Gastronomia sustentável: uma forte aliada do combate à insegurança alimentar no Brasil

Direitos Humanos
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Imagem: Adobe Stock

Por Luccio Oliveira

Sabemos que a insegurança alimentar é uma realidade que assola muitas famílias no Brasil. Apesar da melhora verificada nos últimos números, ainda são 9 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave e 21 milhões de pessoas em situação moderada, que são aqueles que não se alimentam o suficiente para ter uma vida saudável. Além disso, cerca de 14 milhões de pessoas am por insegurança alimentar leve, ou seja, comem mal.

Por outro lado, o nosso país, que é um dos maiores produtores de alimento do mundo, está entre os 10 maiores desperdiçadores de alimento ao nível global. Segundo dados do IBGE, 30% dos alimentos produzidos no país acabam sendo jogados fora. Além de deixar de alimentar quem a fome, esse índice também representa um desperdício financeiro de cerca de R$ 60 bilhões/ano.

Esse contraste, além de trazer consequências sociais gravíssimas, também é um grande problema ao meio ambiente. De acordo com levantamentos recentes, a perda e o desperdício de alimentos geraram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) e uma perda significativa de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo

Esse desperdício acontece em toda cadeia alimentar, desde o produtor até a mesa do consumidor. Mas então, como combater o desperdício? Uma das principais ferramentas é a gastronomia sustentável. Entre as práticas que podem tornar as nossas cozinhas em um poderoso canal contra o desperdício estão:

  • uso integral dos ingredientes (cascas, sementes, talos…);
  • respeito a sazonalidade (respeitar o tempo de cada alimento);
  • consumir de produtores locais;
  • compra consciente (evitando que os produtos estraguem);
  • substituição de proteína animal, por proteínas vegetais;
  • consumo consciente (energia, água…);
  • aumentar repertório gastronômico testando sua criatividade utilizando novos insumos e ingredientes;
  • evitar compras de ingredientes em embalagem de plástico ou materiais não recicláveis;
  • armazenar corretamente os ingredientes, aumentando a sua vida útil.

Viu como é simples? Por vezes, nós achamos que contribuir para a resolução de um problema global é algo impossível, mas podemos fazer a nossa parte nas nossas casas e no nosso entorno.

No Instituto Capim Santo, esses conceitos são levados adiante no curso “Cozinha do Amanhã”, no qual os alunos aprendem, entre outras práticas, como tornar o dia a dia da cozinha mais sustentável. Nas aulas adquirem conhecimento para preparar receitas simples, práticas e saborosas com talos, cascas, entre outras partes dos alimentos que seriam desperdiçadas. Ao longo de 14 anos, mais de 8.000 alunos foram formados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Itacaré (BA), Trancoso (BA) e Salvador (BA), e estão disseminando esses saberes para seus lares e comunidades.

Práticas simples podem trazer grandes avanços tanto no combate à insegurança alimentar quanto ao desperdício de alimentos.

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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Sobre o autor: Luccio Oliveira, Presidente do Instituto Capim Santo desde 2019. Original de Ilhéus – BA, onde se formou em istração de Empresas pela Universidade Estadual de Santa Cruz, teve seu primeiro contato com a gastronomia nos Estados Unidos, onde trabalhou em diversos cargos em redes de restaurantes. Como formação, é gestor de empresas na área de seguros e formou-se em gastronomia com extensão na Espanha.


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