de apenas 21%.

Fonte: Folha de São Paulo