Ex-ministro dos Direitos Humanos avalia méritos de Ainda Estou Aqui
Direitos Humanos“O que esse filme conseguiu, pela genialidade artística do diretor, do roteirista e pelas interpretações icônicas, foi dialogar com crianças e com jovens” disse, Paulo Vannuchi, ex-ministro dos direitos humanos, sobre o filme Ainda estou aqui

Por Lucas Neves
O Olhar da Cidadania desta semana (27) recebeu o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, para falar sobre democracia e direitos humanos. No episódio, apresentado por Joel Scala, o convidado discutiu sobre a ditadura militar e o filme “Ainda estou aqui”, que retrata a história de Eunice Paiva, ativista pelos direitos humanos e um dos símbolos da luta contra o regime no Brasil.
Durante o programa, Vannuchi citou a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ao falar sobre a garantia dos direitos humanos do nosso país. Para o ex-ministro, as recomendações feitas pela CNV, em 2014, representavam uma tese que, atualmente, foi tragicamente comprovada. “Se esquecermos a violência toda praticada, não fizemos um processamento, não só jurídico, mas na sala de aula, no cinema, na cultura, na rádio, na TV, vai voltar [a ditadura militar]”.
Ele também alertou para a necessidade do Governo Lula retomar a contenção contra os “inimigos da democracia”, as quais foram enfraquecidas devido à ascensão de figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Ainda estou aqui
O jornalista e apresentador do programa, Joel Scala, trouxe o filme “Ainda estou aqui” para a discussão. A obra é sucesso mundial de bilheteria e concorrente em 3 categorias no OSCAR. Nesse sentido, Scala destacou a importância do longa-metragem brasileiro em provocar um olhar para as novas gerações sobre o significado da ditadura, principalmente no contexto atual de instabilidade democrática.
Além de concordar com a fala do jornalista, Vannuchi apontou os principais méritos da obra, dirigida por Walter Salles e protagonizada por Fernanda Torres. “O que esse filme conseguiu, e os outros não conseguiram, pela genialidade artísticas do diretor, do roteirista e pelas interpretações icônicas, é dialogar com crianças, dialogar com jovens”, afirmou o ex-ministro dos Direitos Humanos.
Ditadura e o luto
Como ocorre toda semana, o programa contou com a fala do Christian Dunker, psicanalista, professor titular da USP e colunista do Olhar da Cidadania. Em sua participação, Dunker foi questionado sobre a importância do luto, processo no qual milhares de familiares de vítimas da ditadura foram impedidos de viver.
A própria Eunice Paiva é um exemplo icônico da privação do luto. Retratada por Fernanda Torres em “Ainda estou aqui”, a ativista foi esposa do engenheiro civil e ex-deputado federal, Rubens Paiva, morto no começo de 1971 em um quartel militar, por suspeita de envolvimento com militantes contra o regime.
“Esse filme é muito interessante porque mostra como um luto infinito, um luto que está aberto, abre um sujeito para a partilha do seu luto com outros. Não é um acaso que a Eunice vai trabalhar com a emancipação e defesa dos povos-originários do país, que também sofrem um processo de massacre histórico, de extinção”, disse Dunker.
Sobre Paulo Vannuchi
Ele é membro fundador da Comissão Arns, foi Ministro de Estado Chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, de 2005 a 2010. Além disso, foi presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo e do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura no Brasil. Em 2013, foi eleito membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para o mandato 2014-2017.
Olhar da Cidadania
O Olhar da Cidadania é apresentado pelo jornalista Joel Scala e transmitido às quintas-feiras, às 13h30, pela Rádio USP, mas você pode escutar o programa completo aqui no portal do Observatório do Terceiro Setor. Para ouvir na rádio, basta sintonizar 93,7 FM, em São Paulo, ou 107,9 FM, em Ribeirão Preto.