Estudo identifica agrotóxicos na água da chuva em SP
Direitos HumanosOs agrotóxicos foram tema do programa Brasil ODS no dia 15 de maio; entre as entrevistadas, o programa recebeu Cassiana Montagner, coordenadora do estudo que identificou 14 pesticidas e cinco compostos derivados nas chuvas de 3 cidades paulistas

Por Lucas Neves
O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no planeta. Um levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), mostrou que o país já utiliza mais agrotóxicos em lavouras do que os Estados Unidos e a China juntos. A aplicação desses pesticidas pode trazer riscos à saúde humana, aos animais e ao meio ambiente, especialmente quando usados de forma excessiva e inadequada.
No dia 15 de maio, o programa do Observatório do Terceiro Setor, Brasil ODS, recebeu especialistas para debater questões relacionadas à utilização de agrotóxicos. Entre as entrevistadas estava Cassiana Montagner, professora e pesquisadora do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-UNICAMP).
Cassiana coordenou uma pesquisa que detectou agrotóxicos na chuva em três cidades paulistas, Brotas, Campinas e a capital do estado, São Paulo. Com amostras coletadas nesses municípios ao longo de 36 meses, a análise indicou presença de 14 pesticidas e cinco compostos derivados, com destaque para o herbicida atrazina e o fungicida carbendazim, proibido no país.
Durante o programa, Cassiana afirmou que a preocupação do estudo era entender até onde a contaminação se espalha e quais os níveis que elas estão associadas. Nesse sentido, a pesquisadora comentou a surpresa com o resultado obtido, uma vez que os níveis de agrotóxico encontrado nas chuvas dessas cidades são quase os mesmos dos rios e lagos, o que não era esperado.
“Isso preocupa porque, nos rios e lagos, esses níveis já causam efeitos crônicos na biota aquática”, alertou. Segundo ela, isso pode levantar um alerta para serem realizados outros estudos que associam a ocorrência de agrotóxico na chuva aos impactos diretos na saúde humana, embora o tipo de exposição seja diferente.
O Brasil ODS também recebeu Lia Giraldo Da Silva Augusto, médica pediatra, sanitarista e pesquisadora titular da FIOCRUZ em saúde ambiental. Entre os assuntos abordados, a médica falou sobre os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana, destacando que eles podem ser graves.
A saúde reprodutiva é uma das questões afetadas pelo consumo excessivo desses produtos. “São efeitos sobre o desenvolvimento fetal, efeitos cancerígenos, desregulação endócrina, infertilidade, problemas na concepção, alterações no espermatozoide, prematuridade e presença do agrotóxico até no leite materno”, listou a doutora.
Clique aqui para conferir o programa na íntegra!
Além dos convidados, o Brasil ODS recebeu os colunistas Paulo Almeida e Nina Orlow, ambos especialistas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Este programa colabora com o 3 (Saúde e Bem-Estar) e 12 (Consumo e Produção Responsáveis).
O Brasil ODS é uma produção do Observatório do Terceiro Setor (OTS), apresentado por Joel Scala e Gabriela Chabbouh, que conta com o apoio da Fapesp — Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Ele vai ao ar às quintas-feiras no portal do OTS.