FIFE 2020: Como a tecnologia pode ampliar o impacto social?
VoluntariadoPalestras da edição 2020 do FIFE discutiram como a tecnologia pode ser usada para gerar e aumentar o impacto social, e a necessidade de investir em programas de voluntariado

Por: Mariana Lima
A edição 2020 do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE) foi realizada no formato online devido à pandemia de Covid-19.
Mesmo com as limitações do espaço virtual, a programação conseguiu contemplar os maiores desafios para a gestão no Terceiro Setor, entre os dias 25 e 28 de agosto.
Entre esses desafios está o uso da tecnologia para gerar impacto social. Muitas organizações encontram obstáculos para utilizar recursos tecnológicos que possam auxiliar no desenvolvimento de projetos ou de estratégias de comunicação.
Durante a palestra ‘Tech for Good: como as novas tecnologias estão gerando impacto social’, Gabriel Nardelli, gerente de projetos de inovação no Atados, facilitador de Design Thinking e líder da Rede Tech for Good, abordou o papel dos dados neste cenário.
Ele utilizou o quadro que encontrou no Atados – plataforma social online que conecta pessoas às oportunidades de voluntariado em causas sociais – para exemplificar a questão. Em 2017, a organização percebeu que a base de dados sobre os mais de 9 mil voluntários não estava completa da forma que achavam.
“Eram apenas informações básicas que não diziam quase nada. Começamos a buscar os dados que precisávamos e a navegar por eles para entender. Nesta busca, notamos que muitas pessoas no setor social não estavam captando os dados de forma correta”, conta.
Neste caminho, firmaram parceria com a Fund. Ibi para criarem a Rede Tech For Good, uma rede para conectar ações e empresas interessadas no campo de tecnologia para impacto.
“A tecnologia de impacto social apresenta técnicas para desenvolver uma ou mais vidas humanas com potencial exponencial, de crescimento. Essas partes são capazes de gerar ou iniciar um movimento; promover e manter uma rede conectada; e já trabalham com dados de forma madura”, aponta.
Nardelli cita como exemplo o uso da tecnologia de impacto social Cataki, uma plataforma desenvolvida pelo Pimp my Carroça, movimento que atua para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade. Ao falar do Cataki, ele explica três conceitos.
O ‘Movimento’ é o porquê deste projeto engajar a sociedade, qual serviço ou troca ele propõe. No caso do Cataki, existe a promoção do contato direto com os catadores de material reciclável que atuam nas principais capitais do Brasil.
A questão da ‘Rede’ ocorre ao permitir o contato entre quem gera os materiais, os catadores e as usinas de reciclagem. Já os ‘Dados’ se referem à compilação e análise das formas de contato e região de atuação e o que os catadores recolhem.
“Tenho um contato mais próximo com a organização do Cataki, e no início eles não coletavam esses dados. Demorou para verem a importância, mas ainda hoje é um desafio manter esse controle. Ter esses dados permite que as ações sejam mais planejadas e o trabalho seja mais direcionado. Você consegue ver onde está falhando e o que está funcionando bem”, conta Nardelli.
O voluntariado como um agente de mudança
A tecnologia também pode se tornar uma aliada na prática do voluntariado dentro das organizações e empresas ao estar presente nos processos de formação ou como uma forma de atrair a ação voluntária.
O jornalista Roberto Ravagnani aproveitou os 50 minutos da palestra ‘Engajamento social: ferramenta de crescimento pessoal, profissional e social’ para tratar dessas questões.
Especialista em voluntariado e responsabilidade social empresarial, Ravagnani defende que a prática do trabalho voluntário desenvolve um profissional mais capacitado emocionalmente.
“O conhecimento técnico ocorre com a capacitação e os treinamentos. É mais fácil de dominar do que a questão emocional. O trabalhador que é voluntário se torna um colaborador mais preparado emocionalmente e essas competências são adquiridas de forma natural”.
Ravagnani reforça o papel de transformação que o trabalho voluntário pode exercer, uma vez que possibilita o desenvolvimento de diversas competências buscadas por empresas atualmente.
“Um colaborador com a prática do voluntariado potencializa o lado criativo no dia a dia. Ter Ele tem o hábito de resolver os problemas com uma variedade maior de recursos. Um voluntário que se engaje e se envolva é buscado pelas empresas e está cada vez mais difícil de se conseguir”.
A comunicação se torna fundamental neste processo, sendo essencial a realização de um trabalho transparente.
“Preciso de um voluntário para este dia, este horário e pra essa atividade. A comunicação clara atrai pessoas para a organização. É o aprender fazendo que gera um resultado bom para a sociedade”, aponta.
Apesar da visão popular de que basta se candidatar para o trabalho voluntário e já está dentro, Ravagnani defende que as organizações e empresas façam um processo de seleção.
“Faça a seleção e avaliação dos voluntários. É importante saber quem é essa pessoa e em que momento ela está. São vários os motivos que movem a busca pelo voluntariado. As motivações precisam estar de acordo com as da organização. Só assim o trabalho funciona”.
Mapear internamente o que se espera do trabalho voluntário e suas possíveis ampliações colabora para que os serviços funcionem sem frustração.
“Os dados são fundamentais. Ter um retorno dos voluntários que participam e de quem é impactado por esse trabalho permite a realização de melhorias e a prática de outras ações. É assim que se cresce. Mas ainda falta um desenvolvimento do RH para entender o voluntariado como um investimento”, aponta Ravagnani.
01/09/2020 @ 16:58
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